quinta-feira, 9 de julho de 2009
08:02:00
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Reflexos do meu ser
Embora o começo de todos os relacionamentos afetivos seja regado a muita sedução, sonhos e desejos, infelizmente com o tempo, o envolvimento emocional pode levar à dependência, rotina e desgaste.
Uma pessoa pode se tornar dependente de comida, drogas, álcool, jogos, trabalho, filhos ou amigos.
Mas é na relação a dois que com mais freqüência a dependência se torna destrutiva, podendo sem dúvida, tornar-se doentia e simbiótica, impedindo o crescimento e a troca entre o casal.
A dependência geralmente acontece quando um ou os dois já tiveram experiências durante a vida de abandono, rejeição, levando-os a temerem passar novamente por isso.
Cria-se a dependência, como uma forma desesperadora e fantasiosa de impedir que aconteça de novo.
Mesmo quando a realidade mostra uma relação transformando a vida em um pesadelo, muitos acreditam ainda que estão sonhando, pois é difícil acordar.
A pessoa ao sentir-se incapaz de mudar sua vida, se acomoda.
Geralmente a dependência psicológica acontece por necessidades inconscientes nem sempre identificadas.
Além disso, ela propicia gratificações secundárias, como a sensação de segurança.
É como se a pessoa respirasse através do outro, como se o outro fosse o responsável pela manutenção da sua vida e do ar que respira.
Talvez por causa dessas gratificações, muitos sentem dificuldade para se libertarem, ainda que a relação esteja totalmente destrutiva.
Os dependentes deixam que desvalorizem tudo que lhes é mais caro: seus sentimentos.
Perdem completamente o valor ao se permitirem que o outro jogue no "lixo" seu eu mais verdadeiro, desprezando tudo que dizem, sentem, fazem, pois nada que é seu é valorizado, ao contrário, tudo é motivo de crítica, fazendo-os acreditarem serem incapazes.
O que não é verdade!
Em geral, essas pessoas tornam-se tristes, depressivas, enclausuradas em seus quartos escuros, podendo ficar assim durante anos, até o momento em que não suportam mais e explodem. Algumas também implodem, ou seja, somatizam e adoecem gravemente.
Depois de externalizarem toda raiva contida, e conseguem retomar de alguma forma sua saúde mental, podem perceber as contradições no outro e em si mesmo, tomando consciência de quanto eram sufocadas sob os valores e interesses de terceiros.
Retomando essa consciência, que pode ser adquirida através do processo de psicoterapia ou mesmo da profundidade da dor, começam a perceber seus próprios valores, seus desejos, vontades e sentimentos, resgatando assim com sua saúde mental, a auto-estima e o amor-próprio.
Neste momento percebem que são capazes de ouvirem suas próprias vozes e não mais os gritos que as ensurdeciam e as palavras que as dilaceravam, percebem que suas vozes podem voltar a se tornarem novamente doces, suaves, como uma melodia gostosa de se ouvir.
Conseguem assumir a responsabilidade pela própria vida, não mais colocando a sua vida na mão de quem quer que seja, mas na única pessoa em quem pode confiar: em si mesma.
Claro que tudo isso exige muitas lutas internas, rever um passado que machucou muito, mas que se não for identificado e elaborado, continuará machucando através das repetições de padrões antigos e na manutenção de relações destrutivas.
Para romper esse círculo vicioso é preciso identificar as necessidades que não foram supridas durante a vida, principalmente na infância, entender que por mais que tenha machucado, já passou e desprender-se da ânsia, inconsciente é claro, de compensar perdas e rejeições passadas por meio de um relacionamento dependente como garantia de não mais ser abandonada.
E ao conseguir se libertar de um relacionamento doente, cure cada uma das feridas existentes e não se entregue imediatamente a um novo relacionamento, pois será grande o risco de transferir os comportamentos viciados se ainda não forem identificados, podendo comprometer mais um relacionamento.
Muitos ainda dedicam suas vidas à procura da sua cara metade.
Sem dúvida, seriam mais felizes se permitissem a si mesmos serem seres inteiros, capazes de aceitar e conviver com outro ser inteiro e não descobrirem depois de muito sofrimento, que a relação se manteve porque na verdade havia duas pessoas doentes e excessivamente carentes de amor.
Quando um ser inteiro encontra-se com outro ser inteiro, tornam-se duas pessoas predispostas ao crescimento, a troca, a uma relação de paz e harmonia e não de brigas e desentendimentos.
Quando se inicia esse processo de libertação é natural sentir-se triste e em alguns momentos duvidar se conseguirá, mas conforme as coisas forem acontecendo e for sentindo um certo alívio por poder fazer as pequenas escolhas do dia a dia, não ouvir mais críticas, nem cobranças, nem sentir-se mais culpada pelo que fez e não fez, o alívio virá com certeza e te dará a certeza que mais importante que viver um grande amor é viver em paz consigo mesma!
(Rosemeire Zago)
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