terça-feira, 6 de outubro de 2015
 
 
Homem não sabe mais seduzir.
Sei lá se isso é culpa do excesso de praticidade ou se é inaptidão pura.
O fato é que as meias-palavras, intenções sabidas e não explicitadas, o cuidado de criar algo interessante pra ser dito e feito estão mais raros de encontrar do que corvo albino.
Tá tudo pá-pum: olhou, se apresentou, elogiou a bunda e já vai botando a mão.
Putz, coisa tosca!
Mulher não é mamão pra se escolher apalpando.
Que decepção teria Vinicius de Moraes se visse os marmanjos de hoje em dia…
Em vez da Garota de Ipanema, a Popozuda.
De “teu corpo dourado é mais que um poema, é a coisa mais linda que já vi passar” pra “bate na palma da mão, bate na palma da mão e rebola o popozão”.
Uma desgraça completa.
E o que aborrece não é a intenção por trás da corte, a mesma para os raros românticos ou os abundantes broncos: trepar com a fofa.
Isso não tem problema.
É, inclusive, divertido – poucas coisas fazem uma cidadã mais feliz do que saber que está matando alguém de tesão mesmo sem fazer nada.
O ruim é que o jogo ficou escancarado demais, babacão, sabe?
O excesso de pragmatismo nessas horas tem o mesmo efeito de parar de blefar no pôquer – retirado o suspense, perde-se toda a graça.
Se espero brilhantismo chicobuarqueano numa cantada?
Ih, não me resta esperança suficiente pra isso.
Basta não ser surpreendida por atos estapafúrdios, português assassinado e cérebro vazio.
E não se trata de romantismo: só quero inteligência agindo em prol da libido, sabe como é?
Coisinhas simples e especiais que fazem um homem sair da multidão para se instalar na minha cama e, às vezes, na minha vida (que, aliás, está sem vagas).
Porque é muito fácil disparar um “sabia que você é gostosa, gata?”, mas difícil fugir do óbvio – e, quando o cidadão faz isso, é sinal de que matou pelo menos um neurônio no processo.
É um sinal, e mulheres adoram sinais.
Há muitos anos, fui apaixonada por um cara que trabalhava comigo e, confesso, jamais fui boa em abordagens tête-à-tête; sempre preferi as vias indiretas.
Depois de algum tempo, e um longo trecho de via indireta, começamos a sair juntos, completamente sem pretensões ou conjugação de verbos no futuro, mas fiquei apaixonada – só que, parecia, estava sozinha nessa.
Então, 16 horas antes do Dia dos Namorados, mandei entregarem a ele um lindo buquê de lírios-brancos com um bilhete: “Quase um presente, quase amanhã, para alguém que é quase meu namorado”.
Não casamos nem nada, mas tivemos dias deliciosos e até hoje, todas as vezes que nos encontramos, ele relembra o episódio – me instalei definitivamente em sua memória.
Não foi no coração, mas já é alguma coisa.
Se pararmos para pensar um minutinho só talvez cheguemos à conclusão de que as mulheres estejam partindo pro ataque não apenas por compulsão para seduzir mas também por não serem adequadamente atacadas.
É o triunfo da velha regra: se quer que algo saia bem-feito, faça você mesmo.
Porque digo isso com certeza, é muito mais gostoso deixar um homem abobado do que suportar um bobo bancando o homem.
 
Ailin Aleixo
 
Você é tão sensível. Tão emocional. Tão defensiva. Você está exagerando. Calma. Pare de surtar! Você é louca! Eu estava só brincando, você não tem senso de humor? Você é tão dramática. Deixa pra lá de uma vez! 
Soa familiar? Se você é uma mulher, provavelmente sim. 
Você alguma vez escuta esse tipo de comentário de seu marido, parceiro, chefe, amigos, colegas ou parentes após expressar frustração, tristeza ou raiva sobre algo que eles disseram ou fizeram?
Quando alguém diz essas coisas a você, não é um exemplo de comportamento sem consideração.
Quando seu marido aparece meia hora atrasado para o jantar sem avisar – isso é desconsideração. Uma observação com o propósito de calar você –como, “Relaxa, está exagerando” – logo após você apontar o comportamento ruim de alguém é manipulação emocional, pura e simples.
E é esse o tipo de manipulação emocional que alimenta uma epidemia em nosso país, uma epidemia que define as mulheres como loucas, irracionais, exageradamente sensíveis e confusas.
Essa epidemia ajuda a alimentar a ideia de que as menores provocações fazem com que as mulheres libertem suas (loucas) emoções. Isso é falso e injusto. 
Acho que é hora de separar o comportamento sem consideração de manipulação emocional. 
É muito mais fácil manipular emocionalmente alguém que foi condicionado por nossa sociedade para tal.
Nós continuamos a impor isso sobre as mulheres pelo simples fato de que elas não recusam nossos fardos.
É a covardia suprema.
E mesmo que isso não seja verdade universal para todas as mulheres, nós certamente conhecemos muitas delas que enfrentam isso no trabalho, em casa ou em seus relacionamentos. 
E o ato de manipular emocionalmente não afeta só mulheres inseguras.
Até mesmo mulheres assertivas e confiantes estão vulneráveis.
Por que? 
Porque as mulheres suportam o peso da nossa neurose.
É muito mais fácil para nós colocar nossos fardos emocionais nos ombros de nossas esposas, amigas, namoradas e empregadas, do que é impô-los nos ombros dos homens. 
Por mais que seja consciente ou não, produz o mesmo resultado: torna algumas mulheres emocionalmente mudas. 
Essas mulheres não conseguem expressar com clareza para seus esposos que o que é dito ou feito a elas as machuca.
Elas não conseguem dizer a seus chefes que esse comportamento é desrespeitoso e as impede de trabalhar melhor.
Elas não conseguem dizer a seus parentes que, quando eles são críticos, estão fazendo mais mal do que bem.
Quando essas mulheres recebem qualquer tipo de reprimenda por suas reações, tendem a deixar passar, pensando, “Esqueça, tá tudo bem.” Esse “esqueça” não significa apenas deixar um pensamento de lado, é ignorar a si mesma. 
Me parte o coração. 
Não é de se admirar que algumas mulheres sejam inconscientemente passivas agressivas ao expressarem raiva, tristeza ou frustração.
Por anos, têm se sujeitado a tanto abuso que nem conseguem mais se expressar de um modo que seja autêntico para elas. Elas dizem “sinto muito” antes de darem sua opinião. 
Em um email ou mensagem de texto, colocam uma carinha feliz ao lado de uma questão ou preocupação séria, de modo a reduzir o impacto de expressarem seus verdadeiros sentimentos. 
Você sabe como é:  
“Você está atrasado  ” 
Não acho que essa ideia de que as mulheres são “loucas” está baseada em algum tipo de conspiração massiva.
Na verdade, acredito que está conectada à lenta e firme batida das mulheres sendo minadas e postas de lado, diariamente.
Essa manipulação é uma das muitas razões pelas quais estamos lidando com essa construção pública das mulheres como “loucas”. 
Essas são as mesmas mulheres que seguem em relacionamentos dos quais deveriam sair, que não seguem seus sonhos, que desistem da vida que gostariam de viver. 
Reconheço ter feito isso com minhas amigas e namoradas no passado.
É vergonhoso, mas fico feliz em ter me dado conta disso e cessado de agir dessa maneira.
 
Yashar Ali
terça-feira, 7 de julho de 2015
 
Todos são compreensivos, aceitam tão bem suas escolhas, torcem por tudo o que você faz, não é mesmo?
Desde que você faça o que está no script.
Que siga o que foi determinado no roteiro, aquele que foi escrito sabe-se lá por quem e homologado no instante em que você nasceu.
Mas e quem não quiser seguir esse script?
Em dezembro próximo, serão completados 30 anos da morte da escritora Clarice Lispector, que entendia de subversões emocionais.
Fui convidada a participar de um evento que a homenageia, em Porto Alegre, e em função disso andei relendo algumas de sua obras, e encontrei no conto “Amor”, do livro “Laços de Família”, uma de minhas frases prediletas.
Assim ela descreve o sentimento da personagem Ana: “Seu coração enchera-se com a pior vontade de viver.” 
Ela é complexa, angustiante, subjetiva e intensa.
Ela, “a pior vontade de viver”.
A que não está disposta a negociar com a vontade dos outros.
No entanto, esta que foi chamada de a “pior” vontade pode ser também uma vontade genuína e inocente.
É a vontade da criança que ainda levamos dentro, entranhada.
É o desejo de açúcar, de traquinagem, de fazer algo escondido, de quebrar algumas regras, de imitar os adultos.
A “pior” vontade é curiosa, quer observar o buraco pela fechadura e, depois, mais ousadamente, abrir a porta e entrar no quarto proibido.
A “pior” vontade é da não se enraizar, não assinar contrato de exclusividade, não firmar compromisso, não render-se as vontades fixas, apenas as vontades momentâneas, por as fixas correm o risco de deixarem de ser vontade para se transformarem em vaidade – como se sabe, há sempre aqueles que envaidecem da própria persistência.
A “pior” vontade não quer ganhar medalha de honra ao mérito, não quer posar para fotografias, não quer completar bodas de ouro nem ser jubilada.
A “pior” vontade  não faz a menor questão de ser percebida, ela quer ser realizada.
É quando você sabe que não deveria, mas vai.
Sabe que não será fácil, mas enfrenta.
Sabe que tomarão como agressão, mas arrisca.
Aqui cabe lembrar: apenas se sentem agredidos aqueles que te invejam.
A vontade oficial, a vontade santinha, a que não causa incômodo, é a outra, a aprovada pela sociedade, a que não leva em conta o que vai no seu íntimo, e sim a opinião pública.
É a vontade que todos nós temos de mostrar para os outros que somos felizes, sem saber que para conseguir isso é preciso, antes, ter a “pior” vontade, aquela que faz você descobrir que ser feliz é ter consciência do efêmero, é saber-se capaz de agarrar o instante, é lidar bem com o que não é definitivo-ou seja, tudo.
É com esta “pior” vontade de viver que você atrai os outros, que seu magnetismo cresce, que seu rosto rejuvenesce e que você fica mais interessante.
É uma pena que nem todos tenham a sorte de deixar vir a tona esta que Clarice Lispector chamou de a pior vontade de viver, que, secretamente, é a melhor”
 
Martha Medeiros 
 
 
 
Vida é o que existe entre o nascimento e a morte.
O que acontece no meio é o que importa. […]
Que tudo o que faz você voltar pra casa de mãos abanando (sem uma emoção, um conhecimento, uma surpresa, uma paz, uma ideia) foi perda de tempo. […]
No meio, a gente descobre que sofremos mais com as coisas que imaginamos que estejam acontecendo do que com as que acontecem de fato.
Que amar é lapidação, e não destruição.
Que certos riscos compensam – o difícil é saber previamente quais.
Que subir na vida é algo para se fazer sem pressa.
Que é preciso dar uma colher de chá para o acaso.
Que tudo que é muito rápido pode ser bem frustrante. […]
Que a vontade é quase sempre mais forte que a razão.
Quase? Ora, é sempre mais forte. […]
Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável.
Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo).
Que tocar na dor do outro exige delicadeza. […]
No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário.
Que é mais produtivo agir do que reagir.
Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. […]
Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade.
E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo.
 
Martha Medeiros
sábado, 20 de junho de 2015
 
Não, você não precisa concordar com tudo o tempo todo só para não se indispor com seja lá quem for.
Também não precisa gostar do que todo mundo gosta só para não estar só.
Nada disso.
Entre outras coisas, liberdade serve para isso mesmo.
Para discordarmos de quem quisermos, quando desejarmos.
Discordemos, pois!
Tem gente por aí tentando provar o contrário, mas você e eu ainda somos livres para ter opinião.
E quem abre mão de seu direito à opinião neste mundo tem a mesma relevância de um repolho.
Um repolho cortado ao meio.
Um vegetal no último estágio de sua existência.
Vegetando à espera da bocarra alheia ou do latão do lixo.
É raro, mas ainda que você tenha um milhão de amigos, mesmo que encontre um número imenso de pessoas pela vida, mil, dez mil, cem milhões, ainda que conte com um batalhão de afetos, admiradores, discípulos, funcionários e afins, acredite: você não precisa agradar a todos eles a toda hora.
Não pode concordar com eles sempre, de qualquer jeito, e nem deve roubar-lhes a liberdade de discordar de você quando quiserem.
Então, por caridade, fuja da obrigação de contentar a qualquer custo quem estiver perto.
Aliás, será mesmo que “amigo” é aquele a quem não se pode desagradar jamais?
Será de fato que os nossos melhores amigos são aqueles de quem discordamos nunca?
Se lhe resta alguma esperança mínima de acreditar que sim, desista.
Não vai dar.
Quem acha possível encantar de qualquer jeito a Deus e ao mundo perde tempo, dinheiro, amor próprio, respeito, saúde.
E há de se frustrar para sempre.
Discordar é preciso de quando em vez.
Você sabe.
Os impecáveis de plantão adoram pontificar sobre a verdade das coisas e a fórmula da perfeição.
Estão sempre aí, feito emas pescoçudas, escondidas na moita, à espreita, esperando para disparar suas normas de conduta.
São os de sempre, bradando velhas regras caquéticas copiadas de outro alguém: “ah, o amor de verdade não acaba”, “quem ama não tem medo de nada”, “leite com manga dá congestão” e outras piadas.
Tudo assim, determinado por decreto.
Verdades absolutas.
Montados em certezas de quatro patas, eles vêm com a profundidade de um pires e a sabedoria das capivaras disparando convicções.
Olhe ao redor.
Tem sempre uma moita balançando por perto.
Você respira mais alto e pronto.
Um monstro pavoroso lhe salta à frente e lhe cospe na cara uma certeza pegajosa.
É aí que começa o trabalho pesado.
Você vai ter de decidir entre concordar e discordar.
Se consentir, abana a cabeça em silêncio para evitar a discussão e se junta à manada.
Agora, se resolver discordar, prepare-se.
Você vai assumir a forma de um bicho odioso, um ser “do contra”, um “antipático”, “metido a besta” e outros elogios.
Que seja.
A escolha é sua.
A vida é sua.
Você é livre para concordar ou discordar de quem quiser, não precisa gostar do que todo mundo gosta e nem odiar o que todos odeiam.
Vá para onde quiser estar.
Porque o lugar-comum para onde todos vão, lá onde vivem os que concordam com tudo, anda entupido de gente chata, jogando lixo no chão, falando alto em fila de cinema.
Para quem está disposto a pagar o preço, dizer o que pensa e sobreviver ao ataque, a vitória é doce.
É o gosto bom de discordar ou concordar quando quiser e seguir adiante, enquanto observa de longe a matilha dos gênios a postos, uniformizados, paralisados no tempo e no espaço à espera de novos alvos, como velhas chaves penduradas num prego, esquecidas pelo mundo, fiscalizando a vida que amanhece e anoitece seu dia vai, dia vem.
Bem ali, logo acima do latão de lixo carcomido, onde jazem meios repolhos jogados fora.
 
André J. Gomes
 
Você sente que o mundo está as avessas, que o mal sobrepõe o bem, que tudo é difícil e as tristezas são  ilimitadas?
Pois saiba que as dificuldades estão por aí em toda parte, rondando a sua casa, a minha e de mais um monte de gente.
Quando menos esperamos algo nos tira do sossego, como se estivéssemos deitados sobre um tapete sendo subitamente sacudido.
Todo mundo leva tranco.
A diferença é o que cada um faz com ele.
Eu tenho certeza que você já ouviu falar sobre os diferentes pontos de vista, e é aí que eu quero chegar.
Se nos sentimos dispostos ou desanimados, realizados ou insatisfeitos.
Se percebemos os erros e aprendemos junto com eles, ou simplesmente nos sentimos injustiçados e culpamos o outro.
Se enxergamos os tropeços e damos graças às conquistas.
Ou não.
Tudo é reflexo do nosso olhar sobre a vida.
É ele que determina o nosso sentimento e o que fazemos a respeito, se ruminamos a hostilidade, se proferimos a gratidão ou se somamos esperanças.
Parece óbvio, né?
Mas quando a vida nos sacode ninguém perde tempo para pensar em nada disso.
Começa o discurso do injuriado.
Procuramos logo culpar alguém e pagar na mesma moeda.
Talvez o nosso piloto automático esteja ligado em um modo de operação “devolver o ódio”, por isso não analisamos nada, nós simplesmente rebatemos.
Outra coisa.
Temos a tendência de comparar-nos aos outros e achar que os nossos problemas são maiores, que a nossa dor é mais pungente, que o nosso buraco é mais fundo.
Mas por quê?
Ora, porque somos egocentristas por natureza.
Isso é inegável.
E não que seja algo ruim.
Está apenas ligado à nossa percepção do mundo, que, claro, vem subsequente à visão própria.
Aquele que se assume infeliz porque diz não ter sorte, porque seus planos não se concretizam ou porque se sente perseguido, será que ele tem mesmo razão?
Não será a forma de enxergar o problema que influencia a percepção e a reação sobre ele?
Lembremos: Tudo é uma questão de ponto de vista.
Um mesmo fato é compreendido por diferentes maneiras.
Há quem assimile o tombo como uma consequência, outros dizem que ele é predecessor, propulsor, promissor, uma forma de aprendizado, um sinal, e por aí vai.
Acontece que a nossa percepção está diretamente ligada ao que somos, às nossas crenças e ao que construímos ao longo dos anos.
A afirmação de que todos nós precisamos de um espelho para nos lembrar quem somos é seminal.
Porque somos o resultado das nossas colheitas e, se foram boas ou más, elas seguramente influenciarão o nosso juízo diante do novo.
Vemos através do que somos.
Se somos amor, veremos com amor.
Se somos ódio, cegos de ódio seremos.
Os ciclos se abrem e se fecham, se puxam, somam, enredam uns nos outros.
Se remoermos tristeza, atrairemos rancor.
Assim como a esperança traz felicidade e a gratidão leva a paz.
É o olhar que direciona a nossa perspectiva.
Ele inicia uma cadeia de sentimentos e comanda todas as nossas ações.
Se pararmos para enxergar o lado bom da vida seguramente reagiremos de forma positiva e os pesares ganharão certa leveza no decorrer do caminho.
No final das contas, tudo é lição e aprendizado.
O ideal, apesar das sacudidas, é seguir adiante.
Como disse Sartre:
“Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.
 
Karen Curi
 
 
Não tenho medo do escuro, nem de gente e muito menos da solidão.
Não me amedronta pensar em adoecer, ou que terei que mudar de país, de vida, de rumo.
Não tenho medo da morte, da fome, do desemprego, de ser esquecida.
Não temo a insegurança do amanhã, nem o futuro da humanidade.
A única coisa que me deixa em pânico é não poder ser eu mesma.
Essa é a minha grande paúra: a de me anular.
Acontece inconscientemente.
A gente agrada um aqui, deixa o outro passar ali na frente e logo nos colocamos em segundo plano.
Às vezes, no último plano.
Porque queremos agradar e por isso somos bons.
Bons até demais.
Temos a necessidade de nos sentir acolhidos e fazer parte do contexto.
Permitimos que outras pessoas assumam o papel principal da nossa própria vida enquanto assistimos, quietos, na plateia, absolutamente passivos.
Sem voz ativa seguimos o fluxo como ovelha no rebanho.
Deixamos que passem na frente, que assumam o comando, que se sentem, que se sirvam.
Por medo da rejeição ou a imprescindibilidade de ser aceito.
Nós concordamos, calamos, nos omitimos.
Eu tenho medo, tenho sim, de não perceber quando não estou sendo eu mesma, e de assim permanecer, atrofiada no interior de mim.
Tenho medo de me perder de quem eu sou, dos meus gostos, do meu jeito, da minha fala e meu discurso.
Tenho medo de me esquecer da minha essência e deixar enferrujar as minhas memórias.
Medo de repreender as minhas vontades e anular os meus prazeres.
Medo de ir contra as minhas ideias, de aceitar o inaceitável, de ceder quando for imprescindível dizer que não.
Medo de permitir que me invadam, de ajoelhar e abaixar a cabeça e não conseguir mais me reerguer.
Medo de perder a voz, de caminhar atrás dos outros, de gostar do que eu não gosto.
Medo de querer e não ter forças para agir, de perder a sensibilidade, de parar de sonhar, de viver como se estivesse morta.
Por certo já aconteceu com você também.
Aposto que foi tão ruim que você não quer viver isso nunca mais.
A gente cai em si e retoma as rédeas do próprio destino.
Voltamos a assumir o nosso posto, a ser exatamente quem somos e como somos.
Acordamos a tempo de resgatar o nosso eu que acabou naufragando por dentro e passamos a nos priorizar novamente.
O mais difícil é perceber quando se está morto e continua vivo.
Porque na maioria das vezes a gente vai morrendo aos poucos, dia após dia, sem se dar conta.
Uma vez que existe essa noção e alguma força para sobreviver, haverá tempo para tomar fôlego e nos salvar da nossa morte, até então acatada.
Eu tenho medo, tenho mesmo.
Mas não entrego os pontos.
 
Karen Curi
 
Vivemos em uma sociedade cada vez mais consumista, competitiva e individualista, e que não tem mais tempo para os pequenos prazeres da vida.
Trabalhamos muito e não reparamos no pôr do sol.
Somos rodeados por pessoas e não nos enxergamos.
Provavelmente estamos nos especializando em nos comunicar melhor através das telas ao invés dos nossos olhos nos olhos.
Observe.
Tem gente que tem praticamente tudo e, mesmo assim, ainda se sente infeliz.
Pode ser que essas pessoas se preocupam mais com as expectativas dos outros do que com seus próprios desejos.
Ou esperam somente o que vem do outro para se sentirem inteiras.
Ou, então, têm dificuldade de lutar por suas próprias escolhas.
Uma vez conheci uma senhora bem humilde que declamou um poema para mim.
Minha alma voou com aquelas palavras inesperadas de Vicente de Carvalho:
“Só a leve esperança, em toda a vida. Disfarça a pena de viver, mais nada”.
Ao nos despedirmos daquele encontro, agradeci com emoção aquele ato que alegrou tanto o meu dia.
Em seus olhos cansados, percebi que ela usava a poesia para entender a vida.
O sentido da vida deve ser esse mesmo, a superação de todos os obstáculos e todos os medos. Se perdermos nossa coragem, deixaremos de sonhar.
Se desistirmos de nossos sonhos, seremos pequenos desiludidos perdidos pelo mundo.
Ao construirmos a nossa felicidade em nós mesmos, deixaremos de procura-la onde ela não está.
Não é à toa que cada vez mais pessoas se sentem isoladas ou esgotadas.
Apressadas, não prestam devida atenção nas coisas ao seu redor, e, distraídas, não notam como pequenas atitudes movem as suas vidas.
Dizer “por favor”, “bom dia” e “obrigado” é tão poderoso que pode fazer toda diferença no cotidiano tanto de quem as fala como de quem as escuta.
Quando aprendemos a olhar para nós mesmos, olhamos os outros também.
E vice-versa.
É um ciclo vicioso do bem.
Nos sentimos gratos por um afeto e praticamos uma gentileza.
Ao sermos gentis, recebemos alegria.
Encontramos amor em nossa família e amigos, e aprendemos a lidar com qualquer sofrimento.
Respeitamos nossas diferenças.
E aprendemos que escutar a opinião dos outros é ter bom senso, mas ainda somos livres para vivermos de acordo com nossas próprias escolhas.
Juntos, também desenhamos a esperança todas as vezes que precisarmos dela.
A cada página ruim que viramos de nossas histórias, criamos novas oportunidades.
Em cada saudade boa que guardamos, encontramos força para seguirmos adiante.
Enfim, contemplamos as coisas simples da vida.
O cheiro das flores, a música da orquestra e as cores do alvorecer nos tocam porque a beleza do mundo nos traz equilíbrio.
Mais leves, nos percebemos com os olhos do coração e sentimos gratidão por estarmos aqui.
Porque encontramos inspiração não no que nos sobra, mas na arte de ser feliz com o que nos resta.
 
Rebeca Bedone
quarta-feira, 13 de maio de 2015
 
Por que no final da tarde dá mesmo essa vontade de deixar pra lá.
Não importa quantas xícaras de café ou taças de vinho que vamos esvaziando quase sem perceber, a noite se aproxima tão pesada e solitária que tenta afundar o que há de concreto em nós.
No fim da tarde estamos tão cansados que só queremos ser acolhidos, procuramos cada lugar pequeno, apertado e escuro onde possamos nos esconder dessa imersão não consentida.
Queremos tropeçar e cair, torcendo para que a queda machuque, porque assim poderemos chorar uma dor física e no meio de toda lamentação colocaremos também toda a frustração invisível.
Às vezes, quando o sol vai se pondo, revelamos a parte mais sensível e delicada que possuímos.
Somos fracos, cansamos de ser forte.
Os discursos outrora escutados com desdém agora nos atravessam como fecha inflamada bem no meio das nossas certezas de concreto.
É efeito dominó, colocamos tudo em cheque.
Será que vale a pena?
Será que vale mesmo a pena?
Por isso mesmo queremos nos esconder, estamos expostos.
Estamos indefesos, assustados e sem rumo.
Tudo é motivo de dúvida, de se pensar umas duas vezes ou até mais.
Não queremos fazer investimento sem fundo, queremos ser fortes.
Contudo, estamos cansados de sermos super-heróis.
E no fundo não é do mundo que estamos com medo, mas das nossas escolhas, daquilo que não escolhemos e daquilo que queremos.
O engraçado é que no fim do dia acabamos pensando, o mundo é mesmo um sujeitinho egoísta que não se importa com as feridas e confusões da alma humana…
Mas, só estamos cansados de ser tão mecânico e impessoal.
Não dá pra ser filtro o tempo todo, estamos tão cansados de selecionar o que nos atravessa ou não, mas ser esponja também é assustador.
E é assim que amanhecemos em uma noite afundada em escuridão: cansados, assustados, com as certezas a despencar ladeira abaixo, com uma garrafa de café ou vinho vazia, com a alma inundada em tanta incerteza.
Só não sabemos que no fim da noite poucas coisas terão sobrevivido ao fim de tarde.
As certezas de concreto vão mesmo se esvair, é natural.
Contudo, as “certezas por um fio” permaneceram intactas, elas podem ser imersas as mais profundas tempestades e avaliações, sempre, e sempre, irão emergir ainda mais fortes e invisíveis.
E o caminho de casa…
Podemos mudar as certezas de lugar, podemos mudar as incertezas de lugar, podemos mudar a casa de lugar, mas jamais esqueceremos o caminho de casa.
Jamais nos esqueceremos de quem nos deu abrigo no fim do dia.
 
D. Andrade
segunda-feira, 11 de maio de 2015
 
Começou um novo tempo, pelo menos pra mim .
Uma nova chance de fazer direito, por mais errado que pareça .
Porque os olhos dos outros sempre enxergam diferente do que a gente sente .
E tudo bem .
Ninguém é obrigado a nos conhecer por dentro .
Além disso, tem o que a gente é, a imagem que a gente passa e o que os outros concluem dela . 
Não quero que soe petulante o que vou dizer, mas nem faço muita questão que as pessoas me conheçam a fundo . 
Tem gente que não merece o nosso coração aberto .
Certas pessoas não precisam conhecer nossa alma .
Porque elas nem vão saber o que fazer com tanta informação .
Tem gente ruim no mundo, já me convenci disso .
Espero que você entenda isso também .
E que não sofra tanto ao constatar que nem todo mundo quer o seu bem .
Algumas pessoas sentem prazer em perturbar os outros .
O que ganham em troca ?
Não sei .
E nem quero descobrir .
Quero uma dose de paz .
E de amor .
E de felicidade .
E de sonho realizado .
Quero pra mim .
Quero pra você .
Quero pra todo mundo que sente bem, que faz o bem, que se preocupa com o que é bom .
Para o resto, quero só a justiça .
Espero que as pessoas sejam mais tolerantes, que não resolvam tudo no tapa, que não machuquem os animais, que cuidem mais dos seus sonhos ao invés de tentar estragar a vida do outro com fofoca e sentimento barango .
Espero que todo mundo ame mais .
Que se abram para o amor . 
Você pode me achar boba, mas o amor é o sentimento mais transformador e poderoso do mundo .
Com ele, a gente pode tudo .
Tendo ele no peito, a gente pode mudar o outro, mudar uma vida, mudar a gente mesmo .
E isso é o que dá esperança e força para seguir em frente, por mais torto e esquisito que o caminho seja .
 
Clarissa Correa

Nunca fui muito boa em aceitar as coisas.
Sempre busquei uma explicação para tudo, meu lado Sherlock Holmes tem fascínio em descobrir tim tim por tim tim a parte oculta das coisas, o lado B das pessoas.
Nem sempre isso é fácil e rápido, mas quando mergulho de cabeça em um assunto não há quem me faça sair dele.
Foi difícil acreditar e compreender que você me doía.
Um sentimento não deve doer tanto assim, pensei diversas vezes.
Mas, você sabe, sei me passar muito bem a perna, o braço, o apêndice e tudo mais.
Perdi as contas de quantas noites deitei a cabeça no travesseiro e comecei a repassar mentalmente tudo que vivemos.
Não me faltaram questionamentos.
Onde errei?
O que poderia ter feito diferente?
O que poderia ter evitado?
Não era para você me doer tanto.
Me apeguei, por instinto e carência, a pequenos detalhes, fagulhas, faíscas que jamais existiram.
Ou existiram e eram pequenas demais.
Voltei a repassar mentalmente tudo que podíamos ter vivido.
O que você poderia ter feito?
Onde você poderia ter aparecido, com um sorriso apaixonado e um olhar bobo, e ter me dito fica.
Fica esta noite.
Fica esta semana.
Fica este mês.
Fica este ano.
Fica comigo esta vida.
E na próxima também, porque eu sinto a sua falta a cada segundo que meu olhar se perde do seu. 
Tentei voltar no que ficou para trás, mas não consegui.
O passado andava rápido demais.
Os passos eram largos, intensos, firmes.
E eu tentava desesperadamente correr atrás do que restou aqui dentro.
Tudo foi em vão.
O meu mundo ficou pequeno, apertado, sombrio e triste.
Existia ainda algo sem cor e sem som chamado esperança.
Uma esperança que renascia a cada dia.
Esperança de que você se arrependesse e me pedisse com a voz trêmula e os olhos úmidos: fica.
Fica até a gente se perder um no outro.
Fica para sempre, ainda que a gente não saiba se ele existe realmente.
Fica até depois que tudo terminar. 
Então eu tentei tirar tudo da cabeça em um happy hour com amigos, um novo corte de cabelo, um filme novo no cinema, uma bolsa nova, um novo papel de parede, aquela viagem tão sonhada.
Por breves momentos até consegui, mas depois me dei conta que o novo nem sempre apaga o velho.
E que não adianta tentar pisar em cima de todos aqueles castelos de areia, tem que deixar a onda chegar e levar. 
Quis voltar para onde tudo parou e tentar fazer de lá um novo começo.
Um recomeço qualquer, mais bonito, diferente, sem os erros do passado.
Mas percebi que inevitavelmente o tempo passa e as pessoas mudam e as lágrimas secam e você começa a se reerguer devagar.
Então, sem tentar fazer força, você olha o que restou dos castelos que a onda levou.
E percebe que está na hora de mudar de praia, de areia, de estrutura de castelo.
E começar uma nova história.
Do zero.
Clarissa Corrêa
 
Você já foi adolescente.
E já se apaixonou perdidamente.
E já ficou grudada no telefone esperando uma ligação.
E já recebeu a ligação tão esperada.
E já revirou o closet procurando uma roupa que você nunca teve.
E já ficou ansiosa e nervosa e perturbada.
E já chorou porque a ligação esqueceu de acontecer.
Ou será que foi o paspalho que não lembrou de ligar?
O fato é: você, em algum momento, já pensou ele-é-muita-areia-pro-meu-caminhão.
Em contrapartida, em tantos outros momentos você já se perguntou eu-hein-como-fui-gostar-desse-cara?!?
A vida, minha amiga, é uma eterna repetição.
A gente repete e repete e repete, bate com a cara em uma rocha e quase se afoga nesse oceano que é a vida, mas acredite: ninguém aprende quando o assunto é o coração.
Já aconteceu comigo.
Me apaixonei e reapaixonei.
Me estrepei e me dei bem.
E muitas vezes pensei: sou muita letra para o alfabeto desse indivíduo, muita palavra para o dicionário desse ser não-pensante.
Sua mãe pode avisar, a melhor amiga pode mostrar o cartão amarelo, o mundo pode mandar você descer: uma mulher apaixonada vai além das forças.
Mas a paixão acaba, é uma espécie de onda grande.
Vem e te derruba, vem e dá um caldo, vem e faz você engolir água e ficar tossindo.
Depois, só a sensação de falta de ar, medo de que venha nova onda forte e faça você ajoelhar no fundo do mar, arranhar o joelho e sair sangrando.
A paixão faz a gente perder o biquíni com aquela onda gigante.
Você fica desnorteada pensando o-que-houve e, ao mesmo tempo, procurando o biquíni e protegendo os peitos dos olhos curiosos.
Paixão faz a gente fazer maluquice e um dia pensar nossa-que-maluquice.
E o amor?, você me pergunta.
O amor, ah, sei lá.
O amor nem dá pra definir direito.
Acho que é um desejo de abraçar forte o outro, com tudo o que ele traz: passado, sonhos, projetos, manias, defeitos, cheiros, gostos.
Amor é querer pensar no que vem depois, ficar sonhando com essa coisa que a gente chama de futuro, vida a dois.
Acho que amor é não saber direito o que ele é, mas sentir tudo o que ele traz.
É você pensar em desistir e desistir de ter pensado em desistir ao olhar pra cara da pessoa, ao sentir a paz que só aquela presença traz.
É nos melhores e piores momentos da sua vida pensar preciso-contar-isso-pra-ele.
É não querer mais ninguém pra dividir as contas e somar os sonhos.
É querer proteger o outro de qualquer mal.
É ter vontade de dormir abraçado e acordar junto.
É sentir que vale a pena, porque o amor não é só festa, ele também é enterro.
Precisamos enterrar nosso orgulho, prepotência, ciúme, egoísmo, nossas falhas, desajustes, nosso descompasso.
O amor não é sempre entendimento, mas a busca dele.
Acho que o amor não é o caminho mais fácil, pois mais fácil seria dizer a-gente-não-se-entende-a-gente-não-combina-tchau-tchau.
O amor é uma tentativa eterna.
E se você topar entrar nessa saiba que o amor encontrou você.
Seja gentil, convide-o para entrar.
 
Clarissa Corrêa

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“As palavras são a voz do coração. Onde quer que você vá,vá com todo o coração. Por muito longe que o espírito alcance,nunca irá tão longe como o coração.”(Confúcio)

Quem sou eu

Sou uma pessoa de bem com a vida e dificilmente você me verá de mau humor.Tento levar a risca o ditado "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você". Procuro me rodear de pessoas alegres e que me olham nos olhos quando eu falo. Acredito que energia positiva atrai energia positiva.

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