terça-feira, 2 de abril de 2013
19:57:00
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Reflexos do meu ser
Dia desses fui acompanhar uma amiga que estava procurando um apartamento para
comprar.
Ela selecionou cinco imóveis para visitar, todos ainda ocupados por
seus donos, e pediu que eu fosse com ela dar uma olhada.
Minha amiga, claro,
estava interessada em avaliar o tamanho das peças, o estado de conservação do
prédio, a orientação solar, a vizinhança.
Já eu, que estava ali de graça, fiquei
observando o jeito que as pessoas moram.
Li em algum lugar que há uma regra de decoração que merece ser obedecida:
para onde quer que se olhe, deve haver algo que nos faça feliz.
O referido é
verdade e dou fé.
Não existe um único objeto na minha casa que não me faça
feliz, pelas mais variadas razões: ou porque esse objeto me lembra de uma
viagem, ou porque foi um presente de uma pessoa bacana, ou porque está comigo
desde muitos endereços atrás, ou porque me faz reviver o momento em que o
comprei, ou simplesmente porque é algo divertido e descompromissado, sem
qualquer função prática a não ser agradar aos olhos.
Essa regra não tem nada a ver com elitismo.
Pessoas riquíssimas podem viver
em palácios totalmente impessoais, aristocráticos e maçantes com suas torneiras
de ouro, quadros soturnos que valem fortunas e enfeites arrematados em leilões.
São locais classudos, sem dúvida, e que devem fazer seus monarcas felizes, mas
eu não conseguiria morar num lugar em que eu não me sentisse à vontade para
colocar os pés em cima da mesinha de centro.
A beleza de uma sala, de um quarto ou de uma cozinha não está no valor gasto
para decorá-los, e sim na intenção do proprietário em dar a esses ambientes uma
cara que traduza o espírito de quem ali vive.
E é isso que me espantou nas
várias visitas que fizemos: a total falta de espírito festivo daqueles
moradores.
Gente que se conforma em ter um sofá, duas poltronas, uma tevê e um
arranjo medonho em cima da mesa, e não se fala mais nisso.
Onde é que estão os
objetos que os fazem felizes?
Sei que a felicidade não exige isso, mas pra que
ser tão franciscano?
Um estímulo visual torna o ambiente mais vivo e
aconchegante, e isso pode existir em cabanas no meio do mato e em casinhas de
pescadores que, aliás, transpiram mais felicidade do que muito apê cinco
estrelas.
Mas grande parte das pessoas não está interessada em se informar e em
investir na beleza das coisas simples.
E quando tentam, erram feio, reproduzindo
em suas casas aquele estilo showroom de megaloja que só vende móveis laqueados e
forrados com produtos sintéticos, tudo metido a chique, o suprassumo da falta de
gosto.
Onde o toque da natureza?
Madeira, plantas, flores, tecidos crus e,
principalmente, onde o bom humor?
Como ser feliz numa casa que se leva a
sério?
Não me recrimine, estou apenas passando adiante o que li: pra onde quer que
se olhe, é preciso alguma coisa que nos deixe feliz.
Se você está na sua casa
agora, consegue ter seu prazer despertado pelo que lhe cerca?
Ou sua casa é um
cativeiro com o conforto necessário e fim?
Minha amiga ainda não encontrou seu novo lar, mas segue procurando, só que
agora está visitando, de preferência, imóveis já desabitados, vazios, onde ela
possa avaliar não só o tamanho das peças, a orientação solar, o estado geral de
conservação, mas também o potencial de alegria que os ex-moradores não souberam
explorar.
Martha Medeiros
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19:42:00
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Reflexos do meu ser
Houve um tempo que eu detestava roupas amarelas.
O que não deixava de ser
estranho, uma vez que essa cor tem uma energia que combina com meu estado de
espírito.
Mas me fechei para o amarelo de uma forma ranzinza e implicante, e
nesse fechamento creio que enclausurei uma parte importante de mim que passou a
fazer falta.
A parte em que deixo de imitar a mim mesma a fim de permitir que eu
me surpreenda.
Explico: durante a vida a gente vai assimilando ideias, cultivando gostos, estabelecendo maneiras de ser, até que vira um ser humano aparentemente acabado: sou desse jeito, prefiro isso, não suporto aquilo, minha turma é essa, daqui não saio.
Explico: durante a vida a gente vai assimilando ideias, cultivando gostos, estabelecendo maneiras de ser, até que vira um ser humano aparentemente acabado: sou desse jeito, prefiro isso, não suporto aquilo, minha turma é essa, daqui não saio.
Instalamo-nos numa bolha confortável e já temos as
respostas prontas para quem vier bater à nossa porta.
Na hora de enfrentar as demandas do dia a dia, nada mais simples: é só imitar aquela criatura com a qual nos habituamos.
Na hora de enfrentar as demandas do dia a dia, nada mais simples: é só imitar aquela criatura com a qual nos habituamos.
Já temos o manual de instruções decorado.
Sou desse jeito, prefiro isso, não suporto aquilo etc, etc.
Até que chega um momento em que você se dá conta de que parece um boneco em que deram corda e que vive repetindo as mesmas frases, os mesmos gestos, sem nenhuma reflexão a respeito.
Até que chega um momento em que você se dá conta de que parece um boneco em que deram corda e que vive repetindo as mesmas frases, os mesmos gestos, sem nenhuma reflexão a respeito.
Está há anos imitando a si mesmo, pois é fácil e rápido, um
modelo pra lá de conhecido.
No entanto, você tem uma reserva de imaginação,
ainda sem uso, que deve ser acionada para o que, às vezes, se faz necessário:
rasgar o manual e escrever uma nova história a partir do zero.
Pois então estava eu, caminhando por uma calçada, de bobeira, quando passei por uma vitrine e vi um desses manequins sem rosto vestindo um casaco colorido, uma calça jeans e uma bota amarela.
Pois então estava eu, caminhando por uma calçada, de bobeira, quando passei por uma vitrine e vi um desses manequins sem rosto vestindo um casaco colorido, uma calça jeans e uma bota amarela.
Meu olhar de Cyborg (ninguém foi criança
impunemente) focalizou a bota, deu-lhe ampliação e fez com que ela se destacasse
do conjunto.
Eu não enxergava mais nada, só aquela bota amarela.
Eu não enxergava mais nada, só aquela bota amarela.
E, como
num transe, entrei na loja, pedi meu número e provei a bota, sem ter a mínima
ideia onde, quando e com que coragem a usaria um dia.
Eu simplesmente saquei meu
cartão de crédito e comprei a metáfora da vida que eu pretendia levar dali por
diante.
Se não usá-la, poderei colocá-la numa prateleira da parede para que ela me lembre de que não precisamos ter uma cor preferida, que nossas convicções podem ser reavaliadas sem prejuízo à nossa imagem, que o que a gente gostava antes não precisa ser aniquilado em detrimento de nossos novos e frívolos amores, que ninguém perderá sua essência só porque resolveu variar de personagem.
Insistir nas próprias convicções é um perigo.
Se não usá-la, poderei colocá-la numa prateleira da parede para que ela me lembre de que não precisamos ter uma cor preferida, que nossas convicções podem ser reavaliadas sem prejuízo à nossa imagem, que o que a gente gostava antes não precisa ser aniquilado em detrimento de nossos novos e frívolos amores, que ninguém perderá sua essência só porque resolveu variar de personagem.
Insistir nas próprias convicções é um perigo.
A certeza nem
sempre é amiga da sanidade.
Se eu fosse uma fashionista, ninguém estranharia,
mas não sendo, há quem vá me achar meio maluca desfilando de bota amarela por
aí.
Não importa.
Ela estará me conduzindo justamente ao saudável mundo do
desapego de nossas crenças.
Martha Medeiros
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“As palavras são a voz do coração. Onde quer que você vá,vá com todo o coração. Por muito longe que o espírito alcance,nunca irá tão longe como o coração.”(Confúcio)
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- Sou uma pessoa de bem com a vida e dificilmente você me verá de mau humor.Tento levar a risca o ditado "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você". Procuro me rodear de pessoas alegres e que me olham nos olhos quando eu falo. Acredito que energia positiva atrai energia positiva.
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