segunda-feira, 31 de maio de 2010


“Liberdade não vem de correr atrás de ‘deveres’ impostos de fora, mas de construir a nossa existência”
Comecei a escrever um novo livro, sobre os mitos e mentiras que nossa cultura expõe em prateleiras enfeitadas, para que a gente enfie esse material na cabeça e, pior, na alma – como se fosse algodão-doce colorido.
Com ele chegam os medos que tudo isso nos inspira: medo de não estar bem enquadrados, medo de não ser valorizados pela turma, medo de não ser suficientemente ricos, magros, musculosos, de não participar da melhor balada, do clube mais chique, de não ter feito a viagem certa nem possuir a tecnologia de ponta no celular.
Medo de não ser livres.
Na verdade, estamos presos numa rede de falsas liberdades.
Nunca se falou tanto em liberdade, e poucas vezes fomos tão pressionados por exigências absurdas, que constituem o que chamo a síndrome do “ter de”.
Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, e as opções são tantas que não conseguimos escolher com calma.
Medicados como somos (a pressão, a gordura, a fadiga, a insônia, o sono, a depressão e a euforia, a solidão e o medo tratados a remédio), cedo recorremos a expedientes, porque nossa libido, quimicamente cerceada, falha, e a alegria, de tanta tensão, nos escapa.
Preenchem-se fendas e falhas, manchas se removem, suspendem-se prazeres como sendo risco e extravagância, e nos ligamos no espelho: alguém por aí é mais eficiente, moderno, valorizado e belo que eu? Alguém mora num condomínio melhor que o meu?
Em fileira ao longo das paredes temos de parecer todos iguais nessa dança de enganos.
Sobretudo, sempre jovens.
Nunca se pôde viver tanto tempo e com tão boa qualidade, mas no atual endeusamento da juventude, como se só jovens merecessem amor, vitórias e sucesso, carregamos mais um ônus pesadíssimo e cruel: temos de enganar o tempo, temos de aparentar 15 anos se temos 30, 40 anos se temos 60, e 50 se temos 80 anos de idade.
A deusa juventude traz vantagens, mas eu não a quereria para sempre: talvez nela sejamos mais bonitos, quem sabe mais cheios de planos e possibilidades, mas sabemos discernir as coisas que divisamos, podemos optar com a mínima segurança, conseguimos olhar, analisar e curtir – ou nos falta o que vem depois: maturidade?
Parece que do começo ao fim passamos a vida sendo cobrados:
O que você vai ser?
O que vai estudar? Como?
Fracassou em mais um vestibular?
Já transou? Nunca transou?
Treze anos e ainda não ficou?
E ainda não bebeu?
Nem experimentou uma maconhazinha sequer?
E um Viagra para melhorar ainda mais?
Ainda aguenta os chatos dos pais?
Saiba que eles o controlam sob o pretexto de que o amam.
Sai dessa! Já precisa trabalhar?
Que chatice!
E depois:
Quarenta anos ganhando tão pouco e trabalhando tanto?
E não tem aquele carro?
Nunca esteve naquele resort?
Talvez a gente possa escapar dessas cobranças sendo mais natural, cumprindo deveres reais, curtindo a vida sem se atordoar.
Nadar contra toda essa louca correnteza.
Ter opiniões próprias, amadurecer, ajuda.
Combater a ânsia por coisas que nem queremos, ignorar ofertas no fundo desinteressantes, como roupas ridículas e viagens sem graça, isso ajuda.
Descobrir o que queremos e podemos é um bom aprendizado, mas leva algum tempo: não é preciso escalar o Himalaia social nem ser uma linda mulher nem um homem poderoso.
É possível estar contente e ter projetos bem depois dos 40 anos, sem um iate, físico perfeito e grande fortuna.
Sem cumprir tantas obrigações fúteis e inúteis, como nos ordenam os mitos e mentiras de uma sociedade insegura, desorientada, em crise.
Liberdade não vem de correr atrás de “deveres” impostos de fora, mas de construir a nossa existência, para a qual, com todo esse esforço e desgaste, sobra tão pouco tempo.
Não temos de correr angustiados atrás de modelos que nada têm a ver conosco, máscaras, ilusões e melancolia para aguentar a vida, sem liberdade para descobrir o que a gente gostaria mesmo de ter feito.
 
Lya Luft


"Muito do que gastamos (e nos desgastamos) nesse consumismo feroz podia ser negociado com a gente mesmo: uma hora de alegria em troca daquele sapato.
Uma tarde de amor em troca da prestação do carro do ano; um fim de semana em família em lugar daquele trabalho extra que está me matando e ainda por cima detesto.
Não sei se sou otimista demais, ou fora da realidade.
Mas, à medida que fui gostando mais do meu jeans, camiseta e mocassins, me agitando menos, querendo ter menos, fui ficando mais tranqüila e mais divertida.
Sapato e roupa simbolizam bem mais do que isso que são: representam uma escolha de vida, uma postura interior.
Nunca fui modelo de nada, graças a Deus.
Mas amadurecer me obrigou a fazer muita faxina nos armários da alma e na bolsa também.
Resistir a certas tentações é burrice; mas fugir de outras pode ser crescimento, e muito mais alegria.
Cada um que examine o baú de suas prioridades, e faça a arrumação que quiser ou puder.
Que seja para aliviar a vida, o coração e o pensamento - não para inventar de acumular ali mais alguns compromissos estéreis e mortais."

Lya Luft
sábado, 29 de maio de 2010


“Deixe a vida me levar”, embalados pelo ritmo contagiante desta letra de música, destes versos, nós repetimos e repetimos este slogan e, animados, passamos quase a acreditar que ele nos faz descobrir o segredo do viver bem.
Só que, de repente, paramos para meditar sobre o conte do refrão e ... levamos um grande susto.
Qualquer um de nós reconhece que a vida tem surpresas que, independente de planos; aparecem em um contexto inexplicavelmente bom ou ruim, mas ... daí a deixar a vida nos levar, é demais!
Existem pessoas assim, eu mesma conheço muitas que deixam a vida levá-las; no entanto, particularmente, acredito que sou eu quem deve levar a vida!
Claro, na medida das minhas certezas e com a minha impotência.
Posso assegurar que os chavões são maravilhosos; eles nos encantam nos seduzem, fazem lembrar liberdade!
E quem não quer a tal liberdade?
Além do mais, confessemos a nós mesmos, a vida significa perdas e ganhos, frustrações, alegrias, compromisso, ética, moral, valores, realizações e sonhos ... e, nestes pequenos, porém intensos sentidos que compõem a vida, não podemos ser tão irresponsáveis a ponto de deixar que a vida nos leve.
Para que se tenha um viver integro, intenso e verdadeiro, temos SEMPRE que reorganizar nossos valores. Isto sim é viver intensa e inteligentemente!
Pensando bem, talvez esteja mesmo na hora de a gente revisar, reavaliar e reorganizar...
Melhor ainda, melhor reavaliá-los todos os dias e nada de se eximir de nossas responsabilidades.

Walnei Arenque


Nós seres humanos normais, sempre que nos deparamos com a necessidade de uma mudança na vida , sempre estamos resistentes e, caso você entenda, “ausentes”.
Sim, ausentes.
Nós temos a pretensão de ficarmos ausentes na tentativa de rever nossas coisinhas.
Ausentes porque negamos a necessidade urgente....
Acontece que a vida nos prega as maiores peças, por isso ela é maravilhosa.
Quando a necessidade de mudança aparece, não adianta, o melhor a fazer é refletir, elaborar, verificar. Empurrar com a barriga é que não vai adiantar...
Quando a mudança esta na ordem da afetividade, aí sim, nos sentimos pegos.
Porque será que insistimos tanto num relacionamento que esta pra lá de deteriorado?
Acredito que ficamos reféns das nossas falsas esperanças, sempre acreditando que algo vai mudar, algo vai acontecer.
Ilusão.
O que é é!
Um relacionamento falido não vai mudar assim, magicamente.
Não se engane.
Isso mesmo, não se engane, não fique ausente para você mesmo.
Tudo se torna mais simples quando não ficamos débeis.
Ouço muitas reclamações a respeito do companheiro, porque o companheiro isso, o companheiro aquilo. Mas você mesmo fazer uma mudança de vida, nada.
As mudanças são necessárias, são na verdade NOSSA SALVAÇÃO!
Não tenha medo, não paralise.
Não fique ausente na sua vida!

Walnei Arenque


Avareza vem do latim avere.
Segundo o dicionário Aurélio, avareza significa excessivo e sórdido apego ao dinheiro; falta de generosidade e mesquinhez.
Claro que para não perder o habito e para melhor compreensão vamos aos sinônimos: mesquinho, mão de vaca, sovino, unha de fome, fominha, muquirana e, por aí vai...
Agora por sórdido entende-se quem denota o emprego de meios degradantes e baixos para alcançar um fim.
Compondo um dos sete pecados capitais, é o medo de perder algo que possui.
Uma pessoa avarenta tem dificuldade de abrir mão do que tem mesmo que receba algo em troca, é incrivel mas na literarura fala-se muito na avareza do dinheiro.
O ser humano comum respeita o dinheiro, claro, afinal precisamos dele para benefícios no viver, precisamos fazer nossas economias para momentos de aperto, nossas parcas poupanças, Já aqui eu estou falando de pessoas que querem ser as mais ricas do cemitério e, para tal, passam por privações na ordem de primeiras necessidades, às vezes de um pequeno prazer, tudo em função de um tostão a mais nos seus guardados. Sim, o avarento tem “guardados”, “esconderijos”.
Moliére descreveu isso maravilhosamente no “O avarento”.
Além do dinheiro vou falar um pouco do avaro a outras situações, vamos lá!
Vejo muito avaros de carinho, de respeiro, de amor, de solidariedade, de um mísero beijo, um mísero bom dia, uma palavra que o outro necessita, etc e tal.
Lembrando que o avaro tem cuidado com seus pertences, todos eles.
Ele escolhe o seu preferido e segue avarento nele, como coloquei não só de dinheiro mas de outras coisas mais.
Normalmente as pessoas avarentas preferem abrir mão do que tem menos valor para ele, sempre tenta, ou melhor preserva, guarda, esconde o que é mais valioso para si.
Perder algo pode ser o maior de seus tormentos e,seu tormento reina no verbo “DAR”, seu pior castigo seria usufruir do objeto de apego.
Lembra?Quantas pessoas voce conhece com esse perfil?
Claro que a resposta será: - ah tem meu amigo tal meu familiar tal .. sim, lembrarás de varios.
Nao esqueceu ninguem?
Voce já parou para pensar em como voce é, como se comporta?
Vou colocar algumas dicas para você dar uma olhada e, olhar para você:

- SUBJUGAR COISAS E PESSOAS - aqui nesta parte, sempre lembro que sempre achamos caro o trabalho do outro, sempre.
Olha um exemplo que eu acho clássico, não damos conta da faxina PESADA e para tal contratamos uma pessoa para isso e na hora de pagar, estamos sempre achando caro, um absurdo, mendigamos tostões para uma pessoa que esta fazendo um serviço que nos não damos conta de fazer, não fica meio esquisito?

- NADA A OFERECER, aqui podemos pensar nas palavras e ações que no dia a dia não nos custa nada, aqui podemos pensar em pequenas atitudes que poderia fazer a vida de outra pessoa mais feliz, nem que fosse por pouco tempo.
Um elogio, um agrado, um “não esqueci de você”, alguma coisa assim, fácil, simples assim.


- NADA A PERDER- habito que parece que adquirimos com a nossa cultura, já estamos desde pequenos sendo criados para ser o VENCEDOR, o que tudo ganha, o que tudo Poe para dentro, acho que por isso estamos com tantos problemas de “intestino irritadiço” na fala popular, intestino preso.
Pensa que não?
Sim o nosso corpo reage como nos somos, não podemos perder nada ...


- NADA A DAR, aqui podemos pensar em “tudo para mim”, um exemplo: meu armário repleto e roupas que não uso e não consigo dar nada, guardo tudo para mim... Mais uma coisa que lembrei, não vou DAR nada que você mereça, a não ser meu mau humor, meu egoísmo ou tudo que desprezo em mim mesma.

Gente, isso me parece tão comum nos dias de hoje, me faz recordar tantas patologias, mas claro, você não participa de nada disso, apenas os vizinhos, o outro.
Estamos na era do “EXCESSO DE EU E FALTA DE NÓS”
Sua vida esta nesta composição?
Se sim, esta na hora de rever seus valores...
Lembre-se: tanto o dinheiro e seus derivados, como a eletricidade, tanto ilumina, como mata.
Será que estou eu matando muitas situações?

Walnei Arenque
quarta-feira, 26 de maio de 2010


O fim de um caso de amor, seja qual for sua intensidade, quase sempre provoca importantes mudanças na vida de quem amou.
Mas é claro que a extensão das conseqüências varia de acordo com as características de cada relacionamento.
A infidelidade acidental - aquele tipo de relação extraconjugal passageira, com pouco envolvimento emocional - geralmente acaba sem uma sensação real de perda, com pouca ou nenhuma demonstração de dor.
Na verdade, como os sentimentos estavam pouco mobilizados, não há o que demonstrar.
"Era apenas uma ligação física; quando acabou, senti até um certo alívio, não tive nem vontade de telefonar..."
Diante de situações desse tipo, que são bastante comuns, fico pensando como é possível duas pessoas utilizarem os gestos do amor durante um tempo longo ou curto e ainda assim não experimentarem nenhum sofrimento, nenhuma tristeza quando se separam.
Difícil de compreender?
Não, se lembrarmos que nem sempre atração sexual e amor caminham juntos.
Relações em que o amor está ausente ou participa em proporção muito baixa costumam terminar sem grande comoção ou desespero.
Quando isso acontece, sentimentos de alívio e semi-tristeza se misturam no coração de cada um dos parceiros, mas não em idênticas proporções.
O que estava menos ligado provavelmente se sentirá mais aliviado, enquanto o que se mostrava mais envolvido ficará mais magoado.
Dessa forma, o último adeus não é seguido de um período de dor, de tristeza, como nos rompimentos em que o amor está presente.
Aqui pode ocorrer uma simulação de sofrimento, às vezes nem isso.
Após a separação,os amantes experimentam sensações as mais variadas,que vão da incredulidade ("Como eu pude entrar nessa"?) ao alívio ("Ainda bem que consegui escapar"), passando pela mais completa indiferença ("Afinal, ela nunca significou nada para mim").
Affairs casuais, que não se desenvolvem depois de consumados, oferecem poucas recompensas, além do prazer sexual.
E esse, apesar de muito intenso, geralmente não é suficiente para manter a relação.
A sensação de aventura, o desafio da primeira vez, o orgulho da conquista, tudo pode se apagar rapidamente.
Quando entre duas pessoas não resta nada além da atração física, a tendência é que a ligação não resista ao tempo.
Já no caso da infidelidade crônica, aquela que envolve a traição como um comportamento permanente, não existe impasse emocional.
Os conquistadores ou caçadores profissionais são infiéis o tempo todo sem se sentir culpados ou arrependidos.
Seja qual for a estratégia adotada, eles quase sempre consideram a infidelidade uma atividade legítima (só para eles mesmos, naturalmente) e a transformam num estilo de vida.
Em geral, não pensam em abandonar a mulher e os filhos e muito menos em deixar de trair.
Praticamente nunca tomam a iniciativa da separação e só descasam quando a parceira resolve romper uma situação insustentável.
Com aqueles que são infiéis casualmente, às vezes a história toma outro rumo.
Após anos de relacionamentos que não chegam a abalar, o que vinha traindo vê despertar em si outra necessidade.
Descobre uma nova capacidade de amar e começa a procurar um relacionamento mais comprometido, mais íntimo, ou seja, definitivo.

Maria Helena Matarazzo

Quando perguntamos para uma criança:
 "Você me ama?", ela não se limita a dizer que sim.
Abre os braços e mostra: "Esse tanto".
Para ela, o amor tem um tamanho palpável.
Mais tarde, tentamos demonstrar de muitas e muitas maneiras quanto é "esse tanto".
A psicanálise nos ensina que aqueles que foram bem amados na infância ao crescer tentam encontrar um companheiro para recriar o paraíso perdido, o mundo perfeito da infância, enquanto os que sofreram privação, que não foram desejados nem queridos, buscam alguém para compensar esse vazio.
Assim, vamos pela vida querendo amar para copiar, recuperar o que tivemos ou para compensar o que nunca nos foi dado.
Em qualquer um dos casos, sentimos medo: medo de abrir o coração, porque nos expomos ficamos vulneráveis ao risco da desilusão, da rejeição.
É assustador amar:
Ás vezes, um homem diz: "Que desgraça, acho que me apaixonei!"
Isso porque se apaixonar pode parecer uma sucessão de quedas livres, como pular de um avião em pleno vôo ...
A sensação é única, entretanto, o risco é imenso.
O escritor irlandês Oscar Wilde disse que certas tentações são tão grandes que é preciso muita coragem para ceder a elas.
Mas todos sabemos que, na vida, se aprende mais com dez dias de agonia do que com dez anos de felicidade.
Quando amamos, sentimos um prazer exuberante, equivalente ao de um homem dirigindo um carro novo, fascinado com seus poderes recém - adquiridos. Entretanto, parece que existem três fases, três etapas, no processo de conquista do outro.
A primeira - a do deslumbramento - dura um dia, um mês, dois meses - se for verão.
Desde mais cedo na nossa vida, a excitação se mistura com a superação de obstáculos.
Então, à medida que nos desenvolvemos, vamos criando nosso mapa interno de excitação.
Neste mapa estão os riscos que enfrentamos, nossos conflitos, nossas lutas pessoais.
Superar as barreiras é, portanto, o teste da nossa força e também da força da atração que estamos sentindo pelo outro.
Já a segunda fase da conquista pode ser tão curta quanto um telefonema, dependendo dos nossos medos, das nossas dúvidas, ou tão longa quanto forem nossos desejos, nossa fome, nossos sonhos eróticos, e durar muito tempo.
Essa segunda fase pode ter um sabor salgado, incrivelmente doce ou doce - amargo.
Mas a terceira e última fase, bem, esta nunca sabemos se vamos atingi-la ou não.
Por isso sentimos aquele tipo de medo estranho chamado coragem.
Nela, rapidamente (ou lentamente), cada um vai mostrando seu jogo, pondo as cartas sobre a mesa, pensando: "Eu sinto; eu quero; eu posso".
Os dois vão-se abrindo, revelando seus sentimentos, seus pensamentos, e a fronteira entre o permitido e o proibido começa a se dissolver.
Mergulha-se no jogo do vai e vém, das trocas, do sexo variado, às vezes, simplesmente guloso, outras vezes, gourmet.
Começa agora, de fato, a descoberta de outro.
Quando amamos de verdade, amamos porque o outro é isto, isso e aquilo e apesar de o outro não ser nem isto, nem isso, nem aquilo.
É nessa fase que se quebra a barreira entre a fantasia e a realidade.
Então, quando a pessoa se percebe sendo correspondida, aceita e amada por aquilo que ela é, o nível de intimidade vai-se aprofundando e acontece a entrega.
Mas esta entrega não é fácil!.
É preciso muita coragem para viver as incertezas do amor.
Por outro lado, é preciso enfrentar o medo, as dificuldades, porque são elas que nos forçam a prestar atenção em nós mesmos e a luta pelos nossos sonhos.
O que buscamos na vida não é passar somente de raspão pelo amor.
O que todos nós queremos é criar uma relação emocional em cadeia, para poder ir abrindo os braços, mais e mais, até chegar "nesse tanto".
 
Maria Helena Matarazzo

“A alma do outro é uma floresta escura”, disse o poeta Rainer Maria Rilke, meu único autor de cabeceira.
A vida vai nos ensinando quanto isso é verdade.
Pais e filhos, irmãos, amigos e amantes podem conviver décadas a fio, podem ter uma relação intensa, podem se divertir juntos e sofrer juntos, ter gostos parecidos ou complementares, ser interessantes uns para os outros, superar grandes conflitos – mas persiste o lado avesso, o atrás da máscara, que nunca se expõe nem se dissipa.
Nem todos os mal-entendidos, mágoas e brigas se dão porque somos maus, mas por problemas de comunicação.
Porque até a morte nos conheceremos pouco, porque não sabemos como agir.
Se nem sei direito quem sou, como conhecer melhor o outro, meu pai, meu filho, meu parceiro, meu amigo – e como agir direito?
Neste momento escrevo, como já disse, um livro sobre o silêncio.
Começou como um ensaio na linha de O Rio do Meio e Perdas & Ganhos, mas acabou se tornando um romance, em pleno processo de elaboração.
Isso me faz refletir mais agudamente sobre a questão da comunicação e sua por vezes dramática dificuldade, pois nos mal-entendidos reside muito sofrimento desnecessário.
Amor e amizade transitam entre esses dois “eus” que se relacionam em harmonia e conflito: afeto, generosidade, atenção, cuidados, desejo de partilhamento ou de vida em comum, vontade de fazer e ser um bem, e de obter do outro o que para a gente é um bem, o complicado respeito ao espaço do outro, formam um campo de batalha e uma ponte.
Pontes podem ser precárias, estradas têm buracos, caminhos escondem armadilhas inconscientes que preparamos para nossos próprios passos em direção do outro.
O que está mergulhado no inconsciente é nosso maior tesouro e o mais insidioso perigo.
Pensar sobre a incomunicabilidade ou esse espaço dela em todos os relacionamentos significa pensar no silêncio: a palavra que devia ter sido pronunciada, mas ficou fechada na garganta e era hora de falar; o silêncio que não foi erguido no momento exato – e era o momento de calar.
Mas, como escrevi várias vezes, a gente não sabia.
É a incomunicabilidade, não por maldade ou jogo de poder, mas por alienação ou simples impossibilidade. Anos depois poderá vir a cobrança: por que naquela hora você não disse isso?
Ou: por que naquele momento você disse aquilo?
Relacionar-se é uma aventura, fonte de alegria e risco de desgosto.
Na relação defrontam-se personalidades, dialogam neuroses, esgrimem sonhos e reina o desejo de manipular disfarçado de delicadeza, necessidade ou até carinho.
Difícil?
Difícil sem dúvida, mas sem essa viagem emocional a existência é um deserto sem miragens.
No relacionamento amoroso, familiar ou amigo acredito que partilhar a vida com alguém que valha a pena é enriquecê-la; permanecer numa relação desgastada é suicídio emocional, é desperdício de vida.
Entre fixar e romper, o conflito e o medo do erro.
Somos todos pobres humanos, somos todos frágeis e aflitos, todos precisamos amar e ser amados, mas às vezes laços inconscientes enredam nossos passos e fecham nosso coração.
A balança tem de ser acionada: prevalecem conflitos ásperos e a hostilidade, ou a ternura e aqueles conflitos que ajudam a crescer e amar melhor, a se conhecer melhor e melhor enxergar o outro?
O olhar precisa ser atento: mais coisas negativas ou mais gestos positivos?
Mais alegria ou mais sofrimento?
Mais esperança ou mais resignação?
Cabe a cada um de nós decidir, e isso exige auto-exame, avaliação.
Posso dizer que sempre vale a pena, sobretudo vale a pena apostar quando ainda existe afeto e interesse, quando o outro continua sendo um desafio em lugar de um tédio, e quando, entre pais e filhos, irmãos, amigos ou amantes, continua a disposição de descobrir mais e melhor quem é esse outro, o que deseja, de que precisa, o que pode – o que lhe é possível fazer.
Em certas fases, é preciso matar a cada dia um leão; em outras, estamos num oásis.
Não há receitas a não ser abertura, sinceridade, humildade que não é rebaixamento.
Além do amor, naturalmente, mas esse às vezes é um luxo, como a alegria, que poucos se permitem.
Seja como for, com alguma sorte e boa vontade a alma do outro pode também ser a doce fonte da vida.

(Lya Luft)

O amor é uma escultura que se faz sozinha.
É uma flor inesperada sem estação do ano para surgir nem para morrer.
Vai sendo esboçada assim ao léu: aqui a sobrancelha se arqueia, ali desce a curva do pescoço, a mão toca a ponta de um pé, no meio estende-se a floresta das mil seduções.
Imponderável como a obra de arte, o amor nem se define nem se enquadra: é cada vez outro, e novo, embora tão velho.
Intemporal.
Planta selvagem, precisa de ar para desabrochar mas também se move nos vãos mais escuros, em ambientes sufocantes onde rebrilham os olhos malignos da traição ou da indiferença, e a culpa o pode matar.
O convívio é o exercício do amor na corda bamba.
Os corpos se acomodam, as almas se espreitam, até se complementam.
Mas pode-se cair no tédio – sem rede –, e bocejar olhando pela janela.
Inventamos receitas para que o amor melhore, perdure, se incendeie e renove... nem murche nem morra. Nenhuma funciona: ele foge de qualquer sensatez, como o perfume das maçãs escapa num cesto de vime tampado.
Se fôssemos sensatos haveríamos de procurar nem amar, amar pouco, amar menos, amar com hora marcada e limites.
Mas o amor, que nunca tem juízo, nos prega peças quando e onde menos esperamos.
Nunca nos sentimos tão inteiros como nesses primeiros tempos em que estamos fragmentados: tirados de nós mesmos eesvaziados de tudo o mais, plenos só do outro em nós.
Nos sentimos melhores, mais bonitos, andamos com mais elegância, amamos mais aos amigos, todo mundo foi perdoado, nosso coração é um barco para o qual até naufragar seria glorioso (ah, que naufrágios...).
Mais que isso, nesse castelo – como em qualquer castelo – não pode haver dois reis.
Quem então cederá seu lugar, quem será sábio, quem se fará gueixa submissa ou servo feliz, para que o outro tome o lugar e se entronize e... reine?
A palavra “liberdade” teria de ser a mais presente, porém é a mais convidada a discretamente afastar-se e permitir que em seu lugar assuma o comando alguma subalterna: tolerância, resignação, doação, adaptação.
Rondando o fosso do castelo, a vilã de todas: a culpa.
Quem deixou sobre minha mesa um bilhete dizendo “Se você ama alguém, deixe-o livre” sabia das coisas, portanto sabia também o desafio que me lançava.
No mundo das palavras há tantos artifícios quantas são as nossas contradições.
Por isso, conviver é tramar, trançar, largar, pegar, perder, e nunca definitivamente entender o que – se fôssemos um pouco sábios – deveríamos fazer.
Farsa, tragédia grega ou dramalhão mexicano, às vezes comédia de mau gosto, outras soneto perfeito: o amor, como as palavras, se disfarça em doces armadilhas ou lâminas mortais.

( Lya Luft )

"Viver é subir uma escada rolante pelo lado que desce".
Ouvindo esta frase, imaginei qualquer pessoa nessa acrobacia que as crianças fazem ou tentam fazer: escalar aqueles degraus que nos puxam inexoravelmente para baixo.
Perigo, loucura, inocência, ou uma boa metáfora do que fazemos diariamente?
Poucas vezes me deram um símbolo tão adequado para a vida, sobretudo naqueles períodos difíceis em que até pensar em sair da cama dá vontade de desistir.
Tudo o que quereríamos era taparmos a cabeça e dormirmos, sem pensarmos em nada, fingindo que não estamos nem aí…
Porque Tanatos, isto é, a voz do poço e da morte, nos convoca a cada minuto para que, enfim, nos entreguemos e acomodemos.
Só que acomodar-se é abrir a porta a tudo aquilo que nos faz cúmplices do negativo.
Descansaremos, sim, mas tornando-nos filhos do tédio e amantes da pusilanimidade, personagens do teatro daqueles que constantemente desperdiçam os seus próprios talentos e dificultam a vida dos outros.
E o desperdício da nossa vida, talentos e oportunidades é o único débito que no final não se poderá saldar: estaremos no arquivo-morto.
Não que não tenhamos vontade ou motivos para desistir: corrupção, violência, drogas, doença, problemas no emprego, dramas na família, buracos na alma, solidão no casamento a que também nos acomodamos… tudo isso nos sufoca.
Sobretudo, se pertencermos ao grupo cujo lema é: Pensar, nem pensar… e a vida que se lixe.
A escada rolante chama-nos para o fundo: não dou mais um passo, não luto, não me sacrifico mais.
Para quê mudar, se a maior parte das pessoas nem pensa nisso e vive da mesma maneira, e da mesma maneira vai morrer?
Não vive (nem morrerá) da mesma maneira.
Porque só nessa batalha consigo mesmo, percebendo engodos e superando barreiras, podemos também saborear a vida.
Que até nos surpreende quando não se esperava, oferecendo-nos novos caminhos e novos desafios.
Mesmo que pareça quase uma condenação, a ideia de que viver é subir uma escada rolante pelo lado que desce é que nos permite sentir que afinal não somos assim tão insignificantes e tão incapazes.
Então, vamos à escada rolante: aqui e ali até conseguimos saltar degraus de dois em dois, como quando éramos crianças e muito mais livres, mais ousados e mais interessantes.
E porque não?
Na pior das hipóteses, caímos, magoamo-nos por dentro e por fora, e podemos ainda uma vez… recomeçar.

(Lya Luft – Pensar é transgredir – Ed. Record)
sexta-feira, 21 de maio de 2010


Solidão!
Todos nós de alguma forma já nos sentimos sozinhos, outros se sentem sós com muita freqüência.
Mesmo quem diz não ter tempo para se sentir sozinho, que solidão é sinal de depressão, doença, coisa para quem não tem amigos, família, com certeza já se sentiu só em alguma fase da vida, em alguma situação.
Quem nunca ficou até mais tarde no trabalho, não porque tem algo a fazer, mas na verdade mesmo ficou por não querer ir para casa?
Ou saiu do trabalho e foi logo se encontrar com os amigos?
Quem nunca se sentiu só após uma separação?
E quem nunca entrou em casa e foi logo ligando a TV, o rádio, o computador?
Fazemos isso por querer saber as notícias, ouvir música, receber e-mails, conectar-se com outras pessoas?
Nem sempre, essas podem até ser as justificativas que a maioria diz, mas lá no fundo, o que desejamos mesmo é fugir da solidão!
Mas será mesmo que é fugir da solidão ou fugir de própria companhia e dos sentimentos e lembranças que poderão aflorar?
Pois estar só significa estar acima de tudo em nossa própria companhia e, infelizmente, muitos não conseguem ou sequer se dão conta do real motivo que estão sempre em atividade. É, a solidão é antes de tudo a oportunidade que temos de nos confrontar com tudo que está bem dentro de nós e, assim, nos conhecer, cada dia um pouco mais.
Mas para algumas pessoas, talvez a maioria, estar consigo mesmo, se conhecer, é sentido como algo doloroso, difícil, e até mesmo, insuportável.
Muitos moram com outras pessoas, não porque gostam de estar com essas pessoas, mas para não se sentirem sós.
Outros mantêm seus relacionamentos pelo mesmo motivo e não por sentirem amor com quem dividem a mesma casa e a mesma cama.
Mas por qual motivo a solidão é tão temida, causando verdadeiro pânico, fazendo com que pessoas mantenham relacionamentos destrutivos, infelizes?
Desde pequenos somos ensinados a sermos amigos de todos, a quem devemos dividir nossos brinquedos, sermos bonzinhos; na adolescência, o que mais desejamos é ter muitos amigos e com isso nos sentirmos aceitos; vamos crescendo, casamos, temos filhos, e conforme o tempo vai passando, surgem as separações, perdas, decepções e, por opção ou falta dela, muitos vão continuando seus caminhos sozinhos.
Mas o que fazer com quem é um total desconhecido de nós mesmos?
Passamos anos valorizando o que os outros querem, sentem, falam e parece que se esqueceram de nos ensinar a olhar para dentro de nós; portanto, não se culpe se você não sabe ficar só, é natural.
Mas sempre é tempo de aprender.
Aprender a se ouvir, se conhecer.
Como é natural também sentir medo de olhar para quem você sequer foi apresentado.
Como querer conhecer alguém que só ouviu críticas a respeito de si, fazendo-o sentir que tudo que faz, pensa, fala, sente, é errado?
Não, não é nada fácil!
A própria sociedade discrimina quem não tem tantos amigos, sendo muitas vezes taxado como anti-social.
Os tímidos que o digam... como sofrem por serem mais fechados.
Os extrovertidos, sim, estes têm muitos amigos, parecem agradar a todos e, por isso, são felizes.
Será?
Esses mesmos alegres crônicos também chegam em casa, e muitos se deparam com o silêncio como companhia.
E será que continuam se sentindo tão bem quanto demonstram?
Nem sempre.
Sem falar que mesmo acompanhados podemos nos sentir sozinhos, e isso parece doer ainda mais.
Que paradoxo, não?
Quando estamos sós queremos companhia e, mesmo com companhia, continuamos a nos sentir sozinhos.
Mas o fato é: como lidar com a solidão?
Será que o mais apropriado não é: como lidar com nossa própria companhia?
Nessa pergunta, creio que já está a resposta.
O fato não é como lidar com a solidão, mas sim como lidar com nós mesmos.
Sim, é muito bom estarmos com outras pessoas, principalmente com aqueles que nos amam e que amamos também, mas nem sempre isso é possível e pelos mais diversos motivos. .
O que é preciso refletir é que não se pode estar na companhia, de quem quer que seja, apenas para não ficar só, isso sim é pura falta de coragem para olhar para dentro de si e enfrentar os mais diversos sentimentos que tal encontro poderá despertar.
É perder a oportunidade de se conhecer e aprender a valorizar tudo que viveu até aqui.
A solidão pode doer para qualquer pessoa, mas dói muito mais para quem não gosta de si mesmo, quem não se admira, não vê em si mesmo qualidades, quem não percebe seu próprio valor, não se ouve, não aprendeu a se amar e se respeitar.
A busca por ter outras pessoas por perto pode também demonstrar uma enorme necessidade em ser aceito, reconhecido, amado.
Creio que o maior antídoto para a solidão seja exatamente isso: autoconhecimento.
Para isso, procure se observar mais, valorizar suas conquistas, identificar seus sentimentos, ouvir sua própria voz e respeitar aquilo que ouve e sente.
Assim, aos poucos irá conhecendo um pouco mais sobre você mesmo e gostando desse ser especial que é você.
Na verdade, só se sente sozinho quem não aprendeu a apreciar a própria companhia!
Espero sinceramente que você aprecie estar acima de tudo consigo mesmo!



Rosemeire Zago


Por que é tão difícil encontrarmos pessoas que tenham a humildade em suas características?
O orgulho, a vaidade, o poder, a soberania e arrogância parecem sempre se sobrepor nas relações humanas.
Algumas pessoas consideram o humilde como um ser menos digno, com menos potencial, menos capaz. Quanta ignorância!
E assim querem ser tudo, menos humildes.
Pisam nos outros, como se estivessem lidando com seres isentos de qualquer sentimento.
Na verdade, tratam aos outros dessa maneira, pois não consideram os próprios sentimentos, pois ter sentimento pode representar ser fraco.
Não respeitam nada nem ninguém, pois também não se respeitam.
Apenas estendem aos outros a maneira como foram tratadas na maior parte de suas vidas, e infelizmente, como ainda se tratam.
No fundo, sentem que não são merecedores de amor e assim se tornam incapazes de amar, tornando as relações com quem se envolvem como grande fonte de sofrimento.
A pessoa arrogante, orgulhosa, não conquistou a humildade, pois não sabe apreciar e valorizar a simplicidade.
Tem sempre que demonstrar seu ar de superioridade, menosprezando quem está ao seu lado, pois acredita ser esse o caminho que irá garantir ser reconhecido.
Desprezar o outro, o faz acreditar que é melhor, superior.
Claro que falar de humildade não torna ninguém humilde.
Mas por que é tão difícil praticar a humildade?
Nossa sociedade ainda e, infelizmente, associa humildade com inferioridade, fraqueza, submissão e até pobreza.
Quando, na verdade, está relacionada com distinção, respeito, gentileza, sensibilidade, graciosidade, simplicidade e, principalmente, autoconhecimento!
Afinal, quem tem plena consciência do seu valor pessoal não precisa se exaltar, se mostrar aos outros, nem se comparar.
Não precisa gritar para que todos ouçam o quanto é melhor!
Não sente necessidade de exibir sua capacidade, seu poder, prestígio ou cultura, porque tem consciência de seus valores internos.
Não precisa diminuir o outro para que consiga se elevar.
As pessoas humildes realçam e valorizam as pequenas grandes conquistas do dia-a-dia em sua essência.
Tratam as outras pessoas como seres dignos de respeito, pois possuem a capacidade de se colocarem no lugar do outro em seu sofrimento.
E você, como se comporta perante o sofrimento de quem ama e das pessoas que sequer conhece?
Como trata as pessoas que estão à sua volta?
Como valiosos presentes em sua vida ou como se estivessem sempre atrapalhando?
Como enfrenta as dificuldades que surgem em seu caminho?
Como trata aqueles que por vezes o machucam?
Com humildade, serenidade, confiando em sua capacidade de superar e aprendendo com cada uma dessas pessoas ou julgando-as e condenando-as?
Por que, por vezes, se torna tão complicado ser flexível diante de alguns acontecimentos?
Por que tendemos agir por impulsividade, sem pensar e sem analisarmos as próprias atitudes, como se só o outro fosse errado?
Por sermos superiores?
Sermos o certo?
Quem nos garante que agimos da melhor maneira?
Será que somos honestos com o outro como gostaríamos que fossem conosco?
Creio que seja preciso um tempo para refletir sobre essas questões e conseguir responder essas perguntas.
Afinal, ninguém é superior a ninguém, apenas podemos, sim, estar em momentos ou estágios diferentes, apenas isso.
Pode ser valioso também aprofundar essa análise em sua infância.
Conviveu com pessoas arrogantes, orgulhosas?
A criança que convive com o preconceito, incompreensão, críticas excessivas, pais inseguros, inflexíveis, excessivamente exigentes, dominadores, pode ter dificuldade quando adulto de desenvolver a humildade, pois para ser aprovada era necessário muitas vezes ser igual, experimentando sempre uma sensação de carência.
Assim, se tornam pessoas orgulhosas, não de quem são, mas de quem acreditam ser.
O orgulho, arrogância, em geral, faz parte de pessoas com pouco autoconhecimento, por não se conhecerem precisam passar uma imagem de pessoas seguras, exatamente ao contrário do que verdadeiramente sentem.
Pisam nos outros como sentem que foram pisadas durante parte de sua vida.
Estão sempre buscando corresponder às expectativas dos outros para serem aceitas, ignorando os próprios sentimentos e quem são na verdade.
Isso pode gerar um sentimento crônico de insatisfação, buscando sempre ser admirada de alguma maneira.
Acredita que o externo, com seus aplausos e reconhecimento, através de sua vaidade extrema e pela busca de status, poderão compensar a falta de contato com seu mundo interior, que na verdade, sequer conhece.
Com isso, busca transmitir uma imagem idealizada de ser extremamente importante, não importando os meios pelo qual irá atingir essa imagem.
Mas será que vale mesmo a pena ser orgulhoso, arrogante?
Será que vale perder um amor por orgulho?
Vale perder uma amizade?
É mais importante manter sua imagem do que ser humilde o suficiente para admitir seu erro e pedir desculpas?
Por que não ser mais amoroso consigo mesmo e aos poucos perceber a riqueza de existe dentro de si?
Por que não mudar a maneira de tratar a si mesmo e estender aos outros?
Por que não perceber que o aplauso mais significativo com certeza sempre será o seu?
Pense sobre isso, acima de tudo com muita, muita humildade!

(Rosemeire Zago / psicóloga clínica)


Crescemos e nos formamos levando em consideração, basicamente, aquilo que ouvimos dos nossos pais e professores.
Por influência deles, somos levados a concluir que é conveniente sermos pessoas boas, esforçadas, trabalhadoras e gentis com os nossos colegas, uma vez que este é o caminho para sermos aceitos e queridos por eles.
Uma das mais desagradáveis surpresas que muitos de nós tiveram ao longo da adolescência reside no fato de que, exatamente por sermos portadores de tais qualidades, somos muito mais hostilizados que amados.
A idéia de que o acúmulo de virtudes despertará o amor das pessoas parece lógica, de modo que quase todos se esforçam nesta direção.
Só não agem de modo legal aqueles que não conseguiram o desenvolvimento interior necessário para, por exemplo, controlar seus impulsos agressivos ou renunciar a determinados prazeres imediatos em favor de outros, maiores, colocados no futuro.
Assim, ao longo da vida adulta convivem dois tipos de pessoas: aqueles que conseguiram vencer estes obstáculos interiores e se tornaram criaturas melhores, e outros que não foram capazes de ultrapassar estas primeiras e fundamentais dificuldades - e que se esforçam ao máximo para disfarçar suas fraquezas. Os primeiros são os que saíram vencedores no primeiro combate importante da vida, o de domesticar seus próprios impulsos destrutivos, e se transformaram em criaturas portadoras das propriedades humanas que somos unânimes em catalogar como virtudes.
O que acontece?
Os perdedores se sentem incomodados e humilhados pelo fato de não possuírem igual capacidade de controle interior.
Este dado é muito importante, pois indica que, independentemente do que digam, os perdedores sabem perfeitamente quais são as virtudes e as apreciam; não aderem a elas porque isto implica em um esforço que não são capazes de fazer.
De todo modo, os perdedores - que adoram desfilar como superiores e indiferentes às questões de moral -, por se sentirem humilhados, também se sentem agredidos pela presença daquelas virtudes em uma outra pessoa que não neles próprios.
Comparam-se com o virtuoso, consideram-se inferiores a eles, sentem-se por baixo, irritados com a presença daquelas virtudes que adorariam possuir.
A vaidade dos perdedores fica ferida e eles, como têm pouca competência para controlar a agressividade, saem atirando pedras.
É claro que tais pedradas têm de ser sutis para que não denunciem todos os passos do mecanismo da inveja: reação agressiva derivada de suposta ofensa na vaidade daquele que se sentiu inferiorizado por não ter as virtudes que lhes provocaram a admiração.
Sim, porque o invejoso admira muito o invejado; senão seria tudo totalmente sem sentido.
Saber que o bandido inveja o mocinho é uma das razões da esperança que sempre tive no futuro da nossa espécie.
A agressividade sutil derivada da inveja nos derruba, entre outras razões, porque ela vem de pessoas que gostaríamos que nos amassem.
Afinal de contas, nos esforçamos tanto para conseguir os bons resultados justamente para ter essa recompensa.
É difícil para um filho perceber que suas qualidades despertam em seu pai emoções contraditórias: por um lado, a admiração se transforma em inveja, de modo que o pai se ressente da boa evolução do filho.
O mesmo acontece entre mães e filhas, sendo inúmeras as exceções onde a admiração não dá origem à vertente invejosa.
As agulhadas, as indiretas e as observações depreciativas e inoportunas próprias da inveja existem de modo muito intenso entre irmãos (eternos rivais), entre marido e mulher, assim como em todas as outras relações sociais e profissionais.
É praticamente impossível uma pessoa se destacar por virtudes ou competências especiais sem ser objeto da enorme carga negativa derivada da hostilidade invejosa.
O mais grave é que não fomos educados para isso, de modo que nos surpreendemos e ficamos chocados ao observarmos esse resultado.
A decepção é tal que muitos se desequilibram quando atingem algum tipo de destaque, condição na qual são levados a um estado de solidão - o oposto do que pretendiam.
Uns se drogam e outros tratam de destruir rapidamente o que construíram, de modo a deixarem de ser objeto de inveja.
Tudo isso é, além de triste, inevitável, ao menos no estágio atual do nosso desenvolvimento emocional. Poderíamos ser ao menos alertados por uma educação mais sincera e sem ilusões.
Toda ilusão trará uma desilusão!
A maior parte das pessoas jamais imaginou, por exemplo, o volume de problemas e de decepções por que passam as moças mais belas, especialmente quando isso se associa a uma inteligência sofisticada e a uma formação moral requintada.
São portadoras daquelas virtudes que mais aparecem e encantam a todos.
São, por isso mesmo, objeto de uma hostilidade inesperada e enorme.
Ficam totalmente encurraladas e quase nunca sabem como sair da situação a não ser destruindo algumas de suas propriedades.

Flávio Gikovate


Uma das causas do chamado conflito de gerações reside no fato de os jovens serem quase sempre idealistas e dispostos a se sacrificarem para a obtenção de um mundo melhor.
Com o passar dos anos, porém, a maioria vai se tornando mais realista, mais preocupada em resolver suas questões pessoais e com menos entusiasmo para se dedicar à comunidade.
Se, por um lado, simpatizamos com os jovens que se mostram revolucionários e desprendidos, por outro, consideramos inadequadas as pessoas que, depois da maturidade, persistem em manter tal comportamento.
Acredito que essa aparente contradição encerre uma boa dose de verdade e mereça ser analisada mais profundamente.
Os melhores jovens, aqueles que se entristecem ao observar as desigualdades sociais e a miséria humana, se tomam presa fácil das idéias que apontam para uma solução rápida.
Correntes religiosas ou políticas desse tipo sensibilizam e conquistam a mocidade.
Aí surge outro ingrediente, bem conhecido por todos nós: a vaidade.
O jovem "veste a pele" do herói e se sente especial, porque luta por causas tão nobres.
Ele se exibe e se destaca, o que satisfaz seus prazeres eróticos ligados à vaidade, mas o faz em nome da justiça.
O aspecto mais importante dessas ideologias é que partem do seguinte princípio: a vontade das pessoas trará a mudança pretendida.
A meu ver, seus adeptos defendem uma idéia, sem se preocupar em saber se ela é viável ou não. Infelizmente, quase sempre se trata de causas impossíveis, porque esbarram em algumas características biológicas de nossa espécie.
Apenas para exemplificar: não adianta lutar pela igualdade, quando é óbvio que somos todos desiguais; não adianta perdoar nossos agressores, se não vier do coração.
As belas idéias se baseiam em conceitos e não em fatos, ou seja, se a realidade não estiver de acordo com o que a gente pensa, dane-se a realidade!
Antes pudéssemos fazer isso...
É evidente, porém, que só o espírito jovem e onipotente consegue ter uma visão tão utópica e linear da vida.
A onipotência nesse caso significa imaginar que seremos capazes de adaptar o mundo às nossas idéias, convicções e vontades.
Unidos, teremos força para varrer a dor e a miséria da face da Terra.
A partir dessas premissas, o jovem passa a ter certeza de que todos os obstáculos serão superados e o bem prevalecerá sobre o mal.
Tais teorias mostram bons sentimentos e, à primeira vista, parecem muito bonitas.
No entanto, não primam pelo bom senso e pela lógica.
Todo o processo mental é incrivelmente pretensioso e arrogante.
Cada ser humano precisa se adaptar aos fatos da vida, mesmo quando são menos atraentes que nossos ideais.
Teremos de aceitar a realidade, pois este é o melhor mundo que o homem foi capaz de construir até o presente momento.
A conclusão poderá decepcionar os que sonharam com utopias.
Ao comparar fatos verdadeiros com falsas idéias, passarão a detestar os fatos.
O erro, porém, está na impropriedade da comparação.
De qualquer forma, com o passar dos anos, vamos amadurecendo emocionalmente, vamos nos tornando menos onipotentes e mais humildes.
Percebemos que nosso papel na história é mais modesto do que pensávamos.
Acabamos substituindo belas idéias falsas por fatos concretos, que não são belos nem feios; são apenas fatos. .
Aprendemos a respeitar a realidade, a nos relacionar com ela, a nos adaptar.
Percebemos que as coisas se modificam muito lentamente: não em função de nossa vontade, mas sim em virtude de complicados processos sociais.
Compreendemos os limites que a biologia impõe às mudanças.
Ao parar de brigar com a vida, passamos a navegar a favor da correnteza.
Se pudermos interferir em algo, o faremos, tendo consciência de que será uma modesta contribuição e não um ato heróico.
Se quisermos chamar essa atitude de "acomodação", tudo bem.
Pessoalmente, acho que se trata de uma visão mais madura e adequada da vida.
A idade da razão tem suas compensações.

Flávio Gikovate
quarta-feira, 19 de maio de 2010


A maioria de nós já caiu numa armadilha aparentemente banal, mas que é, na verdade, bastante perigosa: a de acreditar que o outro sabe quem somos sem que tenhamos de nos mostrar a ele...
Em decorrência desta crença, muitas pessoas têm vivido experiências frustrantes e amargado sentimentos de tristeza e decepção sem ao menos compreender o que é que fizeram de errado.
O problema é que temos nos perdido entre pensamentos e emoções, fantasias e realidade, especialmente quando o tema é relacionamento, romance e o desejo genuíno de sermos aceitos e queridos pelo outro.
Achamos – equivocadamente – que o outro deve perceber, de alguma forma, o que queremos com ele, o que esperamos da relação ou de uma situação específica.
Por algum motivo que ainda não sei exatamente qual é, simplesmente acreditamos que não precisamos nos mostrar para a pessoa por quem estamos interessados como nos mostramos para um amigo íntimo, por exemplo.
Não estou dizendo que o outro tem de saber absolutamente tudo o que pensamos e sentimos, mas precisa sim – com toda a certeza – enxergar aquilo que desejamos que ele reconheça em nós.
E só existe um modo de fazer isso acontecer: mostrando-nos, falando, deixando claro, seja através de atitudes, comportamentos sutis ou palavras.
Acontece que vivemos na era das ‘formas prontas’.
Além das medidas físicas, das roupas, dos cabelos preestabelecidos, e além da busca insana por botox, silicone, academia, dietas, entre outros exageros cometidos sem o mínimo de consciência real, resolvemos apostar que precisamos nos comportar como o parceiro ideal, aparentemente perfeito.
E tentamos, a todo custo, nos moldar a este formato inventado sabe-se lá por quem...
Outro dia, numa mesa de bar com uns amigos, falávamos sobre casar, namorar, ter filhos, ficar, beijar entre outros atos que demonstram vontade de estar com alguém.
E a impressão que me deu, ao voltar para casa, é que quase ninguém se assume.
Quer tudo isso, mas por alguma razão estúpida e incoerente, resolveu acreditar que o bonito é não querer, é não demonstrar suas verdadeiras intenções, como se a relação fosse um jogo de enigmas a serem desvendados.
Aos amigos, ainda se atrevem a revelar seus sentimentos e desejos, mas basta que alguém se aproxime para que rapidamente vistam a fantasia de desencanados, livres e independentes.
Só faltam dizer com todas as letras: estou muito bem sozinho, obrigado!
E daí, é só observar: quanto mais a pessoa tenta esconder o que quer, mais seus desejos escapam sem que ela perceba.
Assim, embora sustentem com relativa facilidade o estilo ‘tô nem aí pra você’, dois dias depois estão ligando sem parar, cobrando a presença do outro, fazendo de tudo para que os encontros continuem e... lá se foi toda a pose, dando lugar a uma atitude pedante, autônoma, sem a menor noção de que tudo isso está apenas deixando claro o quanto não precisamos fazer tanta força para parecermos algo que não somos, para corresponder a uma imagem que, em última instância, não existe, não é condizente com o coração humano.
Portanto, se você quer que o outro saiba que você sente vontade de se casar, de ter uma família, de viver um romance, de ter filhos, de se relacionar comprometidamente ou – por outro lado – que você não sente vontade de nada disso neste momento, mostre, fale, deixe claro!
Obviamente vai correr o risco de vê-lo ir embora, mas ao menos terá sido coerente com o que verdadeiramente quer.
É muito mais fácil e honesto admitirmos que temos medo de não agradar, de assustar o outro ou de parecer cafonas ou antiquados, mas chega de agirmos de forma subterfugia, parcial, mascarada.
Chega de agirmos arbitrariamente, imprimindo no outro impressões falsas sobre nós, que não correspondem com o que realmente carregamos em nosso coração.
No final das contas, é justamente essa mistura entre a imprecisão e a espontaneidade, a cautela e a vontade, o desejo e o medo do desconhecido que torna o amor uma alquimia imperdível.
Com um pouco mais de ousadia e coragem, experimente mostrar quem você é... e quem sabe você surpreenda mais do que imaginava ser capaz?!

Rosana Braga

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“As palavras são a voz do coração. Onde quer que você vá,vá com todo o coração. Por muito longe que o espírito alcance,nunca irá tão longe como o coração.”(Confúcio)

Quem sou eu

Sou uma pessoa de bem com a vida e dificilmente você me verá de mau humor.Tento levar a risca o ditado "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você". Procuro me rodear de pessoas alegres e que me olham nos olhos quando eu falo. Acredito que energia positiva atrai energia positiva.

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