sábado, 7 de novembro de 2009
Estive conversando com uma psicóloga que me disse que a maioria de suas pacientes sente uma culpa enorme em fantasiar - a não ser que seja com o George Clooney ou algum outro objeto de desejo localizado a milhas de distância e, portanto, inalcançável.
Já se tiverem uma alucinaçãozinha com o vizinho do andar de cima, correm pra igreja e não saem de lá sem uma sacola de penitências.
Olho para o outro lado, onde está sentado um psiquiatra, e pergunto: isso é verdade?
Ele confirma.
Diz que a nossa cultura reprime até o pensamento.
A imaginação é uma forma de pecado também.
Não foram poucas as vezes em que me senti uma ET, mas ainda reluto em me mudar para Varginha e esperar que um disco voador me resgate.
Em vez disso, teimo e fico aqui mesmo, tentando entender o planeta em que vivo.
A cada dia me convenço que a infelicidade, a amargura, o tédio e as queixas diárias da maioria das pessoas são tesouros que elas preservam com o maior zelo.
Sofrer lhes justifica a existência.
Sentem-se mais vivas com sua penúria emocional do que usufruindo dessa tal de leveza que alguns alardeiam.
Que leveza, o quê.
Mulher séria é mulher contraída e obediente às leis que ela não inventou, mas respeita - e teme. Ela não é louca de arriscar perder o controle sobre si própria.
Reprimir nossas fantasias é uma amputação.
A gente é o que a gente vive e também o que a gente delira, sonha, projeta, inventa, reconstrói, ousa - verbos raramente praticados no nosso santificado dia-a-dia.
Fantasiar não resume-se a imaginar uma cena de sexo no elevador.
É imaginar-se apartado do cotidiano conhecido, vivendo emoções mais arrebatadas, sendo uma pessoa totalmente diferente do que se é.
Por que só é tolerado no carnaval?
Lantejoula, paetê, purpurina, maquiagem, pouca roupa, cores fortes: a gente tem tudo isso em estoque, nem precisa de produção.
Basta fechar os olhos e enxergar para dentro.
Há milhares de possibilidades de sensações a serem desfrutadas sem prejuízo algum para os outros ou para nós mesmos.
É o mínimo que a gente merece depois de tantos anos de, digamos, trabalhos forçados.
Passamos a vida inteira cumprindo o que esperam de nós, respeitando os sinais de trânsito, pagando os impostos em dia, decorando senhas, sendo gentis, solidários, pacientes, chegando pontualmente ao serviço, sendo ótimos pais, ótimos filhos, fazendo a casa funcionar, economizando centavos, cuidando da higiene, ouvindo desaforos e grosserias de quem não nos compreende, e sem esboçar reação alguma, tudo para contribuir com a paz no mundo. Levantamos todo santo dia com disposição: da cama pro banho, do banho pro trabalho, dia após dia sem exaurir-se, porque faz parte da vida seguir as regras e ser um sujeito decente, e não há nada de errado com isso - mas não há só isso.
E o nosso lado marylin monroe, pitbull, al capone, serial killer, james dean, sharon stone, viking, cinderela, michael moore?
Tudo o que nos fascina, horroriza e diverte: por que não experimentar sem sair do lugar?Fantasiar é inofensivo, saudável e de graça.
Ajuda a perder peso, e não a perder o controle.
Muito pelo contrário: quem tem medo do próprio pensamento é que já está comprometido.
(Martha Medeiros)

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Sou uma pessoa de bem com a vida e dificilmente você me verá de mau humor.Tento levar a risca o ditado "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você". Procuro me rodear de pessoas alegres e que me olham nos olhos quando eu falo. Acredito que energia positiva atrai energia positiva.

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