domingo, 29 de agosto de 2010



Tudo que se quer no mundo é saber o que vai acontecer, e, para isso, nada como uma boa cartomante.
Mas será que ainda existe alguma?
Eu tive a minha, que morava num apartamento modesto, num bairro modesto, e chegava à sala passando por uma cortina de contas ordinária e usando um vestido de seda estampado.
O baralho era velho, sebento, e Jandira – esse era seu nome – muito simpática.
Embaralhava as cartas devagar, olhando dentro dos meus olhos, mandava que cortasse com a mão esquerda e a primeira coisa que dizia era:
“Estou vendo um homem na sua vida, mas ele está longe; ainda não chegou ou vocês brigaram?”
Elementar: mulher que procura a cartomante é porque as coisas não vão bem no amor.
Aí, continuava:
“É preciso tomar cuidado com uma mulher que está te afastando dele e quer te fazer mal”.
Se aparecesse a dama de ouros, era loira; se fosse a de paus, morena.
Cartomante era – ou é – coisa de mulheres.
O que elas, de todas as idades, queriam saber é se o homem que amavam ia voltar.
E a resposta das cartas era sempre sim.
No final da consulta, chegava a hora de confirmar as previsões.
Jandira embaralhava as cartas de novo, pedia para cortar e separar em três montinhos – sempre com a mão esquerda.
Depois de um momento de suspense, dizia que sim, ele ia voltar, mas era preciso tomar cuidado com a tal mulher. .
E a gente saía toda feliz.
E ainda tinha as simpatias.
Uma delas mandava cortar uma mecha do cabelo do homem amado enquanto ele estivesse dormindo, botar num saquinho feito com um lenço roubado (dele) e usar dentro do sutiã durante 15 dias.
Outra era assim: você devia acender duas velas e colocar bem juntinhas num pires com mel.
Se fizesse isso todos os dias, estava garantido um futuro cheio de felicidades.
Mas atenção: as velas tinham que ser acesas à meia-noite em ponto, e a simpatia só daria certo se elas queimassem até o fim.
Quanta ingenuidade, quanta inocência...
Como era bom.
Mas o mundo mudou.
Vieram os psicanalistas, os astrólogos, e ninguém mais acreditou nas cartas; as cartas que – diziam – não mentem jamais.
Com todo o respeito a doutor Freud, no tempo das cartomantes a vida era mais romântica.
Hoje as pessoas olham o passado – o delas e o dos outros – para tentar compreender o presente.
Os traumas da infância justificam as atuais neuroses, e nas mesas de botequim todos se sentem capazes de dar palpites, desde o “Ele sente culpa porque a mãe sofreu” até “É medo de encarar uma mulher liberada como você”; e por aí vão, no embalo do chopinho, decifrando a natureza humana.
Ninguém quer se comprometer.
Se você vai a um médico com dor de cabeça – 500 reais –, ele indaga sobre as doenças que já teve, pede um monte de exames e diz que diagnóstico só depois dos resultados.
Quando pergunta ao amigo se ele acha que você vai conseguir o trabalho com que mais sonha, ele responde que não é adivinho.
Ah, que saudade das cartomantes que sempre sabiam tudo e sempre davam esperanças.
E melhor: elas só diziam o que queríamos ouvir.

Danuza Leão

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“As palavras são a voz do coração. Onde quer que você vá,vá com todo o coração. Por muito longe que o espírito alcance,nunca irá tão longe como o coração.”(Confúcio)

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Sou uma pessoa de bem com a vida e dificilmente você me verá de mau humor.Tento levar a risca o ditado "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você". Procuro me rodear de pessoas alegres e que me olham nos olhos quando eu falo. Acredito que energia positiva atrai energia positiva.

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