sexta-feira, 16 de julho de 2010


No mais recente livro de Carlos Moraes, o excelente “Agora Deus vai te pegar lá fora”, há um trecho que uma mulher ouve a seguinte pergunta de um major: “Por que você não é feliz como todo mundo?”
A que ela responde mais ou menos assim: “Como o senhor ousa dizer que não sou feliz?
O que o senhor sabe do que eu digo para o meu marido depois do amor?
E do que eu sinto quando ouço Vivaldi?
E do que eu rio com meu filho?
E por que mundos viajo quando leio Murilo Mendes?
A sua felicidade, que eu respeito, não é a minha, major.”
E assim é.
Temos a pretensão de decretar quem é feliz ou infeliz de acordo com nossa ótica particular, como se felicidade fosse algo que pudesse ser visualizado.
Somos apresentados a alguém com olheiras profundas e imediatamente passamos a lamentar suas prováveis noites insones causadas por problemas tortuosos.
Ou alguém faz uma queixa infantil da esposa e rapidamente decretamos que é um fracassado no amor, que esse casamento deve ser um inferno, pobre sujeito.
É nestas horas que me pergunto: mas que sabemos nós da vida dos outros?
Nossos momentos felizes se dão, quase todos, na intimidade, quando ninguém está nos vendo.
O barulho da chave na porta, de madrugada, trazendo um adolescente de volta pra casa.
O cálice de vinho oferecido por uma amiga com quem acabamos de fazer as pazes.
Sentar-se no cinema, sozinho, para assistir o filme tão esperado.
Depois de anos com o coração em marcha lenta, rever um ex-amor e descobrir que ainda é capaz de sentir palpitações.
Os acordos secretos que temos com filhos, netos, amigos.
A emoção provocada por uma frase de um livro.
A felicidade de uma cura.
E a infelicidade aceita como parte do jogo – ninguém é tão feliz quanto aquele que lida bem com suas precariedades.
O que eu sei sobre aquele que parece radiante e aquela outra que parece à beira do suicídio?
Eles podem parecer o que for e eu seguirei sem saber de nada, sem saber de onde eles extraem prazer e dor, como administram seus azedumes e seus êxtases, e muito menos por quanto anda a cotação de felicidade em suas vidas.
Costumamos julgar roupas, comportamento, caráter – juízes indefectíveis que somos da vida alheia – mas é um atrevimento nos outorgar o direito de reconhecer, apenas pelas aparências, quem sofre e quem está em paz.
A sua felicidade não é a minha, e a minha não é a de ninguém.
Não se sabe nunca o que emociona intimamente uma pessoa, a que ela recorre para conquistar serenidade, em quais pensamentos se ampara quando quer descansar do mundo, o quanto de energia coloca no que faz, e do que ela é capaz de desfazer para manter-se sã.
Toda felicidade é construída por emoções secretas.
Podem até comentar sobre nós, mas nos capturar, só com a nossa permissão.

Martha Medeiros

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“As palavras são a voz do coração. Onde quer que você vá,vá com todo o coração. Por muito longe que o espírito alcance,nunca irá tão longe como o coração.”(Confúcio)

Quem sou eu

Sou uma pessoa de bem com a vida e dificilmente você me verá de mau humor.Tento levar a risca o ditado "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você". Procuro me rodear de pessoas alegres e que me olham nos olhos quando eu falo. Acredito que energia positiva atrai energia positiva.

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