sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dia sim,dia não, eu, que moro no Rio, ando na Lagoa durante uma hora.
Andar é uma mania dos cariocas, para conservar a saúde.
Meu horário é seis da tarde, mas nesse último mês tem sido difícil.
Os dias amanhecem lindos, ensolarados, céu azul, mas a partir das três horas o céu começa a ficar cinza, e daí a pouco começa a chover.
Um verão atípico, pois isso tem acontecido quase todos os dias.
Na última segunda-feira, quando desci para andar, o céu era um chumbo, e fiquei na dúvida: vai ou não chover?
Perguntei a meu porteiro, ao do edifício ao lado, os dois me tranqüilizaram: não, não vai chover.
Acreditei, e lá fui eu.
Quando cheguei à Lagoa, o tempo estava meio estranho: olhando para o lado da Barra, céu azul e sol.
Do outro lado, nuvens negras anunciavam um temporal.
Como eu já estava indo, resolvi apostar no melhor e comecei a andar.
Uns 800 metros depois caiu uma chuva daquelas, mas daquelas mesmo.
Dizem que o mundo é dividido entre os que usam e os que não usam guarda-chuva e sou das que acham a chuva uma delícia, sobretudo quando está fazendo calor; mas aquela era demais.
Para piorar a situação, tinha ido ao cabeleireiro e feito uma escova naquela manhã, e se meu cabelo molhasse seria uma catástrofe.
Mas não havia nada a fazer, a não ser esperar.
Sentei num banco debaixo de uma árvore, rezando para a chuva passar.
Enquanto esperava, olhei o céu: a mesma coisa.
De um lado sol, do outro lado chuva.
Foram 15 ou 20 minutos difíceis: se decidisse voltar para casa, ia ficar encharcada.
Quanto tempo ainda duraria aquela tortura?
A chuva, daquelas bem de verão, passou.
As últimas gotas ainda caíam quando voltei a andar, e quando olhei para o céu, o milagre: um arco-íris.
Na verdade não é um milagre, é um fenômeno explicado pela ciência e que acontece às vezes, mas que é tão lindo, mas tão lindo, que é difícil de acreditar que esteja mesmo acontecendo.
O enorme arco-íris ligava um morro a outro.
Existem alguns arco-íris que são meio pela metade, e com cores meio desbotadas.
Mas aquele era tão lindo, tão inteiro, tão perfeito, que parecia feito a compasso; as cores vivas, nítidas, belas, um verdadeiro presente da natureza -e que presente.
Na volta, comecei a prestar mais atenção ao caminho que faço todos os dias, automaticamente.
Algumas árvores haviam florescido e as flores estavam caídas no chão, dando a impressão de serem tapetes amarelos.
E havia outras, nas quais nasce, no tronco, um tipo de flor em vários tons de vermelho; vi turistas estrangeiros maravilhados, pegando as flores, provavelmente para levar para seus países, de lembrança.
Elas eram lindas, e eu nunca havia notado que existiam.
Quando fiz o caminho de volta, o sol continuava a brilhar, e voltei para casa feliz; mais feliz do que se tivesse ido a qualquer museu e visto as mais lindas obras de arte.
Feliz e pensativa; como conheço razoavelmente a natureza humana -a minha, sobretudo-, não será impossível que em uns meses, quando estiver fazendo o mesmo percurso, no lugar de prestar atenção nas montanhas, na luz, que muda a cada dia, nas flores, que podem ter caído ou estarem enfeitando as árvores, esteja distraída e tensa, pensando que é hora de declarar o imposto de renda, ou no inevitável novo escândalo que acontecerá no país.
E isso -quando e se acontecer- será muito melancólico.

Danuza Leão

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Sou uma pessoa de bem com a vida e dificilmente você me verá de mau humor.Tento levar a risca o ditado "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você". Procuro me rodear de pessoas alegres e que me olham nos olhos quando eu falo. Acredito que energia positiva atrai energia positiva.

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