sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
Outro dia , numa dessas conversas sem compromisso, que não levam a nada, inventadas para que se possa fingir que não existem as duras realidades, a brincadeira era cada um contar os melhores momentos que tinha tido na vida.
Quando chegou minha vez, disse que foram muitos, e tantos, que a resposta ia ser grande -e foi.
Tive que refrescar a memória, pois dos piores a gente se lembra logo, mas dos melhores é preciso tempo, o que não deixa de ser injusto.
Isso aconteceu depois de um almoço de domingo; não havia pressa alguma, e quando vi, estava contando episódios da infância, outros da vida já adulta, alguns até românticos, veja você.
Nenhum deles daria um livro, nem um conto de duas páginas, mas estavam guardados -ou esquecidos- dentro de mim, como uma grande riqueza.
Voltei para casa e, já sozinha, voltei a pensar em minhas horas mais felizes; me surpreendi, lembrando de momentos totalmente diferentes dos que havia contado.
Quais seriam os mais verdadeiros?
Vou falar de só um deles, até porque os outros, tirando a geografia, o ano em que aconteceram e outros detalhes sem a menor importância, foram absolutamente iguais no seu significado.
Entre eles, um grande ponto em comum: eu estava só.
Era verão, eu estava na Europa e decidi ir a Londres, cidade que conheço mal.
Não consigo me situar, saber para que lado ir, me acho sempre perdida e, para complicar, falo mal a língua, o que faz com que me sinta, sempre, uma total estrangeira.
Nessa viagem houve também o que poderia ter sido um problema, mas não foi, pelo contrário: esqueci o celular em Paris.
Talvez tenha sido proposital, penso agora.
Como ia ficar só cinco ou seis dias, e, a rigor, não precisaria ligar para ninguém, relaxei.
Relaxei e me dei conta de que ninguém, no mundo inteiro, sabia onde eu estava: nem em que hotel, nem em que cidade, nem em que país.
Estava fora do alcance de tudo e de todos, incomunicável; nada poderia me atingir, pensei, e me senti livre, livre como gosto de me sentir, mas que nem sempre consigo -e olha que nunca fui muito presa às chamadas convenções.
O tamanho da felicidade que senti -não, a palavra felicidade não é suficiente.
Foi como uma comunicação profunda comigo mesma, uma liberdade plena e total de existir, sem depender de nada nem de ninguém, uma sensação do poder completo, no mais alto dos níveis.
É claro que isso não aconteceu em todos os momentos de todos os dias que passei lá; acho até que, na hora, nem me dei conta direito do que estava sentindo, só fui perceber depois, só tive consciência mesmo no dia da tal conversa, no tal domingo, já sozinha, já em casa.
Quanta loucura: saber que me senti dessa maneira anos depois.
Mas valeu.
Tenho o hábito de, nos maus momentos, quando parece que tudo vai dar errado e que não há solução para nada, lembrar de sensações parecidas, passadas numa praia do Ceará ou dentro de um avião, o que me dá a esperança -certeza- de que vai passar.
Agora vou me lembrar também de Londres, pois no fundo tudo é bem parecido.
E vou resistir à tentação de voltar em algum outro verão, à procura do que já foi, pois nenhum tipo de volta dá certo.
E sentir-se só no mundo não é tão ruim como dizem; pode ser, até, um grande momento.
Danuza Leão
O que é luxo para você?
Já houve quem respondesse: uma bolsa Prada, um vinho Romanée-Conti, a suíte do Hotel Hermitage em Montecarlo.
Aí ostentar passou a ser brega, e as respostas mudaram: levar meus filhos à escola, almoçar em casa todos os dias, encontrar os amigos uma vez por semana.
Tocante, mas familiar demais.
Até que se optou por algo mais contemporâneo: luxo é ter tempo.
É o que 10 entre 10 entrevistados respondem hoje.
Quem ousaria discordar?
Luxo, de fato, é ter tempo.
Ainda mais nestes dias turbulentos, em que se corre de um lado para o outro vivendo contra o relógio.
Estão todos megaocupados, não estão?
É o que se diz.
Você tem que renovar a carteira de habilitação, tem que cortar o cabelo, tem que visitar um cliente, tem que levar a bicicleta para o conserto, ir à farmácia, ao dentista, à aula de pilates, à terapia, esperar o eletricista, levar o cão para passear, mandar um sedex e ainda utilizar oito das 24 horas do dia trabalhando.
Aliás, seu dia ainda tem 24 horas?
Parabéns.
Eu devo ter bobeado, pois afanaram umas cinco horas do meu.
Resultado: você não tem mais tempo para nada.
E isso é uma constatação tão irrefutável, tão crível, tão corriqueira, que os outros não questionam, aliviando você da culpa que sente por estar sempre alegando falta de tempo quando, muitas vezes, a falta é de interesse.
Dar uma carona para sua tia tagarela até a rodoviária numa sexta-feira chuvosa às sete da noite?
Você adoraria, mas está entrando numa reunião.
O filho do seu vizinho vai estrear como DJ de um bar no outro lado da cidade?
Você adoraria, mas está entrando numa reunião.
Churrasco do pessoal da empresa no domingo, num sítio a 170 quilômetros de distância, sem sinal de internet, tendo que levar a própria bebida?
Você adoraria, mas está entrando numa reunião.
De condomínio, sério!
Marcaram reunião de condomínio para quarta-feira?
Você adoraria, mas às quartas sempre fica doente.
Adiaram para quinta?
Você acaba de baixar hospital.
Você não tem tempo para nada que não queira fazer, e ninguém o acusa de antipático porque estão todos na mesma situação, sem "tempo" para aquilo que antes não tinha escapatória, mas que atualmente tem, graças à abençoada agenda lotada.
Luxo mesmo é viver numa era tão esquizoide, que te concede a desculpa perfeita para estar em outro lugar. 
Martha Medeiros
É comum chamar de ignorante aquela pessoa que não sabe ler nem escrever.
Porém, esses são analfabetos, não ignorantes.
A ignorância ultrapassa as questões escolares.
Qualquer pessoa que durante sua criação não tenha tido algum acesso à arte de boa qualidade, a noções mínimas de filosofia e psicologia, à literatura, à informação, à música e, principalmente, à ética e ao afeto, arranca em desvantagem.
Pode conseguir se formar, virar bacharel, doutor, mas permanecerá endurecido por um mundo estreito, terá dificuldade de dialogar.
Abandonado pela falta de critério, de instrução e de conhecimento, viverá bitolado como um selvagem.
Não conseguirá enxergar o mundo de forma generosa, apenas rosnará para espantar o próprio vazio.
Como você deve ter adivinhado, isso nos leva ao menino Bernardo.
Não preciso descrever o que senti ao ler a transcrição dos diálogos gravados dentro daquela casa em Três Passos – você sentiu o mesmo.
É desolador.
Leandro e Graciele, que em tese eram responsáveis pelo garoto, são dois débeis sem consciência do que suas atitudes provocavam.
Mesmo que Bernardo fosse uma peste, era uma criança.
Uma criança!
A covardia psicológica que sofreu é diabólica.
O desfecho do caso foi uma exceção – raros sãos os pais que matam filhos ou enteados.
Porém, se os assassinos são poucos, os ignorantes proliferam em todos os bairros, em todas as classes sociais: inúmeros homens e mulheres simplesmente não zelam pela cabeça dos filhos.
Ensinam a escovar os dentes, a dizer obrigado, matriculam numa escola e tarefa cumprida.
São tão ignorantes que muitos fazem uma brincadeira considerada “didática”: estimulam o filho a se jogar de cima de um armário garantindo que o segurarão nos braços.
E seguram.
Seguram na primeira vez, na segunda, na terceira, até que na próxima a criança se joga e o pai o deixa se esborrachar no chão, justificando-se com a pérola: “É pra você aprender a nunca confiar em ninguém – nem em mim”.
Que cretinice.
Crianças precisam aprender a confiar, não a desconfiar.
Crianças precisam ter seus afetos respeitados, e não ouvir que a mãe e o pai que amam são vagabundos – mesmo que sejam.
É preciso garantir a sanidade mental de uma criaturinha em formação, usar palavras amáveis, não destruir seus sonhos, dizer a verdade com jeito, não estimular a competição, não fazê-la se sentir desprotegida, não tratá-la com grossura, não obrigá-la a se posicionar como um adulto antes
da hora.
Tudo isso também é violência.
Custaremos a ver outro assassinato hediondo como esse, mas crianças sofrendo agressões pesadas continuarão a existir.
Elas não morrerão, mas crescerão com transtornos emocionais e um dia criarão seus próprios filhos de que maneira?
Com o padrão miserável que vivenciaram.
Para evitar que crianças se esborrachem no chão e na vida, para fazê-las confiar em si mesmas e no mundo, só combatendo a ignorância.
 
Martha Medeiros
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
 
"Queremos tudo.
E queremos tudo perfeito.
Mas isso não basta.
Além de tudo perfeito, queremos para ontem. 
E sabe o que conseguimos?
Frustração, ansiedade e sofrimento.
Veja bem!
Realmente não acho que devemos nos conformar com uma vidinha mais ou menos, com a mediocridade ou com realizações, desejos e sensações sempre mornas.
Não é isso!
Mas às vezes ainda me surpreendo com essa mania -desgastante e ineficiente, diga-se de passagem- que a maioria das pessoas tem de acreditar que os extremos são mais interessantes.
Ou temos de estar absurdamente felizes e completos e radiantes.
Ou nos afundamos numa tristeza profunda, sem conseguir enxergar luz ao final do túnel. 
O problema é essa ilusão de que só o sol e o calor são bonitos e gostosos.
Como se só os sorrisos e as vitórias fossem bons.
Não tem essa de bom ou ruim.
O que tem é a vida.
E a vida inclui sorrisos e vitórias, mas também dias frios, chuvosos, nublados... tristezas, enganos, dúvidas.
A vida inclui, inclusive (perdoem-me a tautologia), a morte.
Como toda boa história, tem começo, meio e fim.
Morte não é o oposto de vida.
É vida também.
Mas como não aceitamos, como brigamos e resistimos e nos revoltamos com o que julgamos não bonito ou não bom, sofremos.
Perdemos a chance única de encontrar a poesia e a arte contidas no entremeio.
Nem preto, nem branco.
Todas as cores.Todos os tons.
Todas as intensidades.Todos os sentimentos.
Sabe qual é o cúmulo da maluquice humana?
É se sentir culpado por estar triste.
É achar que chorar é coisa de gente fraca.
É fingir que está tudo bem quando se está desabando por dentro.
É usar máscaras e mais máscaras para negar a si mesmo.
Para não se permitir.
Também não estou aqui para fazer um tributo à depressão.
A questão é essa falta de autorização para ser inteiro.
É essa estranha posição que ocupamos de quem PRE-CI-SA ser feliz a qualquer custo, nem que seja de mentira.
Nem que seja só para se encaixar.
E sem se dar conta de que esse "ser feliz", assim tão contundente, tão perfeito, tão pra ontem, não existe, não se cabe, não se nutre.
Meu exercício, hoje, é para ser.
Ser o frio, o calor, o nublado, o desfolhado, o sol, o vento e a chuva.
Claro, escuro e crepúsculo.
Dor e alegria.
Quero me autorizar à inteireza.
Ora resplandecente, ora murcha.
Ora gargalhada, ora lágrima.
Ora silêncio, ora voz. Ora um "plim" - que ótima ideia!
Ora "ahhhh" - que "m" que eu fiz!
Ser tudo, mas longe de perfeita.
E somente por agora.
E assim, atenta ao que mais posso ser, sem julgar nem desmerecer, quero aprender que o perfeito é um modelo.
Não existe.
Não é ninguém.
Sem rosto e sem alma.
Sem coração e sem nome.
Sem sobrenome.
Sem a mágica e imperdível chance de viver.
E de morrer.
Para que a história da humanidade possa continuar a ser escrita.
Cada dia mais belamente."
 
Rosana Braga

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Ah, se conseguíssemos manter sob controle nosso ímpeto de apoquentar.
Mas não.
Uns mais, outros menos, todos passam do limite na arte de encher os tubos.
Ou contando uma história que não acaba nunca, ou pior: contando uma história que não acaba nunca cujos protagonistas ninguém jamais ouviu falar.
Deveria ser crime inafiançável ficar contando longos casos sobre gente que não conhecemos e por quem não temos o menor interesse.
Se for história de doença, então, cadeira elétrica.
Não canse quem te quer bem.
Evite repetir sempre a mesma queixa.
Desabafar com amigos, ok.
Pedir conselho, ok também, é uma demonstração de carinho e confiança.
Agora, ficar anos alugando os ouvidos alheios com as mesmas reclamações, dá licença.
Troque o disco.
Seus amigos gostam tanto de você, merecem saber que você é capaz de diversificar suas lamúrias.
Não canse quem te quer bem.
Garçons foram treinados para te querer bem. Então não peça para trocar todos os ingredientes do risoto que você solicitou – escolha uma pizza e fim.
Seu namorado te quer muito bem.
Não o obrigue a esperar pelos 20 vestidos que você vai experimentar antes de sair – pense antes no que vai usar.
E discutir a relação, só uma vez por ano, se não houver outra saída.
Sua namorada também te quer muito bem.
Não a amole pedindo para ela explicar de onde conhece aquele rapaz que cumprimentou na saída do cinema.
Ciúme toda hora, por qualquer bobagem, é esgotante.
Não canse quem te quer bem.
Não peça dinheiro emprestado pra quem vai ficar constrangido em negar.
Não exija uma dedicatória especial só porque você é parente do autor do livro.
E não exagere ao mostrar fotografias.
Se o local que você visitou é realmente incrível, mostre três, quatro no máximo.
Na verdade, fotografia a gente só mostra pra mãe e para aqueles que também aparecem na foto.
Não canse quem te quer bem.
Não faça seus filhos demonstrarem dotes artísticos (cantar, dançar, tocar violão) na frente das visitas. Por amor a eles e pelas visitas.
Implicâncias quase sempre são demonstrações de afeto.
Você não implica com quem te esnoba, apenas com quem possui laços fraternos.
Se um amigo é barrigudo, será sobre a barriga dele que faremos piada.
Se temos uma amiga que sempre chega atrasada, o atraso dela será brindado com sarcasmo.
Se nosso filho é cabeludo, “quando é que tu vai cortar esse cabelo, garoto?” será a pergunta que faremos de segunda a domingo.
Implicar é uma maneira de confirmar a intimidade.
Mas os íntimos poderiam se elogiar, pra variar.
Não canse quem te quer bem.
Se não consegue resistir a dar uma chateada, seja mala com pessoas que não te conhecem.
Só esses poderão se afastar, cortar o assunto, te dar um chega pra lá.
Quem te quer bem vai te ouvir até o fim e ainda vai fazer de conta que está se divertindo.
Coitado.
Prive-o desse infortúnio.
Ele não tem culpa de gostar de você.”

Martha Medeiros


Tá, mas quem falou que amar é algo sobrenatural?
Amor é simples e, de tão simples, acontece nos menores lugares.
Amor é simples, não simplório.
Amor é pequeninho – é tudo com inho que o amor pode causar.
Beijinho. Abracinho. Beicinho. Bonitinho.
Amor é pensar em dizer me-liga e receber um SMS ao mesmo tempo.
É fazer compras juntos.
É passar a tarde inteira esperando ela fazer o cabelo ou ele sair do futebol com os amigos.
Amor é companhia.
Tem um quê de infantilidade, eu sei.
Mas quem é feliz sem um toque de imaturidade?
Amor é dançar juntos sem saber dançar.
É esperar o outro acabar de comer.
É tomar banho juntos para não se atrasar – ou pelo prazer de lavar as costas um do outro.
É se irritar com a barba arranhando o queixo e com os brincos gigantes que nos machucam quando vamos abraçar a pequena e tudo se embola: brincos, cabelos e nossas mãos ali perdidas.
Amor é se reinventar, eu sei.
É querer, de boa fé, que o outro faça mais por ele.
Estude mais.
Trabalhe mais.
Leia mais os contos do Coiro.
Ouça só essa banda.
Já viu a academia nova?
Por que você nunca chega no horário?
Por que você nunca está pronta no horário?
Como você não gosta de comida japonesa?
Como você nunca foi a um estádio de futebol?
Como?
Por quê?
Amor é um misto de perguntas sem respostas e respostas sem perguntas.
Amar é dividir: a cama (mesmo sabendo que essa divisão é injusta aos homens), as casquinhas de sorvete, os milkshakes de ovomaltine, o sofá e a vida.
Amar é ter ciúmes de um cara que deu um beijo qualquer na pequena em novembro de 2001.
Tão ridículo, mas incomoda.
Como naquele ciuminho idiota que causa ao falar o nome da primeira namorada que o teu rapaz teve no verão de 2002 e durou apenas três meses.
Amar é idiota.
É besta.
É estúpido.
É desnecessário – como todas as coisas inesquecíveis da vida.

Hugo Rodrigues              
 

 
Amores são como sapatos: os melhores são os que machucam.
Quanto mais nas alturas eles nos elevam, mais duro é voltar a ter os pés no chão quando a festa termina.
Não é bem assim.
De que adianta viver rodeada de scarpins salto 15 se eles não foram feitos para dançar a noite inteira?
E a história se repete.
É descer do salto e andar de pés descalços sujeita a cacos de vidros no chão.
Pois, é melhor correr o risco de se cortar do que parar de dançar, não é?
Sapatos (e amores), também precisam ser do número certo.
Os maiores são frouxos, sobra muito espaço vazio, abandonam os pés e se fazem perder pelo caminho.
Os menores apertam, sufocam, fazem sangrar e causam feridas pela falta de liberdade.
De ambos os jeitos, exigem cuidado demais a cada passo para evitar tropeços no primeiro paralelepípedo.
Dificultam a caminhada.
Tornam impossível pegar a estrada e seguir adiante.
Não adianta se contentar com o “quase serviu”.
Sapatos, assim como amores, não mudam seu jeito de ser só porque nos apaixonamos por eles.
Sapatos (e amores) precisam ser confortáveis, companheiros para enfrentar a caminhada junto.
Precisam nos encorajar a trilhar um caminho leve, sem dor.
Alguns se desgastam com o tempo, outros cedem e se rompem.
Tudo bem.
Aquele sapato (ou seria amor?) simplesmente não serve mais.
A busca hoje é esta.
Por sapatos e amores que não machuquem e que nos levem cada vez mais longe.
 
Luiza Garmendia

Se você, que se pretende uma mulher intuitiva, acha que seu namorado está aprontando, pode ter certeza: ele deve estar mesmo.
Mas cuidado: você pode também estar totalmente enganada.
Dizem que a intuição não falha e que os que têm esse dom devem confiar mais nele; e há quem diga que isso não existe e que é a experiência de vida que nos faz captar quando algo não muito claro está acontecendo.
As mulheres acham que captam no ar, antes mesmo que as coisas aconteçam, e quando - e se - acontecem, acreditam, mais que nunca, que são intuitivas. 
Já reparou que nunca se ouviu falar em intuição masculina?
Já a delas é famosa.
Quando uma mulher apaixonada está numa festa, e entra um tipo de mulher que pode balançar o coração do homem que ela ama, começa a ciumeira, antes mesmo que ele a veja. 
Pode não acontecer nada, em nome da civilidade, dos bons costumes, sobretudo da falta de oportunidade.
Mas se mesmo assim ela faz uma cena de ciúmes, é chamada de louca, e até com uma certa razão: mulheres ciumentas são mesmo um pouco loucas. 
Eu conheço uma que não vai com o marido ao cinema, quando o filme é com determinada atriz, porque sabe que ele vai desejá-la - muito saudável da parte dela, aliás.
Ele não verá jamais essa atriz a não ser na tela, a possibilidade de se conhecerem é uma em 1 trilhão, mas existe alguma coisa pior do que o homem que se ama desejar outra mulher?
É uma traição, tão grave quanto uma de verdade, e só as mulheres que amam entendem isso. 
Dá para amar sem ter ciúmes?
Não me consta.
Meu gato, Haroldo, está sofrendo, desde que trouxe um gatinho novo para casa; ele não chega mais perto de mim, e vive escondido pela casa.
Fui aconselhada a abraçá-lo e a fazer muitas declarações de amor no seu ouvido, bem baixinho, para que seus ciúmes passem, mas estamos vivendo uma grande crise de relacionamento, devido à minha traição.
Ele está coberto de razão. 
Nas regiões mais remotas existem sábios, sempre pessoas muito idosas, que pelo soprar do vento sabem se vai chover, que às primeiras palavras que ouvem acreditam ou não no que estão ouvindo, e sabem, num olhar, em quem podem ou não confiar.
Alguns já viveram tantas coisas que, num grupo desconhecido, percebem quem está interessado em quem e até se a história vai ou não rolar.
Serão elas adivinhas?
Não; têm apenas experiência de vida, e mais: têm o dom da percepção.
Lamentavelmente, vírus não transmissíveis. 
Continua a dúvida: é intuição ou experiência olhar e sacar se uma pessoa está doente, triste, deprimida, ou bem com a vida? 
Um bom médico que possua esse dom terá muito mais chances de curar seu paciente do que aquele que fez todos os estudos em todos os países.
Tenho perguntado sobre isso a amigos inteligentes, mas cada um tem lá suas opiniões, e alguns dizem que além da intuição e da experiência, é preciso ser muito atento.
Mesmo concordando com todos, ainda não cheguei a uma conclusão definitiva. 
Mas qualquer cachorro vira-lata sabe quem gosta dele; então, não é experiência de vida, é intuição - ou faro, se você preferir.
 
Danuza Leão

Se alguém perguntar se sua vida foi, até agora, um sucesso ou um fracasso, o que você vai responder?
Detalhe: dinheiro não tem nada a ver, ser famosa e ter aparecido em capas de revista também não. Então o que é ter tido uma vida de sucesso?
Bem, depende de cada um.
Todos nós já ouvimos, da boca de uma mulher modesta, a frase "criei meus filhos, estão todos encaminhados, posso me considerar realizada".
E quem nunca ouviu, de pessoas que aparentemente têm tudo - por tudo entenda-se família, saúde, dinheiro, amor, mesmo que não seja verdadeiro, e não necessariamente nessa ordem -, mas vivem eternamente infelizes, tentando, inutilmente, entender o significado da vida?
Temos todos - quase todos - excelentes razões para achar que nossa vida foi gloriosa ou um vale de lágrimas.
Você, por exemplo, já deve ter passado por ótimos e por péssimos momentos; quais ficaram na sua cabeça, ou melhor, no seu coração?
Os melhores ou os piores?
É difícil fazer essa avaliação; às vezes a gente se acha uma pessoa privilegiada, outras vezes uma pobre coitada.
Depende de quais valores naquele momento são os seus, pois dependendo da hora, eles também mudam.
Houve um tempo em que seus sonhos se resumiam a passar a vida viajando pelo mundo, num turbilhão que não deixasse tempo nem para pensar; isso sim, seria a felicidade -só que não foi.
Depois houve um outro momento em que tudo que quis foi encontrar um bom marido, mesmo meio sem graça, mas que tivesse hora certa de chegar em casa, e um bando de crianças em volta perturbando bastante o seu juízo para não ter tempo de pensar se era feliz ou infeliz.
Isso sim, seria a felicidade - só que também não foi.
Aí achou que o importante seria a realização pessoal, independente da vida sentimental - ou melhor, de um homem.
Isso sim, seria a verdadeira felicidade.
Também não foi, mas conseguiu o que parecia impossível: viver sem ter que estar permanentemente apaixonada, ou melhor, sem inventar que estava apaixonada.
Hoje, se alguém perguntar se sua vida foi -até agora- um sucesso ou um fracasso, continuaria sem saber responder.
Foram muitos os bons momentos, tão felizes e tão inesquecíveis, que prefere até esquecer.
Quanto aos maus momentos, foram também tantos, que faz tudo para não lembrar, e às vezes até consegue.
Se houvesse uma maneira de apagar tudo, passar uma borracha, não lembrar nem do bom nem do ruim, zerar - é, zerar tudo, como seria bom.
Agora, pelo menos, já sabe; às vezes acorda feliz, sem nem saber por que, sai de casa, na primeira esquina tropeça e fica no pior humor da vida.
Já no dia seguinte acorda péssima, um amigo telefona e fala de maneira carinhosa, e a vida se torna, de repente, deliciosa de ser vivida.
É essa certeza de que tudo pode mudar em minutos, segundos, que nos ajuda a segurar, quando tudo fica difícil.
Quando as coisas estiverem indo mal, pense em quantas outras vezes elas estiveram tão mal quanto, às vezes até pior -e depois passou.
Não se queixe, não reclame, não chore, não se descabele, apenas espere; apenas espere, com aquela quase resignação que parece até indiferença, que vê tantas vezes nos olhos dos mais velhos, que sabem que vai passar -porque sempre passa.
A essa resignação se pode chamar sabedoria ou experiência - o que, no final, é mais ou menos a mesma coisa.

Danuza Leão

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“As palavras são a voz do coração. Onde quer que você vá,vá com todo o coração. Por muito longe que o espírito alcance,nunca irá tão longe como o coração.”(Confúcio)

Quem sou eu

Sou uma pessoa de bem com a vida e dificilmente você me verá de mau humor.Tento levar a risca o ditado "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você". Procuro me rodear de pessoas alegres e que me olham nos olhos quando eu falo. Acredito que energia positiva atrai energia positiva.

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