sexta-feira, 31 de agosto de 2012

 
Estava num café esperando por uma amiga.
Enquanto o tempo passava, fiquei observando o ambiente.
Outra mulher estava sozinha a poucas mesas de distância, também esperando alguém atrasado.
O atrasado dela chegou antes da minha.
Vi quando ela se levantou para cumprimentá-lo.
Deram-se dois beijinhos.
Os dois beijinhos mais vacilantes e constrangedores que podem ocorrer entre um casal.
Talvez fosse delírio meu, mas tenho quase certeza de que eram ex-amantes, ex-namorados, ou um ex-marido e uma ex-esposa que haviam terminado a relação poucos dias atrás, no máximo alguns meses atrás.
É uma cena clássica.
Depois de anos de amor e intimidade, a relação se desfaz.
Os dois juram nunca mais se ver, odeiam-se por algumas semanas, até que um dia surge uma pendência para ser conversada, ou simplesmente resolvem tomar um drinque para provar ao mundo que a amizade prevaleceu, essas cenas aparentemente civilizadas que trazem significados ocultos.
Ou pior: encontram-se sem querer num estacionamento no centro da cidade, num corredor de shopping, num quiosque do mercado público.
Você aqui?
Que surpresa.
E os dois beijinhos saem de uma forma tão desengonçada que seria motivo pra rir, não fosse de chorar.
Eles não se possuem mais fisicamente.
Interdição do corpo.
Um dos troços mais sofridos de um final de relacionamento, que só se vai experimentar depois de um tempo afastados.
Uma coisa é você ficar racionalizando sobre o desenlace trancafiada no quarto, ele ficar ruminando sobre as razões do rompimento enquanto trabalha.
Uma coisa é você chorar durante o banho para disfarçar os olhos inchados, ele falar mal de você em bares, fingindo que se livrou da Dona Encrenca.
Uma coisa é você consultar uma cartomante a fim de acreditar em dias mais promissores, ele sair com umas lacraias bonitinhas pra provar que te esqueceu.
Outra coisa é quando os dois se encontram, cara a cara, depois de semanas ou meses apenas se imaginando.
Ele está ali na sua frente.
Mas você não pode agarrar seus cabelos, não pode passar a mão no seu peito, não pode rir de uma piada interna que só pertence aos dois, porque está oficializado que nada mais pertence aos dois.
Ela está ali na sua frente.
Mas você não pode mais dar uma beliscadinha na sua bunda, não pode mais beijá-la na boca, não pode mais dizer uma bobagem em seu ouvido, porque está oficializado que ela agora é apenas uma amiga, e não se toma esse tipo de liberdade com amigas.
Depois de terem vivido, por anos, a proximidade mais libidinosa e abençoada que pode haver entre duas pessoas apaixonadas, vocês agora estão proibidos ao toque.
Não se amam mais, é o que ficou decretado.
Logo, os códigos de aproximação mudaram.
Você dará dois beijinhos na mulher que tantas vezes viu nua, como se ela fosse uma prima.
Você dará dois beijinhos no homem para quem tanto se expôs, como se ele fosse um colega de escritório.
Esses dois beijinhos doerão mais do que um soco do Mike Tyson.
O corpo interditado.
Você não pode mais tocá-lo, você não pode mais tocá-la.
O definitivo sinal de que o fim não era uma ilusão.
Martha Medeiros
 
Como toda mulher, também gasto alguns minutos em frente ao espelho com as mãos espalmadas no rosto tentando imaginar como seria se eu puxasse um pouquinho aqui, um pouquinho ali, mas nunca fui além da simulação – ainda não tive coragem de enfrentar o bisturi.
Amigas aconselham: não precisa partir para algo radical, faça apenas um preenchimento, ora.
Toda mulher moderna e inteligente faz, mas não gosto nadinha da ideia de injetarem no meu rosto coisas assustadoras como polimetilmetacrilato ou ácido hialurônico.
Outro dia, uma moça me explicou como o dermatologista, depois da aplicação, ficou moldando a substância com os dedos até que se assentasse no lugar certo.
Quase passei mal.
Não deviam contar esses detalhes para mulheres impressionáveis.
E, como se não bastasse eu ser de outro século, ainda deparei com as fotos da mãe do Stallone.
Aí, ferrou.
Preenchimento estava na minha lista de resoluções para 2012.
Também esteve na de 2009, 2010 e 2011.
Acaba de ser adiada, mais uma vez, para 2013 ou 2014, dependendo da minha capacidade de evoluir.
Enquanto esse dia não chega, vou continuar me preenchendo com material obsoleto como livros, filmes, exposições, teatro.
Não irão me deixar mais jovem nem mais bonita, mas ao menos o cérebro não ficará flácido.
Como bem lembrou, recentemente, a linda atriz Aline Moraes, “a beleza pode desmoronar quando se abre a boca”.
Mudando de assunto, mas nem tanto, também me abismei com os erros de português que foram detectados nas legendas da propaganda eleitoral na TV, em que se viram preciosidades como “ensentivo”, “disperdiço”, “trofel”, “concurço” e “pulitica”, palavras que não possuem nem de longe o grau de dificuldade de um polimetilmetacrilato.
Cheguei a iniciar uma crônica, mês passado, sobre esse assunto: escrever errado todos escrevem, eu erro, tu erras, ele erra.
Não depõe contra o caráter de ninguém, mas não se pode relaxar.
É preciso continuar estudando, ler mais, consultar dicionários. 
Não cheguei a publicar a crônica porque ela foi inspirada nos bilhetes deixados pelo bioquímico que assassinou a mulher e o filho na zona sul de Porto Alegre. 
Diante de uma tragédia daquela magnitude, não cairia bem falar dos assassinatos gramaticais que ele também praticou. Eram tragédias incomparáveis.
Mas a mim doeu tudo.
(Sei lá como se escreve.) Quem de nós, durante um bilhete, um e-mail, um tuíte, não colocou essa frase entre parênteses diante da dúvida sobre como escrever uma palavra difícil ou uma expressão estrangeira?
Então, para não encerrar essa crônica com tragédia, e sim com tragicomédia, dê uma espiada no site http://seilacomoseescreve.tumblr.com/page/2 e divirta-se.
Rir também rejuvenesce – e não dói.
 
Martha Medeiros

 
 
Nós que passamos a vida à procura de alguma coisa que nem sabemos bem o que é e que nunca achamos

Este mundo tem coisas muito curiosas.
Gatos e cachorros, por exemplo, servem para quê?
E as girafas?
E as flores?
Da minha janela vejo árvores e passarinhos que não fazem senão voar e pousar nos galhos, sempre muito inquietos; e alguém já viu passarinho dormir?
Será que eles se afeiçoam entre eles ou a alguém?
Será que passarinho pensa?
Será que sofre?
Mas tem quem sofra por causa deles; tenho um amigo que, quando encontrou o seu morto na gaiola, ficou triste e entrou em depressão.
Passarinho eu não sei, mas cachorro e gato sofrem pelo dono, e uma vez, quando fiquei doente, meu gato não saiu de perto de mim um só instante.
Fico pensando se é justo ter um cachorro ou um gato.
É verdade que quem tem é porque gosta, portanto trata bem; mas por outro lado, eles só comem o que nós queremos, o território deles é limitado e só têm vida sexual se a gente permite, e a gente nunca permite, olha que absurdo.
Dizem os especialistas que se os machos não forem castrados e as fêmeas operadas, vão nascer ninhadas e mais ninhadas que serão abandonadas em um parque qualquer, e os filhotes vão morrer atropelados ou de fome, o que é de cortar o coração.
Mas é de cortar o coração também ver um gato olhando o mundo pela janela, um gato que não é dono de sua vida, que não pode passear quando quer e fazer o que lhe passa pela cabeça -e que nem sei o que seria.
E volto a pensar: para que eles existem?
Girafas, zebras e leopardos correndo na selva são um lindo espetáculo, mas um hipopótamo ou um rinoceronte não despertam senão estranhezas.
E as baratas?
Bem que se podia passar sem elas, mas ouvi de um ecologista que se todas as baratas do mundo acabassem, o equilíbrio ecológico seria prejudicado, vai entender.
As cigarras, essas a gente sabe: seu canto é só alegria, e elas existem para anunciar o verão.
Frutas são todas lindas, e só servem para nos alimentar.
Mas e o café?
Como terá o primeiro homem inventado descascar o fruto, secar, torrar, moer e coar com água quente para o prazer de tantos?
E as borboletas?
Não existe nada mais bonito do que uma borboleta voando, e às vezes penso que elas, como as flores, só existem para embelezar o mundo.
E os peixes, os sapos?
Quem não caçou vaga-lumes e botou num vidro para brincar de lanterna pode dizer que teve infância?
E nós, para que existimos?
Nós, que às vezes estamos felizes, outras infelizes, que brigamos com o carpinteiro porque a gaveta não ficou exatamente como se queria, nós que ficamos de mau humor porque engordamos dois quilos, nós que nos matamos para ganhar mais dinheiro e morar numa casa maior com mais armários e poder pagar bem caro a um médico para nos livrar dos tais dois quilos, nós que já fumamos, já bebemos e ainda comemos mais do que devíamos, que amamos e desamamos sei lá por que, e passamos a vida à procura de alguma coisa que nem sabemos bem o que é e que nunca achamos, e estamos, a maior parte do tempo, insatisfeitos, geralmente sem razão.
Nós, que vamos aos shoppings para escolher um vestido e um sapato e uma bolsa para usar numa festa que ainda nem sabemos se vai acontecer, nem se seremos convidadas, e se formos, talvez nem vamos ter vontade de ir, dá para entender?
Eu queria muito que alguém me explicasse tudo isso.

Danuza Leão

 Ser apenas feliz, para certas mulheres, é pouco.
Dizem que não têm vocação para a vida normal e vão embora
Costuma ser assim: as pessoas se conhecem, se encantam umas pelas outras, procuram conhecer os amigos, a família, os gostos pessoais, e assim descobrir se foram feitos um para o outro, para se unirem e serem felizes, até que a morte os separe.
Aí namoram e casam.
Bem, para começar, é raro que duas pessoas se unam e sejam felizes até que a morte as separe, e quando chegam a se descobrir, todo aquele enorme encantamento que sentiram no primeiro encontro começa a complicar.
Ela não gosta da mulher do melhor amigo dele -e já começa a implicar-, ele não vai com a cara da irmã dela -e já começa a implicar-, um gosta de churrascaria, o outro, de um japonês, e por aí vai.
Começa então a tentativa de adaptação, cada um abrindo mão de certas coisas para que a relação dê certo.
As adaptações que eram feitas nos primeiros dias de namoro com enorme prazer, um ano depois podem virar motivo de mau humor, e a verdade verdadeira é que ninguém gosta de fazer concessões, cada um só quer fazer o que quer e o que gosta.
É da natureza humana, e natural, pois se duas pessoas gostam exatamente das mesmas coisas, das mesmas pessoas, sentem fome e sono sempre na mesma hora, e por aí vai, vira uma monotonia sem fim.
Então que tal por uma vez fazer tudo diferente e tentar que tudo dê certo, pelo menos por um tempo?
Seria assim: uma mulher e um homem se conhecem, se olham, e sentem um total arrebatamento um pelo outro.
Nesse momento eles sairiam de onde estivessem -da praia, do bar, da festa- e passariam a viver só desse amor, só para esse amor.
Nesse mesmo dia iriam morar juntos, sem saber dos defeitos um do outro, se esconderiam do mundo, dos amigos, das famílias, e abririam mão de seus desejos mais intensos para agradar ao outro.
Não é assim, quando se ama?
E como é assim, não brigariam por nada, não discutiriam por nada, não implicariam com coisa alguma, e a vida seria uma total felicidade -por um tempo, é claro.
Mas chegaria o momento em que eles começariam a se conhecer melhor, e a vida real invadiria um mundo que até aquele momento era só deles; com isso viriam as complicações, as de sempre.
Teriam que conhecer os amigos e as famílias, chegaria o dia inevitável em que um deles -ela- diria que tem horror a futebol, e ele daria o troco dizendo que odeia os filmes de Woody Allen que foi obrigado a ver, para lhe fazer a vontade.
E chegaria o dia cruel em que falariam pela primeira vez sobre política, e que não iriam votar no mesmo candidato.
A partir daí, viraram um casal feliz, desses que se vê por aí.
Só que ser apenas feliz, para certas mulheres, é pouco.
Algumas dizem ao marido que não têm vocação para a chamada vida normal, que vão embora.
E ficam espantadas -quase decepcionadas- quando eles dizem estar de acordo.
Porque quem viveu momentos tão delirantes não pode se conformar com menos.
Querem da vida muito, tudo, tanto, que não aceitam vivê-la como ela é.
E vão, cada um para o seu lado, na procura eterna de outros encontros apaixonantes, mesmo que curtos, sabendo que para encontrá-los -talvez- vão passar longas temporadas inteiramente sós.

Danuza Leão
 
Quem está apaixonado se transforma em outra pessoa, e tão diferente que ninguém reconhece mais
Uma paixão é a melhor coisa do mundo -para quem a está vivendo.
Mas para as testemunhas desse sentimento inigualável, tema de inspiração dos poetas, o assunto é discutível.
Por mais que se torça para que as pessoas de quem gostamos se apaixonem e sejam muito felizes, quando isso acontece, a tendência é guardar uma certa distância; com o tempo, essa distância vai ficando cada vez maior, pois quem está apaixonado se transforma em outra pessoa, e tão diferente que ninguém reconhece mais.
Aquela amiga divertida que tinha opiniões engraçadas sobre as coisas e contava histórias escabrosas do passado -dos outros e dela própria- cessa de existir.
Como vai poder falar sobre o fim de semana que passou em Salvador quando, depois de umas oito caipirinhas, foi dar um mergulho, perdeu o sutiã no mar e teve que voltar para a praia mal conseguindo esconder os seios?
Todo mundo viu, claro, e até ela achou muito divertido, mas sinceramente: uma mulher pode contar isso diante de um homem profundamente apaixonado?
Claro que não.
Como também não pode falar sobre coisas mais calmas, digamos assim: que adorava seu ex-marido, que sofreu muito quando se separou, que andou tendo uns namoros que não deram certo e resolveu nunca mais gostar de ninguém, até que o encontrou etc. e tal.
É lindo, mas um homem apaixonado pode ouvir isso numa boa?
Difícil.
É da troca de experiências passadas que nascem as amizades, e como nada disso vai poder mais ser falado, os amigos começam a se afastar -os dela e os dele.
Passar horas com duas pessoas se olhando olho no olho, mão na mão, sem poder mencionar noites divertidas e loucas vividas em outros tempos, quando saíam da pista de dança às 5h da manhã e ainda iam a um botequim comer um sanduíche de mortadela e beber cerveja, fica difícil.
Amigos de apaixonados têm que tomar o maior cuidado com o que dizem, para não cometer aquelas indiscrições horrendas -e ninguém quer ficar mudo, quer?
Eu, não.
As coisas acontecem naturalmente: os amigos se afastam, eles se afastam dos amigos e se tornam pessoas sem passado -e uma pessoa sem passado não é ninguém; aliás, não é nada.
Ninguém pode abrir mão do seu, e olha que cada um de nós tem pelo menos uma coisa -ou várias- que preferia que não tivesse acontecido ou que pelo menos ninguém jamais soubesse.
Tem mais: uma mulher apaixonada costuma não ter opinião sobre nada: dependendo do parceiro, deixa de fumar, passa a não comer carne vermelha, a só gostar de música clássica -ou pagode ou rock-, a acordar às 3h da manhã para ver a seleção jogar, mesmo odiando futebol -e ainda fazer um café no intervalo do jogo-, e só vota no candidato que seja o mesmo do seu amado.
Estar apaixonado e conservar alguma personalidade é praticamente impossível.
Ah, a paixão.
É muito boa enquanto dura, mas impede que se viva qualquer outra coisa, a não ser ela mesma.
Um dia -que me perdoem os que estão apaixonados- cansa.
Cansa, não: exaure.
Mas acho que estou falando de coisas de um passado muito, mas muito remoto.
Há quanto tempo você não ouve alguém declarar, com todas as letras, que está perdidamente apaixonado?
Eu, há séculos.
Danuza Leão
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
 
Uma amiga na casa dos 50 estava solteira há anos.
Não tinha namorado e tampouco se sentia ansiosa com isso.
Já havia casado duas vezes, tinha um filho bacana e podia muito bem viver sem amor, essas mentiras que a gente conta para nós mesmos.
De qualquer forma, para não perder o hábito, de vez em quando se produzia e ia pra balada, vá que.
Mas voltava invariavelmente sozinha para casa.
Até que um ex-paquera do tempo que ela era uma debutante fez contato ele, que morava no Exterior, voltaria para o Brasil e queria revê-la.
Milagre by Facebook.
Ela disse claro, vai ser ótimo, mas não sabia quando exatamente a promessa desembarcaria no Salgado Filho.
Seguiu sua vida.
Foi para a piscina do clube num dia de semana e lá, estando acima do peso, suada e com um biquíni velho, escutou seu nome sendo pronunciado por uma voz aveludada.
Era o dito cujo, testemunhando in loco no que a debutante havia se transformado depois de tantos anos.
Ela pensou: o cara vai sair correndo.
Ele pensou: não desgrudo mais dessa mulher.
E assim foi.
Certa de que só estando impecável atrairia olhares, ela conquistou um guapo num dia em que se sentia pouco atraente.
Outra história.
Atriz, loira, olhos verdes, leva um fora do noivo.
Passa dias inchada de tanto chorar.
Deprê em estágio avançado.
A avó organiza um almoço do tipo italiano, aberto ao público.
Ela vai e encontra um velho conhecido com quem brincava na infância.
Ele, recém-separado.
Ela, um trapo.
Ficam ali conversando, ela aos lamentos por sua situação, quando, em meio a soluços, a mulher se engasga.
Mas engasga feio.
De quase morrer.
Uns 10 vieram esmurrar suas costas, e a guria vertendo lágrimas sem conseguir respirar, roxa como uma berinjela, já encomendando a alma.
Ela me conta: naquele dia, eu havia saído de casa medonha, e o engasgo só piorou o quadro, eu parecia o demo convulsionando.
Mas o amiguinho de infância não teve essa impressão.
No dia seguinte, ligou para saber se ela passava bem, e estão casados há 15 anos.
Mais uma: depois de duas décadas de uma relação bem vivida, veio a separação amigável.
Porém, mesmo amigável, nunca é fácil sair de um casamento, ainda mais de um casamento que não era um inferno, apenas havia acabado por excesso de amizade.
Ela pensou: agora é a hora do luto, um recolhimento me fará bem.
Não deu uma semana e um estranho tocou o número do seu apartamento no porteiro eletrônico.
Ela não reconheceu a voz, o nome, não sabia quem era, e não deu trela.
Ele tentou no dia seguinte: ela tampouco abriu a porta, achou que o cara havia se enganado de prédio.
No terceiro dia, ela resolveu esclarecer pessoalmente o equívoco.
Desceu até a portaria para convencer o insistente de que ela não era quem ele procurava.
Era.
Do que se conclui: de onde muito se espera – boates, festas, bares – é que não surge nada.
O amor prefere se aproximar dos distraídos.
 
Martha Medeiros



 
Já deve ter acontecido com você.
Diante de uma situação inusitada, você reage de uma forma que nunca imaginou, e ao fim do conflito se pega pensando: que estranho, não parecia eu.
Você, tão cordata, esbravejou.
Você, tão explosivo, contemporizou.
Você, tão seja-lá-o-que-for, adotou uma nova postura.
Percebeu-se de outro modo.
Virou momentaneamente outra pessoa.
No filme Neblinas e Sombras (não queria dizer que é do Woody Allen pra não parecer uma obcecada, mas é, e sou) o personagem de Mia Farrow refugia-se num bordel e aceita prestar um serviço sexual em troca de dinheiro, ela que nunca imaginou passar por uma situação dessas.
No dia seguinte, admite a um amigo que, para sua surpresa, teve uma noite maravilhosa, apesar de se sentir muito diferente de si mesma.
O amigo a questiona: “Será que você não foi você mesma pela primeira vez?”
São nauseantes, porém decisivas e libertadoras essas perguntas que nos fazem os psicoterapeutas e também nossos melhores amigos, não nos permitindo rota de fuga.
E aí?
Quem é você de verdade?
Viver é um processo.
Nosso “personagem” nunca está terminado, ele vai sendo construído conforme as vivências e também conforme nossas preferências – selecionamos uma série de qualidades que consideramos correto possuir e que funcionam como um cartão de visitas.
Eu defendo o verde, eu protejo os animais, eu luto pelos pobres, eu só me relaciono por amor, eu respeito meus pais, eu não conto mentiras, eu acredito em positivismo, eu acho graça da vida.
Nossa, mas você é sensacional, hein!
Temos muitas opiniões, repetimos muitas palavras de ordem, mas saber quem somos realmente é do departamento das coisas vividas.
A maioria de nós optou pela boa conduta, e divulga isso em conversas, discursos, blogs e demais recursos de autopromoção, mas o que somos, de fato, revela-se nas atitudes, principalmente nas inesperadas.
Como você reage vendo alguém sendo assaltado, foge ou ajuda?
Como você se comporta diante da declaração de amor de uma pessoa do mesmo sexo, respeita ou debocha?
O que você faria se soubesse que sua avó tem uma doença terminal, contaria a verdade ou a deixaria viver o resto dos dias sem essa perturbação?
Qual sua reação diante da mão estendida de uma pessoa que você muito despreza, aperta por educação ou faz que não viu?
Não são coisas que aconteçam diariamente, e pela falta de prática, talvez você tenha uma ideia vaga de como se comportaria, mas saber mesmo, só na hora.
E pode ser que se surpreenda: “não parecia eu”.
Mas é você.
É sempre 100% você.
Um você que não constava da cartilha que você decorou.
Um você que não estava previsto no seu manual de boas maneiras.
Um você que não havia dado as caras antes.
Um você que talvez lhe assombre por ser você mesmo pela primeira vez.

Martha Medeiros
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
 
Esse papo de que a gente precisa primeiro se amar para somente depois se tornar aprazível ao amor do outro é, na teoria, bem simples de entender.
Mais ou menos como quando a gente viaja de avião e, antes mesmo de decolar, os comissários se apressam em avisar:
"Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão automaticamente à sua frente. Coloque primeiro a sua e somente depois auxilie quem estiver ao seu lado".
Ou seja, se você não se der conta de que precisa cuidar, antes de tudo, de si mesmo, não estará apto a cuidar do outro e nem despertará nele o desejo de cuidar de você.
Em outras palavras, caímos no famoso dito popular:
"se você não se amar, ninguém mais vai amar".
Sim, eu sei, na prática não é tão simples.
Tem a ver com autoconhecimento, autoestima e noção de merecimento.
Tem a ver com o modo como você se enxerga.
É tudo muito sutil, um tanto inconsciente, mas acredite: funciona exatamente assim!
Enquanto você não conseguir se enxergar como uma pessoa bacana, gente boa mesmo, que tem uma beleza autêntica e interessante, que pode se tornar mais e mais atraente, tanto por dentro quanto por fora, não vai convencer ninguém de que vale a pena ser amada.
Simplesmente porque nem você consegue fazer isso.
Não consegue se amar.
Não encontra motivos suficientes para isso.
Daí, jamais terá condições de reconhecer o amor que o outro pode lhe dar.
Sendo assim, o primeiro passo é descobrir as razões que a torna uma pessoa que vale a pena ser amada.
Talvez facilite se você pensar em alguém que realmente acredita que merece.
Quem você diria que, se fosse como ela, certamente seria amada?
Quais qualidades essa pessoa tem, tanto internas quanto externas?
Por que ela é admirável e encantadora?
Quais características lhe parecem tão sedutoras?
Tome-a como um modelo, mas nunca, jamais, queira ser exatamente como ela!
Você não é e nunca será, felizmente.
Nosso maior trunfo é sermos singulares e complementares.
Se fôssemos todos iguais, o mundo seria uma grande chatice, pode apostar!
Agora, pegue uma folha e anote tudo o que você precisa melhorar.
Por exemplo: cabelo, pernas, pele, humor, jeito de falar, tolerância, falar menos, ouvir mais, não levar tudo tão a sério, ser menos defendido, mais carinhoso, mais divertido...
Você sabe!
Se estiver realmente disposto a gostar mais de si mesmo, certamente vai se empenhar para se tornar gostável.
Peça aos amigos para lhe contar ao menos uma característica sua que poderia ser melhor.
E seja inteligente para aproveitar.
Não tome tudo como uma crítica.
Ouça como uma oportunidade de crescer, evoluir.
E assim, lapidando seu corpo e sua alma, como um processo, uma reforma de si mesmo, estou certa de que, dia após dia, você vai se apaixonar por quem é, por quem você sempre foi, mas se deixou perder em meio a tantos medos e defesas.
E quanto mais se olhar diante do espelho e se admirar, mais encontrará seu lugar no mundo.
E mais digna e elegantemente o ocupará.
E mais certeza terá de que, apesar de não ser amado por todos - porque ninguém é unânime - será amado por quem tiver de ser.
Por quem for compatível.
Por almas afins, que se identificam e se complementam.
Amar a si mesmo é um exercício de autoconquista diário.
Do mesmo modo que você ama o outro pelo que ele faz você sentir, também se ama (ou não) pelos sentimentos e sensações capaz de se provocar.
E é isso, exatamente isso, que faz com que o outro também se apaixone por você, ou não...
Tudo vai depender não de procurar a pessoa certa, mas de se tornar a pessoa certa!
Não de amar o outro para então ser amado, mas de se amar para então ser amado pelo outro e, em contrapartida, oferecer a ele o seu melhor e mais lapidado amor!

Rosana Braga
 
Por que nos encantamos sentimentalmente com uma pessoa?
Ainda não podemos responder integralmente a esta pergunta fundamental.
Fomos capazes de avançar muito a esse respeito nos últimos anos, de modo que algumas conclusões parciais podem ser muito úteis para que cometamos menos erros.
Nós nos envolvemos com outra pessoa porque nos sentimos incompletos em nós mesmos.
Se nos sentíssemos inteiros e não metades, certamente não amaríamos.
Sim, porque o amor corresponde ao sentimento que desenvolvemos em relação àquele que nos provoca a sensação do aconchego e completude que não conseguimos sentir quando estamos sozinhos.
A escolha do parceiro, daquele que irá nos fazer sentir menos desamparado, é repleta de variáveis intrigantes que vão desde o desejo de também nos sentirmos protegidos até aquelas em que precisamos nos sentir úteis e até mesmo explorados.
Neste momento, estou querendo me ater um pouco ao processo do enamoramento, no encantamento inicial que faz com que uma pessoa neutra se transforme em indispensável, sem a qual não podemos imaginar seguir vivendo.
O processo, que não raramente se dá em poucos instantes, depende de elementos nem sempre detectáveis.
É claro que a aparência física das pessoas envolvidas desempenha um papel muito importante no fenômeno do enamoramento.
Esse aspecto inicial do encontro amoroso não deve ser confundido com o amor propriamente dito.
O amor é paz e aconchego ao lado de uma pessoa, ao passo que o enamoramento corresponde ao processo pelo qual esta pessoa é escolhida - e que, como regra, corresponde a um período nada sereno; o amor é uma emoção ansiada, mas nos chega acompanhado de muitos medos.
No que diz respeito à aparência física, é claro que o elemento erótico se destaca, especialmente nos homens que têm um desejo visual marcante.
Acontece que, por caminhos diversos, muitos são aqueles que guardaram em suas memórias registros de figuras que muito os impressionaram e que se transformaram em modelos ideais com os quais cada nova pessoa conhecida é confrontada.
Por vezes é algo geral, incluindo a forma do corpo; outras vezes é a cor dos olhos, dos cabelos, o tipo de seio, os quadris.
Algo que pode lembrar, desde suas mães até alguma estrela de cinema que muito lhes tenha impressionado.
A verdade é que, por outras vias, as moças também guardam dentro de si indicadores do que elas acham que seja o homem ideal para elas: podem ser esbeltos ou musculosos, intelectualizados ou executivos, voltados para as artes ou poderosos, e assim por diante.
Todos esses ingredientes incluem elementos eróticos, mas todos eles se transformam, em nossa imaginação, em símbolos dos nossos parceiros ideais.
De repente, julgamos ter encontrado um número importante de tais símbolos naquela pessoa que nos passou pela vida.
E nos enamoramos.
Assim sendo, o fenômeno do enamoramento se fundamenta em aspectos relacionados com a aparência do outro.
É claro que costuma ter relação com o que a pessoa é por dentro.
Mas a correlação não é absoluta e nem assim completa.
Conversamos com a pessoa que nos atraiu e, em virtude da atração inicial que sentimos e do nosso desejo enorme de amar, tendemos a ver no seu interior as afinidades e peculiaridades que sempre quisemos que existissem naquele que nos arrebataria o coração.
Por exemplo: um rapaz mais franzino, mais intelectualizado e voltado para as artes é visto, mais ou menos rapidamente, como emotivo, romântico, delicado e sensível, pouco agressivo, que respeita os direitos da mulher e não é exageradamente ciumento.
Uma moça se encanta com ele e espera que ele seja portador de todas essas peculiaridades.
Essa expectativa se transforma, mais ou menos rapidamente, em certeza de que elas existem.
A moça projeta seus sonhos de perfeição naquele rapaz que tanto a encantou e passa a ter certeza de que as propriedades desejadas estão lá.
O fenômeno é o da idealização, pelo qual acreditamos que o outro contenha todas as peculiaridades que dele esperamos.
Sonhamos com o príncipe encantado – ou com uma princesa ideal – e, ao nos enamorarmos, projetamos todos os nossos desejos sobre aquela pessoa.
Passamos a conviver com ela e a esperar dela as reações próprias do ser que idealizamos.
O que acontece?
É a pessoa real a que irá agir, reagir e se comportar de acordo com suas efetivas peculiaridades.
Não poderemos deixar de nos decepcionar, não obrigatoriamente por causa das peculiaridades efetivas do amado, mas porque despejamos sobre ele todos os nossos sonhos e exigências de perfeição.
O erro nem sempre está na pessoa e sim no fato de termos sonhado com ela mais do que prestado atenção nela, no que ela efetivamente é.
Eis aí um bom exemplo dos perigos derivados da sofisticação da nossa mente, capaz de imaginar de uma forma livre e tão grandiosa que a realidade jamais irá alcançar.

Flávio Gikovate
 
Só existe auto-estima quando uma pessoa vive de acordo com suas idéias, sem ofender o código de valores que ela construiu ao longo da vida.
Uma pessoa para quem a honestidade é fundamental poderá ficar rica se aceitar suborno, mas sua auto-estima cairá, inevitavelmente.
Não é possível alguém gostar de si mesmo, ter um bom juízo de si, se estiver agindo em desacordo com seus princípios.
Os valores de cada pessoa, assim como os de cada sociedade, variam muito e dependem fundamentalmente do ambiente em que ela cresceu.
Nos primeiros anos de vida, incorporamos essas normas com o objetivo de agradar aos adultos que nos são importantes.
Aprendemos seus valores e os adotamos porque este é o caminho para sermos amados por eles.
Os adultos usam essa necessidade das crianças de serem protegidas e acariciadas como instrumento para educá-las, ou seja, transmitir à nova geração as normas daquela comunidade.
Mas isso é apenas o princípio do processo.
A partir de um certo ponto do nosso desenvolvimento, passamos a contestar os valores que nos foram impostos pela educação.
Isto pode ser feito de um modo bastante estabanado e grosseiro, negando, apenas por negar, tudo o que nos ensinaram (e são muitos os adolescentes que agem assim).
Entretanto, também podemos reavaliar nossos princípios de um modo mais sofisticado, comparando-os com outros pontos de vista ou submetendo-os a uma experimentação na vida prática.
Se fomos educados, por exemplo, a não transigir, tornando-nos pessoas rígidas e prepotentes, isso pode nos trazer muitos inimigos e afastar as pessoas de quem gostamos.
A prática da vida nesse caso poderá nos ensinar a ter mais "jogo de cintura", ou seja, a afrouxar um pouco mais os nossos critérios quanto à liberdade e aos direitos de cada pessoa.
Sempre que mudarmos nossos valores devemos conseguir mudar também nossa conduta.
O objetivo disso é fazer com que possamos viver de acordo com nossas idéias, condição indispensável para uma auto-estima positiva.
Mas outra condição se impõe para uma boa auto-estima: levar uma vida produtiva, em constante evolução.
Se uma pessoa gosta de cozinhar, ela tenderá a se dedicar a essa atividade.
Será capaz de avaliar seus avanços por meio da reação das pessoas que provam sua comida e não adianta negarmos: somos dependentes das reações dos que nos cercam e nos são queridos. Os elogios reforçarão suas convicções de que está indo pelo caminho certo, enquanto as críticas indicarão a necessidade de correção de rota.
Com o passar do tempo e o crescer da experiência, ela saberá avaliar a qualidade de sua comida por si mesma, tornando-se menos dependente do julgamento dos outros.
Sua auto-avaliação vai se tornando mais importante que a dos outros.
Sua auto-estima vai se cristalizando em um patamar alto, sólido e independente do ambiente.
Mas é importante ressaltar que esta imagem positiva de si mesmo não pode ser construída do nada.
Não adianta a pessoa se olhar todos os dias no espelho e dizer:
"Eu sou uma pessoa legal, mereço as coisas boas da vida, eu me amo".
Agir assim é acreditar que se pode enganar a si mesmo com discursos bonitos e falsos.
Precisamos agir sempre de acordo com as nossas convicções, levar uma vida produtiva e nos aprimorar naquilo que fazemos.
Não importa qual seja a atividade, precisamos nos relacionar com o nosso meio e receber dele sinais positivos de que nossa ação é boa e que está em permanente evolução.
Se uma pessoa não faz nada, não se dedica a nenhum tipo de atividade, não terá a menor chance de ter uma boa auto-estima.
Ela não se testa para saber qual é o seu valor, e a dúvida puxa para baixo a auto-avaliação.
E de nada adianta colocar uma máscara e sair por aí com ares de quem "se ama e muito".
Isso não engana ninguém!

Flávio Gikovate
 
Houve um tempo em que as passagens de avião custavam sempre o mesmo preço em qualquer companhia, o que fazia com que os passageiros escolhessem a que mais lhes conviesse -com ou sem escalas, com ou sem conexão, etc.; escolhiam, sobretudo, aquela em que mais confiassem.
Hoje, quem quer voar para Recife, por exemplo, se reservar uma passagem com seis meses de antecedência, paga um preço; se decidir 15 dias antes da viagem, paga mais, mas se na véspera o avião não estiver cheio, o preço pode ser bem menor.
E quem se arriscar e for para o aeroporto no último momento, se tiver sorte e tiver sobrado algum lugar, paga ainda menos.
Só que cada companhia tem suas regras, por isso nada mais difícil, hoje em dia, do que planejar uma viagem.
Na ânsia de ganhar da concorrência, houve momentos em que uma determinada companhia vendia uma passagem para Belo Horizonte por R$ 80, pouco mais do que uma passagem de ônibus.
Só que a manutenção de um avião é muito cara; não dá para cobrar esse preço.
Outro assunto: na coletiva de terça-feira última estavam o presidente da Infraero, o da Anac, o brigadeiro Kersul Filho e um outro brigadeiro, que não lembro o nome.
Questionado se não teria sido imprudência autorizar a construção de um apart-hotel a 600 metros da cabeceira da pista (para desviar desse prédio, os aviões perdem 130 metros de pista), esse brigadeiro respondeu que a construção inicialmente foi proibida, mas depois foi autorizada, quando o dono do empreendimento trocou a finalidade do edifício, que de apart passaria a abrigar escritórios.
O prédio foi levantado, igualzinho, mas o dono deu um "jeitinho" e fez um hotel; na última quinta-feira a construção foi interditada pela Prefeitura de São Paulo.
E com toda a faraônica obra no aeroporto de Congonhas, e do jardim que só ele, segundo a Globo News, custou R$ 50 milhões, a torre de controle não foi modernizada e continua exatamente como quando foi construída.
Outra coisa que não entendo é por que aviões como o A-320, se acontece de um reverso parar, ainda podem voar durante dez dias.
Eu entenderia se falassem em horas de vôo, mas não de dias.
Porque dez dias podem significar 240 horas ou apenas duas horas, depende do tempo que ele levar voando, portanto isso não faz sentido.
Mais uma coisa que não entendo: qual a necessidade de dois deputados irem aos EUA acompanhando a caixa-preta do avião?
Qual a necessidade da presença dos parlamentares, que voltaram dando informações erradas e corrigindo depois o que haviam dito?
Outra coisa: não há quem não saiba que é muito mais perigoso viajar de carro do que de avião; as estatísticas mostram que morre muito mais gente nas estradas do que voando, por isso é preciso ser muito ignorante para ter medo de voar.
E eu queria saber também de que riam certos membros do governo, na posse de Nelson Jobim, com as gracinhas sem graça do presidente Lula.
Que, aliás, deve se ajoelhar todos os dias e agradecer a Deus que Jobim tenha aceito o cargo de ministro da Defesa.
É lamentável ver tudo isso acontecendo, quando se conhece a vocação do Brasil para o turismo.
O cenário já está pronto, os turistas chegam e se deslumbram com o que vêem; é só pensar no Nordeste, hoje praticamente ocupado por estrangeiros, que inauguram hotéis e resorts, um atrás do outro, que vivem cheios o ano inteiro.
Que país, este.
 
Danuza Leão
 
Quando alguém nos magoa e nos faz sofrer, o que acontece?
Ou se sofre, o que em grande parte das vezes termina em depressão, ou se fica com muita raiva, o que é bem melhor.
Mas a raiva -foi o que nos ensinaram- é um sentimento feio, baixo, que pessoas superiores não devem ter.
Mas vamos discordar: uma boa raiva com motivos é saudável, e faz muito bem à pele, ao coração e à alma, além de evitar o infarto.
E quem está querendo ser superior?
Conseguir ter raiva é excelente para a saúde física e mental; a depressão nos leva para a cama e tira a vontade das coisas mais banais, como tomar banho, passar uma escova no cabelo, comer, ler, quem não sabe?
Já a raiva faz com que se façam coisas, mesmo que sejam coisas erradas.
Na depressão você não se levanta nem para ir a um cabeleireiro; já na hora da raiva você pinta o cabelo de vermelho, o que é muito melhor do que ficar prostrada olhando para o teto.
Exemplos são sempre ótimos: se uma mulher é abandonada por um homem, entre a tristeza e o ódio, o que é melhor?
O ódio, claro.
Por raiva e ódio as pessoas querem e devem mostrar que não é qualquer coisa que as derrubam.
A primeira providência de uma mulher (saudável) com raiva é pensar:
"Como é que vou me vingar?"
Em primeiro lugar, mostrando que não está sofrendo.
Para isso é preciso estar na sua melhor forma, razão mais do que suficiente para perder aqueles três quilinhos, comprar um vestido novo, pegar um sol, aposentar definitivamente o uniforme tênis e jeans e voltar a usar um bom salto alto.
Parece bobagem?
Pois não é.
Dificilmente você vai ver uma mulher se equilibrando num salto oito com depressão.
De salto, automaticamente se encolhe a barriga, se levanta o queixo, e os ombros ficam na posição certa, como se desafiasse o mundo.
Se cruzar com ele, não é melhor estar maravilhosa do que arrasada?
Uma coisa leva a outra: por sentimentos nobres como o amor próprio, o orgulho, a vaidade e a raiva, não se deixa a peteca cair -em público, pelo menos-, e com isso vem o hábito de não deixar a peteca cair nunca, a não ser no divã do analista.
Pense um pouco: se você é normal, deve ter raiva de alguém.
O que deve fazer para irritar esses alguéns?
Ficar linda, maravilhosa, ter sucesso, ser vista sorrindo, vibrando, enfim, ser feliz.
Digamos que você seja uma desenhista de moda e que esteja sem a menor inspiração.
Faz o quê?
Pensa numa pessoa que detesta e imagina a glória de fazer um trabalho elogiado, que faça com que você se torne a melhor de todas.
Só de pensar nesse delicioso prazer, é capaz de baixar em você o espírito de Balenciaga e o trabalho fluir fácil, só de raiva.
Quando for ao jornaleiro da esquina, pense que pode se encontrar com ele -aquele que fez você sofrer tanto-, e é claro que vai se realçar antes de descer.
Se acontecer, não vai ser ma-ra-vi-lho-so ele ver como você está muito mais linda agora, sem ele? Deve estar sendo muito bem tratada, ele vai pensar.
E pode ser ainda melhor: encontrar na esquina outro que te faça feliz para sempre por uns tempos -ou não?
Por isso, querida, quando vier aquela raiva cega, aquela vontade de gritar, de xingar, de matar, transforme toda essa energia a seu favor.
Assim como o amor constrói para a eternidade, a raiva pode construir a prazo bem mais curto -e de superior e inferior, afinal, todos nós temos um pouco.
Uma delícia, ter uma boa raiva; e sobretudo, muito construtivo.
 
Danuza Leão
terça-feira, 21 de agosto de 2012

Será que precisamos seguir sempre pelos mesmos caminhos?
Quando eu penso na palavra liberdade, sinto um arrepio de prazer, um prazer que é ao mesmo tempo assustador, a ponto de me fazer querer esquecer dessas coisas branquinhas chamadas asas.
Porque não existe a possibilidade da liberdade sem uma boa dose de risco e ousadia.
Eu confesso... às vezes dá medo ser livre!
Parece simples, mas é preciso muita coragem para que sejamos de verdade livres.
Coragem para arriscar o nosso próprio movimento, para suportar que discordem de nós, para conviver com a incerteza de novos vôos.
É preciso coragem para deixar um emprego que mata a nossa alma, mas nos garante um salário ao final do mês.
É preciso coragem para fazer escolhas que fogem às escolhas aceitas pelas pessoas que convivem conosco ou pela sociedade.
É preciso coragem para uma mulher assumir que simplesmente não quer ter filhos.
É preciso coragem para um homem decidir cuidar da casa enquanto a sua esposa faz o papel de provedora.
É preciso coragem para assumir frente aos outros uma sexualidade diferente da considerada “normal”.
É preciso coragem para tantas coisas... mas como podemos ser livres sem essa coragem?
Como ser livres se tivermos que corresponder às expectativas de tanta gente?
Para que sejamos livres, precisamos ser capazes de estar ao nosso lado, arriscar nossas próprias escolhas, gastar as solas de nossos sapatos sem seguir nenhum mapa, que não o traçado por nosso próprio coração.
Assim, pare de esperar pela aprovação dos outros.
Pare de se preocupar com as críticas dos outros.
Pare de agir como uma pequena criança que precisa crescer antes de se acreditar capaz de escolher.
Cresça agora e honre quem você é.
Honre as suas verdades e arrisque seus próprios passos.
Abra suas asas e arrisque seu próprio vôo.
Sinta essa deliciosa sensação de pegar a si mesmo no colo e lançar-se pela vida com a mesma curiosidade e determinação com que uma criança se solta do topo do escorregador.
Posso lhe garantir que será divertido ! (mesmo que, vez ou outra, você rale os joelhos ou caia de cara na areia).
Patricia Gebrim

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“As palavras são a voz do coração. Onde quer que você vá,vá com todo o coração. Por muito longe que o espírito alcance,nunca irá tão longe como o coração.”(Confúcio)

Quem sou eu

Sou uma pessoa de bem com a vida e dificilmente você me verá de mau humor.Tento levar a risca o ditado "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você". Procuro me rodear de pessoas alegres e que me olham nos olhos quando eu falo. Acredito que energia positiva atrai energia positiva.

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