quarta-feira, 30 de junho de 2010

Querer melhorar de vida, sonhar com coisas um pouco acima de nossas possibilidades, é normal, e até saudável; afinal, quem não deseja ter o iPod novo, aquele que ainda não foi lançado?
Até eu.
Mas não há nada pior do que perceber aquele brilho -o brilho da cobiça- no olhar de pessoas que passam a vida querendo mais, sempre mais, fazendo tudo para ter o que ouviram falar que é o melhor da vida. Algumas dessas coisas são até bem boas, mas se a vida fosse fácil, bastaria ter muito dinheiro, escolher sempre o mais caro, encher a geladeira de caviar e champanhe e ser feliz (eu tenho um amigo que quando está num restaurante de um país do qual não fala a língua, pede o prato mais caro; segundo ele, deve ser o melhor).
Com uma certa cultura -não necessariamente a dos livros, mas se tiver lido alguns, melhor ainda-, uma certa vocação para o bom gosto e alguma sensibilidade, é só olhar em volta com atenção, mas não só com os olhos; para aprender, é preciso usar os cinco sentidos e sobretudo os outros, aqueles que não têm nome.
A maioria prefere comprar pronto: abre o jornal, lê as críticas dos filmes e das peças e vai com a opinião já formada, sabendo se vai ou não gostar.
E quando comenta o espetáculo, fala dos cenários, da direção de arte, da luz e da fotografia com as palavras certas, aquelas que leu no jornal.
Raro é encontrar alguém que tenha uma opinião pessoal -mesmo errada- sobre seja lá o que for.
Todos gostam das mesmas grifes, dos mesmos restaurantes, dos mesmos roteiros turísticos, das mesmas músicas; suas casas são iguais, os carrões e relógios os mesmos, e nunca ouviram falar que dr. Lúcio Costa teve durante anos um velho e elegante Austin; aliás, que carro não seria elegante tendo dr. Lúcio como dono?
Como seria bom encontrar alguém que reconheça não haver grande diferença entre as praias do Nordeste e os famosos mares da Indonésia (só os hotéis), e que entre pegar uma ponte aérea ou uma carona num jatinho, é mais fácil pegar a ponte, até para poder escolher o horário mais conveniente.
Uma pessoa que não tenha medo de ser politicamente incorreta, que se diga francamente pró ou contra qualquer coisa, contanto que seja seu pensamento, não o que ficou combinado, que não pensa igual, que tem coragem de confessar não só sua ignorância quanto a certos assuntos, como a coragem de discordar da opinião geral e dependendo dos argumentos, voltar atrás e concordar.
Convenhamos que está cada dia mais difícil.
O mundo e as pessoas estão a tal ponto iguais que não tem mais graça (quase) pegar um avião e ir para outro continente, comprar a mesma camiseta e o mesmo tênis; a camiseta que agora qualquer camelô vende, com etiqueta e tudo, tem graça?
Só se valoriza o que é único: o vestido, o diamante, a fivela de tartaruga loura verdadeira, comprada numa feira de antiguidades, que você não empresta, não dá e não vende (de antes do projeto Tamar, claro).
Cada pessoa é única, e é por aí que acontece o amor; ela é única em seus traços físicos, em sua inteligência, em sua personalidade.
É só cultivar o que temos de mais precioso, essa "unicalidade", para se destacar num mundo em que todos estão cada vez mais iguais.
Não é uma questão de ser mais, nem de ser diferente: apenas de ser única.
P.S.: Inesquecível, d. Marisa Letícia recebendo a Ordem do Rio Branco por serviços prestados à nação.
E isso, calada: imagina se falasse.
 
Danuza Leão


 
O que é que  faz com que se goste mais de uma pessoa do que de outra?
Não estou falando do amor/paixão, apenas do gostar.
Aliás, nem sei se é mesmo gostar, ou uma questão de preferir.
Tem sempre um filho sofredor, que acha que sua mãe tem outro que é o predileto, o "queridinho"; às vezes é verdade, às vezes não, até porque os prediletos dos pais mudam.
Dependendo das circunstâncias do momento, uma hora é um, em outra hora é outro.
Alguns gostam mais do filho que dá mais trabalho, outros preferem os mais certinhos, vai entender a cabeça humana.
Quem não sabe que os avós têm seu neto preferido,as tias têm a sobrinha -não adianta negar-,e o que me põe mais curiosa é saber se essas preferências têm a ver com o temperamento,a vivacidade,os gostos comuns,a beleza,ou o quê.
Irmãos têm a obrigação de se adorar?
Caim morria de ciúmes de Abel; tanto que acabou assassinando o irmão -e nem havia o problema de dividir a herança.
Existem irmãos que não se dão bem, nem lembram que o outro existe, mas têm amigos por quem fariam tudo, ou quase tudo.
Então, como fica essa história de ter o mesmo sangue?
Vale ou não vale, conta ou não conta ponto?
Por favor, me respondam, senhores que sabem tudo.
Não sei das estatísticas, mas conheço vários casos de crianças adotadas que, quando um dia foram levadas para conhecer os pais verdadeiros, não quiseram muito saber deles.
É bem verdade que essas foram muito bem tratadas pelos pais adotivos, que por acaso -apenas por acaso- tinham bastante dinheiro.
E penso: será que é a convivência que cria os gostares, ou é o sangue que fala mais alto?
Por isso fico curiosa quando leio nos jornais essas histórias de troca de crianças na maternidade.
Quando alguém já se apegou àquele que acha que é seu filho e vem alguém dizendo que houve um engano e troca aquela criança por outra, será que o amor pelo primeiro acaba?
E o amor pelo segundo, o verdadeiro, brota espontaneamente só porque uma enfermeira diz que se enganou na hora de botar o esparadrapo na perninha?
Claro, agora tem o exame de DNA, mas será que basta essa prova para que os sentimentos nasçam e morram?
Será?
E os parentes?
Esse é um outro problema.
Outro dia vi uma foto -linda, aliás- do pai do presidente Kennedy com seus 24 netos.
Imagino que ele não soubesse, e nem podia, o nome de todos; mas será que gostava deles da mesma maneira?
Claro que ele adorou quando teve o primeiro neto, o segundo, o terceiro, mas será que o 23º trouxe a mesma emoção?
Se ele ainda fosse vivo não adiantaria perguntar, pois ele diria, sem pensar por um só segundo, que sim; mas seria verdade?
Em outros tempos as famílias eram maiores; os que mudaram de cidade, até mesmo de país, não têm noção de quantos primos têm.
Se o telefone tocar e for um deles, será que vai ser uma grande alegria ou um grande incômodo?
Se pensar que gosta mais da empregada, com quem convive de segunda a sexta, do que de qualquer um deles, está aí uma boa razão para se achar um monstro e pensar: será que existe mesmo essa história de ser do mesmo sangue, pertencer à mesma família, ou isso foi inventado, tanto como inventaram que o amor é eterno?
Sei lá.

Danuza Leão


A questão amorosa preocupa mais à maioria do que os aspectos essencialmente relacionados com o sexo. Não creio que isso seja justo, pois o sexo ainda é um grande problema a ser mais bem resolvido pelas gerações que estão aí e também pelas que virão.
Aconteceu um fato recente que me fez escrever este pequeno texto sobre o amor.
Fui convidado para fazer uma pergunta para Rosa Montero (escritora espanhola que foi entrevistada pelo programa Roda Viva da TV Cultura em 10/4).
Perguntei se ela achava razoável pensarmos na existência de um fator anti-amor, um fator interno que torna tão difícil e incomum a realização das histórias de paixão, tema de um dos seus trabalhos mais recentes.
A resposta dela foi de tal forma surpreendente que me fez reconsiderar alguns aspectos relacionados com o que já escrevi sobre o assunto: ela desviou totalmente do assunto e parece não ter entendido minimamente o que eu estava falando (havia tradução simultânea para o espanhol)!
Compreendi o quanto a maior parte das pessoas, mesmo as mais esclarecidas, ainda é carente de informações a respeito do tema.
Ela dizia que a paixão é um vício, algo que só pode durar uns 2 anos; este é o discurso oficial, nada criativo.
Dizia também que depois de superada a paixão, as relações ganhavam aquele aspecto cotidiano um tanto monótono e repetitivo.
Ela disse que ela mesma havia se apaixonado várias vezes e que as histórias sempre terminavam assim: quando se sai da fantasia para a realidade, o tédio e a monotonia acabam por predominar.
Em síntese, ela disse que ou vivemos o amor como drogados ou então o vivenciamos como um tédio. Nada pode ser mais tradicional, conservador e depressivo do que estas considerações extraordinariamente reacionárias.
Dão a impressão de que não há saída e salvação para a questão do amor a não ser pelo esforço enorme de aceitar e respeitar as diferenças que são inerentes ao fato de que o amor real implica em indivíduos específicos.
Não fala sobre que diferenças e, com isso, coloca todas as diferenças no mesmo saco.
Não preciso enfatizar o quanto acho isso perigoso, pois é muito diferente estar convivendo com um bandido, com uma pessoa sem caráter e desleal, ou com alguém que gosta de acordar cedo quando gostamos mais de dormir até tarde.
Há diferenças e diferenças e colocá-las todas juntas é estimular a idéia de que não devemos levá- las em conta já que terão que existir e teremos que trabalhar muito – ainda que no contexto das relações tediosas – para que consigamos ter algum tipo de afetividade pela pessoa por quem antes tínhamos paixão.
Ela fala que, na paixão, amamos mesmo é o estado que o encantamento pelo outro provoca em nós.
É verdade.
Diz que não amamos a outra pessoa e que amamos mesmo é o amor!
Este é mais um capítulo do discurso oficial, tradicional e vazio.
Amamos uma determinada pessoa porque ela provoca em nós uma série de sentimentos e sensações e isso é o que venho afirmando há décadas.
Amo aquela pessoa cuja presença provoca em mim a sensação de aconchego, de paz e de bem-estar que eu perdi no momento do nascimento.
Amo a pessoa porque ela é capaz de provocar em mim emoções muito agradáveis.
É mais que lógico que seja assim.
O trágico é que muitas pessoas, depois de encantadas, continuam a amar a pessoa apesar dela provocar dor, humilhações e todo o tipo de insegurança e desconforto.
Isso não é mais amor e sim uma dependência mórbida que está desconsiderando os fatos e que torna tantas pessoas reféns de parceiros que não valem a pena.
Aí as pessoas falam coisas do tipo: ele é péssimo, mas eu o amo!
Isso é que não faz o menor sentido.
Temos mesmo que amar a pessoa que nos faz feliz, que provoca em nós grandes e prazerosas sensações.
Enfim, eu que pensava que não haveria necessidade de escrever mais nada a respeito do amor decidi, em virtude deste fato e de tantas observações que tenho lido no meu site a respeito da sexualidade (além das consultas on line onde, é claro, os assuntos relacionados com namoros e casamentos desastrosos predominam largamente), tratar de escrever mais sobre o amor, sobre os caminhos que levam à felicidade sentimental.
Quero muito reafirmar mais uma vez que a paixão corresponde a um encantamento de ótima qualidade entre pessoas parecidas que vivenciam este encontro com muito medo.
O medo é parte da paixão e dá a ela o caráter aflitivo e tenso que pode se assemelhar ao vício.
Quando o medo se atenua, a relação continua a manter todo o vigor e todo o encantamento próprio das relações baseadas na confiança recíproca, numa intimidade totalmente compartilhada e num clima erótico legal.
O medo não é outro senão uma manifestação do que chamo de fator anti-amor, presente em todos nós, que está principalmente relacionado com o medo da felicidade.
Este é o maior obstáculo à realização amorosa.
Como todo medo, só pode ser tratado de uma forma: enfrentando-o com consciência, coragem, determinação e persistência.
 
Flávio Gikovate


Sempre que uma pessoa de mais idade se apaixona costuma falar assim: estou parecendo adolescente! Parece que, de repente, sentir-se encantada por alguém é sinal de imaturidade emocional.
É como se, com a idade, tivéssemos que perder o entusiasmo e desaparecesse a capacidade de nos surpreender com qualquer coisa ou pessoa.
Felizmente isso não é verdade; ao menos para um bom número de criaturas que conservam a inquietação intelectual e o gosto por conhecer pessoas.
Para estas, tudo é possível e em qualquer idade.
De repente, encontram - ou reencontram - alguém em quem reconhecem quase que de imediato uma enorme gama de afinidades: semelhanças de caráter, de gostos e interesses, de estilos de vida e mesmo de projetos, daquilo que ainda gostariam de viver e conhecer.
O curioso é que o encantamento amoroso que deriva deste tipo de encaixe - mais intelectual do que físico, apesar de que este não fica excluído - costuma vir acompanhado de um grande medo.
A este medo, relacionado com a sensação de que coisas ruins podem nos acontecer justamente quando estamos muito bem, é que chamo de medo da felicidade.
O amor de boa qualidade, aquele baseado em afinidades (evento mais comum entre pessoas mais vividas), vem associado ao medo da felicidade, o que provoca aquelas palpitações sofridas e deliciosas, a insegurança e a incerteza acerca da continuidade do relacionamento, o pavor que obstáculos externos venham a perturbar o pleno encontro.
A paixão é isso: amor + medo!
Acontece em qualquer idade e sempre com os mesmos sintomas: perda do apetite, sono tumultuado, sensação de estar vivendo uma situação extraordinária, maravilhosa e profundamente ameaçadora.
As pessoas ficam aéreas e desatentas com as coisas práticas do cotidiano; o trabalho, o dinheiro, os outros, tudo perde um pouco da importância e do interesse e talvez por isso pareça coisa de adolescente. Mas não é nada disso.
É coisa de quem está encantado e morrendo de medo de perder aquele parceiro que, de repente, parece ter dado um novo sentido à vida.
Aquelas poucas pessoas que não fogem por medo do amor experimentam certo apaziguamento com o passar dos meses de convívio.
Sentem de forma cada vez mais clara o que deriva do convívio com uma pessoa muito amada, que é a sensação de paz e aconchego que nos encanta em qualquer fase da vida.
Não tenho a menor dúvida de que a questão do amor está muito mal formulada em nossas mentes.
Para mim é um impulso totalmente separado do sexo, de modo que não creio que devamos pensar em paixão quando um homem mais velho se encanta por uma mocinha - e vice-versa.
Aí o que está em jogo é mais que tudo a vaidade e o desejo de reinventar uma exuberância sexual que a idade tende a arrefecer - e que aparece como inaceitável para tanta gente.
As grandes diferenças de idade não costumam favorecer um bom encaixe a não ser em casos excepcionais.
Tudo o que temos conseguido saber acerca do que seja envelhecer bem é extremamente favorecido pela presença de um elo amoroso de boa qualidade - e que se funda, repito, em afinidades que geram aconchego, companheirismo e compreensão recíproca.
Casais que vivem em concórdia costumam ligar menos para as limitações físicas de toda ordem que crescem com o passar dos anos.
Tendem a viver mais e melhor.
Deveríamos, pois, estar sempre abertos para possibilidades afetivas que venham a nos trazer as alegrias e o conforto que só o amor pode nos dar.
O amor de verdade é aquele em que o parceiro é também nosso melhor amigo.
E o sexo, como fica?
Onde existe intimidade de verdade as trocas de carícias eróticas sempre existirão - apesar das limitações que a natureza impõe com o passar dos anos.
Casais felizes vivem voltados para o presente - e para o futuro - de modo que são muito menos saudosistas.
Vivem a vida finita como se ela fosse eterna.

Flávio Gikovate
segunda-feira, 28 de junho de 2010


É tão vasto o silêncio da noite na montanha.
É tão despovoado.
Tenta-se em vão trabalhar para não ouvi-lo, pensar depressa para disfarçá-lo.
Ou inventar um programa, frágil ponto que mal nos liga ao subitamente improvável dia de amanhã. Silêncio tão grande que o desespero tem pudor.
Os ouvidos se afiam, a cabeça inclina, o corpo todo escuta: nenhum rumor.
Nenhum galo.
Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio.
Desse silêncio sem lembranças de palavras.
Se és morte, como te alcançar.
É um silêncio que não dorme: é insone: imóvel mas insone; e sem fantasmas.
É terrível - sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e diga alguma coisa.
Ele é vazio e sem promessa.
Se ao menos houvesse o vento.
Vento é ira, ira é a vida.
Ou neve.
Que é muda mas deixa rastro - tudo embranquece, as crianças riem, os passos rangem e marcam.
Há uma continuidade que é a vida.
Mas este silêncio não deixa provas.
Não se pode falar do silêncio como se fala da neve.
Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: sentiu o silêncio desta noite?
Quem ouviu não diz.
A noite desce com suas pequenas alegrias de quem acende lâmpadas com o cansaço que tanto justifica o dia.
As crianças de Berna adormecem, fecham-se as últimas portas.
As ruas brilham nas pedras do chão e brilham já vazias.
E afinal apagam-se as luzes as mais distantes.
Mas este primeiro silêncio ainda não é o silêncio.
Que se espere, pois as folhas das árvores ainda se ajeitarão melhor, algum passo tardio talvez se ouça com esperança pelas escadas.
Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da terra a lua alta.
Então ele, o silêncio, aparece. .
O coração bate ao reconhecê-lo.
Pode-se depressa pensar no dia que passou.
Ou nos amigos que passaram e para sempre se perderam.
Mas é inútil esquivar-se: há o silêncio.
Mesmo o sofrimento pior, o da amizade perdida, é apenas fuga.
Pois se no começo o silêncio parece aguardar uma resposta - como ardemos por ser chamados a responder - cedo se descobre que de ti ele nada exige, talvez apenas o teu silêncio.
Quantas horas se perdem na escuridão supondo que o silêncio te julga - como esperamos em vão por ser julgados pelo Deus.
Surgem as justificações, trágicas justificações forjadas, humildes desculpas até a indignidade.
Tão suave é para o ser humano enfim mostrar sua indignidade e ser perdoado com a justificativa de que se é um ser humano humilhado de nascença.
Até que se descobre - nem a sua indignidade ele quer.
Ele é o silêncio.
Pode-se tentar enganá-lo também.
Deixa-se como por acaso o livro de cabeceira cair no chão.
Mas, horror - o livro cai dentro do silêncio e se perde na muda e parada voragem deste.
E se um pássaro enlouquecido cantasse?
Esperança inútil.
O canto apenas atravessaria como uma leve flauta o silêncio.
Então, se há coragem, não se luta mais.
Entra-se nele, vai-se com ele, nós os únicos fantasmas de uma noite em Berna.
Que se entre.
Que não se espere o resto da escuridão diante dele, só ele próprio.
Será como se estivéssimos num navio tão descomunalmente enorme que ignorássemos estar num navio.
E este singrasse tão largamente que ignorássemos estar indo.
Mais do que isso um homem não pode.
Viver na orla da morte e das estrelas é vibração mais tensa do que as veias podem suportar.
Não há sequer um filho de astro e de mulher como intermediário piedoso.
O coração tem que se apresentar diante do nada sozinho e sozinho bater alto nas trevas.
Só se sente nos ouvidos o próprio coração.
Quando este se apresenta todo nu, nem é comunicação, é submissão.
Pois nós não fomos feitos senão para o pequeno silêncio.
Se não há coragem, que não se entre.
Que se espere o resto da escuridão diante do silêncio, só os pés molhados pela espuma de algo que se espraia de dentro de nós.
Que se espere.
Um insolúvel pelo outro.
Um ao lado do outro, duas coisas que não se vêem na escuridão.
Que se espere.
Não o fim do silêncio, mas o auxílio bendito de um terceiro elemento, a luz da aurora.
Depois nunca mais se esquece.
Inútil até fugir para outra cidade.
Pois quando menos se espera pode-se reconhecê-lo - de repente.
Ao atravessar a rua no meio das buzinas dos carros.
Entre uma gargalhada fantasmagórica e outra.
Depois de uma palavra dita.
Às vezes no próprio coração da palavra.
Os ouvidos se assombram, o olhar se esgazeia - ei-lo.
E dessa vez ele é fantasma. 

Clarice Lispector


Sou o que se chama de pessoa impulsiva.
Como descrever?
Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente.
O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se trata de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos.
E até que ponto posso controlá-los.
Há um perigo: se reflito demais, deixo de agir. E muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido. Estou num impasse.
Quero melhorar e não sei como.
Sob o impacto de um impulso, já fiz bem a algumas pessoas.
E, às vezes, ter sido impulsiva me machuca muito.
E mais: Nem sempre os meus impulsos são de boa origem.
Vêm, por exemplo, da cólera.
Essa cólera às vezes deveria ser desprezada; outras, como me disse uma amiga a meu respeito, são cólera sagrada.
Às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesma.
Ás vezes restringir o impulso me anula e me deprime, às vezes restringi-lo da-me uma sensação de força interna.
 
Clarice Lispector


"A trajetória de nossa vida pode parecer definitivamente marcada por certas situações.
Nossa vida, entretanto, conserva sempre todas as possibilidades de mudança e conversão que estiverem ao nosso alcance.
E tais possibilidades são tanto maiores, quanto mais abrigarmos em nós de infância, de gratidão, de capacidade de amar."

Hermann Hesse
quarta-feira, 23 de junho de 2010



Não importa a dor ou o momento que você está passando, você tem um compromisso com a vida.
Esse compromisso ultrapassa essa fase, essa hora ruim que você pode estar passando.
Tem coisas que nós não podemos evitar.
Você constrói uma bela casa na praia, com muitos quartos, varandas e piscina com vista para o mar.
Chega um furacão e leva toda a sua casa, seus móveis e seus sonhos em questão de minutos.
Será que você poderia evitar esse furacão?
Assim, nós construímos castelos dourados em nossas fantasias e sonhos.
Reunimos os melhores móveis de nossa existência e decoramos as nossas casas do jeitinho que nós queremos.
As vezes os engenheiros da vida avisam que nosso projeto está errado, que vamos quebrar a cara, mas nós escutamos?
Claro que não.
Somos teimosos, tinhosos e orgulhosos.
Seguimos em frente contra tudo e contra todos e algumas vezes, fechamos os olhos para não ver o que todo mundo já viu.
Então, o furacão da vida chega e sem cerimônia, sem pedir licença, arranca nossos sonhos e joga tudo no chão.
Resta o choro, o pranto e a dor.
Quanto mais rápido, você trabalhar na reconstrução da sua "casa", mais rápido a felicidade volta para sua vida.
Nesses momentos de reconstrução, os amigos são os melhores ajudantes e apoiadores que precisamos. Amigos são vigas sólidas que qualquer casa necessita.
Não demore para tomar a decisão de reconstruir a sua casa, digo, a sua vida.
A dor se torna menor quando não deixamos muitas lembranças em nossa porta.
Normalmente a porta da nossa vida é o coração.
Que tal limpar a sua porta?
 
Paulo Roberto Gaefke


Você tem medo de quê?
De dizer não para aquela pessoa querida mesmo sabendo que o sim significa problemas no futuro?
Você tem medo de quê?
De admitir que se enganou com uma pessoa, que errou na dose do sentimentalismo e fechou os olhos para a realidade que todos viam?
Aceitar que o fim de um relacionamento já chegou há muito tempo e você, só você insiste em manter as aparências?
Você tem medo de quê?
De falar para a família e os verdadeiros amigos o quanto os ama e, por isso, fica calado imaginando que todo mundo sabe disso?
De perder o emprego medíocre e, por isso, se submete a tirania de um local que você não se sente bem?
Você tem medo de quê?
De aceitar que seu atual estado é reflexo apenas dos seus atos, das suas atitudes, algumas vezes impensadas e feitas de pura ansiedade...
Você tem medo de quê?
De sair da capa de vítima e encarar de frente seus sonhos, suas necessidades e descobrir que pode realizá-los?
De questionar velhos conceitos e mudar tudo para viver melhor?
Você tem medo de quê?
De aceitar que Deus existe e que nos pede ação sempre, trabalho sempre, boa vontade sempre, perdão sempre, amor sempre.
Não tenha medo de ser feliz, arrisque-se, aventure-se.
Caiu? Levante-se.
Errou? Comece de novo.
Perdoe sempre.
Esqueça o que passou, construa o hoje, viva o hoje.
Ame-se sempre!
 
 Paulo Roberto Gaefke
terça-feira, 22 de junho de 2010


Um grande preço que pode se pagar pela idade:
- Não é a aparência menos jovem ou menos bela, mas sim o peso da inconformação com isso.
- Não é olhar para trás e ver que muito se perdeu por lá, mas deixar de notar o quanto se pode ganhar no "já".
- Não é ter alguns movimentos limitados por ela, mas sim não perceber que a vida continua em movimento contínuo e equilibrado para cada fase de si mesma.
- Não é ser rejeitado pelos mais jovens, mas sim esquecer das vantagens que a experiência e a vivência sempre trazem.
- Não é ser esquecido em convites para festinhas de "embalo", mas sim ignorar que é sempre tempo para se fazer da vida uma festa.
- Não é a tão frequente ausência de romantismo, mas sim a descrença no amor, que não escolhe tempo.
- Não é a frustração de ver-se excluido da chamada "moda jovem", mas a não percepção de que bom gosto nunca sai de moda.
- Não são os finais de semana diante da televisão, mas sim a recusa em reconhecer que há outras alternativas menos enfadonhas e repetitivas.
Mas o grande e MAIOR preço que pode se pagar pela idade é desistir de si mesmo, crer que a Vida se acabou quando ela mal começou.

(Silvia Schmidt)


Eu venho por meio desta comunicar oficialmente minha exoneração do cargo de adulto.
Eu declaro que quero aceitar as responsabilidades de alguém de 8 anos novamente.
Eu quero ir ao McDonald's e achar que estou num restaurante 5 estrelas.
Eu quero mergulhar em sanduíches, lambuzar-me todo e soprar no copo de refrigerante com o canudinho.
Eu quero pensar que biscoitos são melhores do que moedas Porque eu posso come-los.
Eu quero me esticar debaixo de uma grande árvore e esgotar limonadas com amigos num dia de sol daqueles!
Eu quero voltar ao tempo em que a Vida era mais simples.
Voltar ao tempo dos lápis de cor, das tabuadas, dos contos de crianças, das coisas que não me estressavam, que pouco me incomodavam.
Tempo em que tudo que eu sabia era ser feliz, sem todas aquelas coisas que dão preocupações e chateiam!
Eu quero pensar que o mundo é justo, que todas as pessoas são honestas e boas!
Eu quero acreditar que tudo é possível !
Eu quero largar as complexidades da vida e ficar tremendamente feliz com pequenas coisas.
Eu quero ser simples outra vez !
Eu não quero que meus dias sejam cheios de computadores travados, montanhas de papeladas e notícias deprimentes.
Não quero pensar em como sobreviver até o dia do pagamento nem calcular o quanto resta no banco.
Quero esquecer as pílulas do analista, as fofocas, as doenças e o medo de perder os meus queridos.
Eu quero acreditar no poder de sorrisos, dar muitos abraços, acreditar em justiça, em amáveis palavras, em verdades, em paz, em sonhos !
Eu quero acreditar no amor, na imaginação,  na gentileza humana e quero desenhar anjos na areia !
Portanto ...
Aqui estão meu talão de cheques, minha carteira, as chaves do carro, meus cartões de crédito e meus 901KB de arquivos de preocupações !
Eu estou desertando oficialmente da minha condição de adulto !
E se você quiser discutir isso mais tarde, corre, vê se me acha e vem me pegar !
Eu já te peguei primeiro!
 
Sílvia Schmidt


Sei muito bem o quanto as diferenças provocam em nós sensações complexas e contraditórias.
Não toleramos bem diferenças de opinião, especialmente as que vêm de pessoas com as quais temos um relacionamento afetivo, condição na qual nos sentimos abandonados, traídos e sozinhos outra vez.
Não toleramos conviver com pessoas diferentes porque elas nos fazem sentir ameaçados, com medo. Não conhecendo o modo de ser delas, podemos sempre temer condutas que nos violentem.
Tentamos dominar e controlar tudo e todos os que não entendemos justamente para não nos sentirmos nem abandonados e nem ameaçados.
Uma das defesas de que lançamos mão diante das diferenças que nos aparecem como tão ameaçadoras, consiste em minimizarmos sua magnitude.
Ou seja, nosso esforço caminha na direção de considerar a diferença como menor do que ela efetivamente é.
Isso é válido para as diferenças de todo o tipo, mas principalmente para as que existem entre homens e mulheres.
O próprio Freud teve grande dificuldade em tentar imaginar o feminino de uma forma original.
Ou seja, acabou vendo a mulher como um homem desprovido do pênis, um homem a quem falta algo. Achava também que o grande medo dos homens, principalmente em relação às mulheres (medo este que existe mesmo e pode ser muito intenso), era o de ser castrado e ficar como elas.
Isso, naquele tempo, aparecia como uma grande desgraça já que a norma que hierarquizava as diferenças era a de que o homem era o superior, o completo, e a mulher, a inferior, mutilada e passiva.
Para qualquer pessoa que não tenha a mente dogmática e que consiga pensar sobre o assunto de uma forma mais livre e compatível com os fatos atuais – incrivelmente diferentes daqueles observados por Freud 100 anos atrás – sabe que a condição feminina, se for o caso de hierarquizarmos, terá que ser vista como superior e não inferior.
Isso aos olhos dos próprios homens que ou as endeusam ou morrem de inveja delas (e por isso agem da forma agressiva própria do machismo).
Não acho que seja o caso de seguirmos esta rota cansada e infrutífera de tentar saber quem é o superior e quem é o inferior.
Somos suficientemente diferentes para não podermos ser objeto de comparação.
A verdade é que as pequenas diferenças permitem as comparações e as classificações em superior e inferior, melhor e pior, mais isso ou menos isso!
As grandes diferenças não permitem sequer a comparação e muito menos a hierarquização.
Os muito diferentes são apenas diferentes e pronto.
Parece-me cada vez de forma mais evidente que homens e mulheres são muito diferentes do ponto de vista de aspectos biológicos essenciais.
A diferença de força física, as diferenças na natureza da sexualidade, importância da aparência física, as variações hormonais, a possibilidade de gerar uma criança, definem, junto com enormes diferenças de caráter educacional (hoje em processo de atenuação) determinam o surgimento de dois tipos bastante diferentes de seres humanos.
O mais complexo, a meu ver, é que a própria ideologia igualitária que vem regendo a forma de pensar de homens e mulheres ao longo dos últimos 50 anos, acaba por confundir ainda mais as mulheres.
Elas mesmas não sabem mais se devem caminhar na direção de encontrar sua própria identidade ou de se aproximar do modo de ser dos homens.
Na prática, o que acontece é que podem existir as 2 possibilidades: mulheres que mantém o padrão de feminilidade tradicional, mais doméstico e prestativo; e mulheres que se dirigem com tudo para o mundo do trabalho, do sucesso profissional e da competição (antes tradicionalmente masculino).
É fato também que a sociedade aceita melhor as mulheres que perseguem os ideais masculinos do que os homens que prefiram viver de acordo com o padrão tradicional feminino.
Homens que prefiram ficar em casa, cuidando dos afazeres domésticos e das crianças enquanto suas esposas se dedicam ao trabalho continuam a ser mal vistos.
Ou seja, o mundo igualitário ainda é o que privilegia o modo de ser masculino: mulheres podem (e em muitos aspectos devem) agir como os homens, enquanto que os homens devem continuar a agir como homens.
A complicação maior é que, diante de tanta confusão de conceitos, fica difícil darmos origem ao processo de entendimento do que seja o verdadeiro feminino.
Até hoje só existe o feminino tratado como subalterno, passivo e dependente do masculino; ou então o feminino que trata de imitar o modo de ser masculino.
E as mulheres de verdade onde é que estão?
Quem são elas?
Existem as que sabem responder à pergunta que realmente interessa: afinal, quem são e o que querem as mulheres?
 
Flávio Gikovate


As pessoas mais persistentes acabam indo mais longe do que aquelas que ora querem uma coisa ora querem outra.
Mas não basta ter um projeto em nossa mente para que ele se concretize.
A afirmação querer é poder pressupõe a concepção de que a vontade da nossa razão é soberana.
Ela admite que basta que nossa mente construa um projeto e passe a perseguir esta meta para que todo o resto do organismo a siga.
Assim, as pessoas não alcançariam um determinado resultado, não porque o querer não seja suficiente, mas porque o querer delas não seria bastante forte.
Não desprezo, em hipótese alguma, a eficiência da razão e a importância de se querer muito uma coisa ou uma situação, para que se tenha mais chance de chegar lá.
Não desprezo também os chamados poderes paranormais da mente, de tal forma que é possível que o querer muito abra portas para que um determinado evento aconteça.
Porém, acho fundamental fazermos algumas ressalvas a respeito desse assunto.
A primeira delas é que não se deve incluir no querer coisas ou atitudes que dependam da vontade de outras pessoas.
Por exemplo, posso querer muito ganhar num jogo de bingo domingo no clube.
É possível até que a força da minha razão aumente as minhas chances de isto acontecer.
Mas não acho que se possa querer muito que uma determinada moça – ou rapaz – passe a se interessar pela gente.
Tenho todo o direito de tentar me aproximar das pessoas que despertam em mim a admiração e o interesse.
Mas tenho o dever de respeitá-las, de modo que não me resta alternativa senão me afastar quando não encontro reações favoráveis à minha aproximação.
Quando se trata dos direitos das outras pessoas, querer não é poder.
Não posso dizer: Tudo o que eu quero eu consigo quando este tudo é um ser humano.
Na realidade, as pessoas sempre tomam o cuidado de querer coisas até certo ponto possíveis.
Caso contrário seria óbvio que querer não é poder.
Querer ter um helicóptero está longe de adquiri-lo! Agora, as coisas materiais – e outras conquistas que não sejam as de seres humanos – nos chegam mais facilmente quando a queremos com fervor e persistência.
Ou seja, as pessoas mais determinadas e que mudam menos de opinião, acabam indo mais longe que aquelas que ora querem uma coisa, ora querem outra.
Esta última atitude, que é a mais comum, acaba por provocar uma dispersão de energia psíquica, de forma que é bem menos provável que se atinja resultados muito positivos.
É o que se quer transmitir quando se fala da mula que ficou indecisa diante de dois montes de feno.
Não sabendo qual dos dois comer, acabou morrendo de fome!
A ressalva mais importante que eu queria fazer é a de que não são raras as situações nas quais se quer muito um determinado resultado, mas não se tem condições emocionais para sustentá-lo.
Eu posso querer ser promovido rapidamente para a direção da empresa onde trabalho.
Mas é preciso ver se tenho competência emocional para arcar com este grau de responsabilidade e de obrigações.
É preciso ver se eu posso assumir o cargo que tanto quero.
Se não estiver pronto para ele, isso poderá me pesar tanto que não será incomum que eu venha a ter, por exemplo, minha saúde arruinada.
O indivíduo que está numa posição que quer, mas não pode sofre de insônia, dores de estômago, dores de cabeça fortíssimas, palpitações cardíacas, falta de ar e, em situações extremas, poderá até mesmo chegar a ter um infarto do miocárdio ou um derrame.
Estar maduro para assumir uma determinada função significa ter a competência técnica necessária e também estar psicologicamente apto às responsabilidades e tensões próprias daquele cargo.
Existe a possibilidade, portanto, de acontecer que a gente deseje muito uma coisa ou situação e ainda não possa ter ou estar nela.
Nesses casos, querer definitivamente não é poder.
Será necessário um grande trabalho interior para que se processe o desenvolvimento íntimo que criará as condições para o exercício daquilo que se quer.
A situação mais importante em que isso costuma acontecer é no amor.
Muitas pessoas encontram um par com o qual se identificam muito intensamente.
Nesses casos, se desenvolve um encantamento amoroso de forte intensidade, coisa que é do enorme agrado da razão.
As pessoas assim, apaixonadas, querem muito ficar o tempo todo umas com as outras.
Mas começam a ter várias reações emocionais que denunciam que ainda não são competentes para a realização do seu desejo amoroso.
Começam a ficar com muito medo de que alguma coisa ruim irá acontecer.
Começam a ter ciúmes desproporcionais aos riscos.
Começam a procurar pêlo em casca de ovo, ou seja, pretextos menores para justificar a falta de coragem para ficar juntas.
Perdem o sono e o apetite, ficam muito nervosas, não pensam em outra coisa, ficam completamente obcecadas pelo assunto e não conseguem se decidir por coisa alguma.
Esses dados indicam que ainda não estão emocionalmente preparadas para uma relação amorosa de grande intensidade.
Terão que andar mais devagar e ir se acostumando aos poucos com a nova situação, de modo a um dia estarem em condições de poder agir conforme seu querer.

Flávio Gikovate
sábado, 19 de junho de 2010


“Existe o certo, o errado e todo o resto.”
Esta é uma frase dita pelo ator Daniel Oliveira representando Cazuza, em uma conversa com o pai, numa cena que resume o espírito do filme.
Aliás, resume a vida.
Certo e errado são convenções que se confirmam com meia dúzia de atitudes.
Certo é ser gentil, respeitar os mais velhos, seguir uma dieta balanceada, dormir oito horas por dia, lembrar dos aniversários, trabalhar, estudar, casar e ter filhos, certo é morrer bem velho e com o dever cumprido.
Errado é dar calote, repetir de ano, beber demais, fumar, se drogar, não programar um futuro decente, dar saltos sem rede.
Todo mundo de acordo?
Todo mundo teoricamente de acordo, porém a vida não é feita de teorias.
E o resto?
E tudo aquilo que a gente mal consegue verbalizar, de tão intenso?
Desejos, impulsos, fantasias, emoções.
Ora, meia dúzia de normas preestabelecidas não dão conta do recado.
Impossível enquadrar o que lateja, o que arde, o que grita dentro de nós.
Somos maduros e ao mesmo tempo infantis, por trás do nosso autocontrole há um desespero infernal. Possuímos uma criatividade insuspeita: inventamos músicas, amores e problemas, e somos curiosos, queremos espiar pelo buraco da fechadura do mundo para descobrir o que não nos contaram.
Todo o resto.
O amor é certo, o ódio é errado, e resto é uma montanha de outros sentimentos, uma solidão gigantesca, muita confusão, desassossego, saudades cortantes, necessidade de afeto e urgências sexuais que não se adaptam às regras do bom comportamento.
Há bilhetes guardados no fundo das gavetas que contariam outra versão da nossa história, caso viessem a público.
Todo o resto é o que nos assombra: as escolhas não feitas, os beijos não dados, as decisões não tomadas, os mandamentos que não obedecemos ou que obedecemos bem demais – a troco de que fomos tão bonzinhos?
Há o certo, o errado e aquilo que nos dá medo, que nos atrai que nos sufoca que nos entorpece.
O certo é ser magro, bonito, rico e educado.
O errado é ser gordo, feio, pobre e analfabeto.
E o resto nada tem a ver com esses reducionismos: é nossa fome por idéias novas, é nosso rosto que se transforma com o tempo, são nossas cicatrizes de estimação, nossos erros e desilusões.
Todo o resto é muito mais vasto.
É nossa porra-louquice, nossa ausência de certezas, nossos silêncios inquisidores, a pureza e a inocência que se mantêm vivas dentro de nós, mas que ninguém percebe, só porque crescemos.
A maturidade é um álibi frágil.
Seguimos com uma alma de criança que finge saber direitinho tudo o que deve ser feito, mas que no fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo.
Todo o resto é tudo que ninguém aplaude e ninguém vaia, porque ninguém vê.
 
Martha Medeiros
sexta-feira, 18 de junho de 2010



Segundo o dicionário Aurélio:
Desprezo: ato de desprezar alguém, falta de apreço, desdenhar, não levar em conta.
Acho que vai te tocar mais quando levantar-mos alguns sinônimos: sentimento de rejeição, sentimento de ser depreciado, sentimento de ser desconsiderado, sentimento de ser menosprezado, um desconsideração, e por aí vai uma vez, que se torna tão singular esta sensação quando por nos sentidas não é mesmo?
Você deve saber como se sente quando desprezado e poderia com certeza me ajudar a colocar mais palavras, isto é, se você conseguir nomear, porque as vezes a dor é tanta que não conseguimos sequer por um nome num sentimento.
As vezes ate colocamos, mas parece não expressar exatamente a sensação de se sentir desprezado.
Existe varias atenuantes que nos fazem sentir desprezados, queria eu continuar mas de repente percebo circulando pela casa, um tanto curiosa, minha companheira de arrumação de casa LIA, como minha avó a chamava.
Sim ela é minha companheira neste momento, pois a cada toque que dou no teclado ela quer saber sobre o que estou escrevendo, e quando digo o assunto, Lia de repente começa a colocar seus sentimentos para fora, peço que vá devagar, pois vou escrever o que ela fala: “as vezes as pessoas se sentem desprezadas por aqueles que mais cuidamos e, quando me sinto desprezada, choro amargurada e choro muito, fico muito triste que as vezes me encontro ate mesmo conversando com minha cachorrinha de estimação. Sinto um vazio porque a pessoa não tem 5 minutos para me dar atenção, o desprezo dói, dói mesmo, muito.
Espero cada dia por estes cinco minutos e, a espera é em vão, não vem”.
Lia se empolga e acaba falando também de seus sentimentos por outras pessoas que a desprezaram na vida.
Ela conta que num relacionamento em que ela se doou muito foi tremendamente desprezada, e eu vou escrevendo, não desprezando sua vontade de falar, ser ouvida e ser um exemplo vivo de pessoa desprezada:
“Eu me sentia assim, cada vez que a pessoa ia na minha casa ou me encontrava eu me sentia a ultima das pessoas porque era só humilhação por mais que nos erramos jamais deveríamos ser humilhadas e rejeitadas.
Até que depois de muito choro resolvi dar um basta e seguir meu caminho, a saudade ainda dói, porque um grande amor nunca se esquece nem a humilhação nem o desprezo que passei”, ela diz ainda: “tá bom, tá bom, senão não consigo terminar meu serviço, pois vou chorar.”
Lia na sua simplicidade de Humana volta para seus afazeres cantando, meio que tentando disfarçar sua dor.
Porque será que desprezamos?
Um dia, sempre há um dia, seremos ou fomos desprezados, sentimos na pele esta sensação de dor e, porque insistimos em repassar para o outro o que um dia nos machucou tanto?
Hoje fala-se muito em espírito de solidariedade, de caridade, falamos muito em Deus, estudamos seus ensinamentos, porem vemos as pessoas cada vez mais insensíveis, desprendidas dos que algum dia lhe doou sua escuta, seu olhar, seu carinho. Será que não poderíamos reverter situações em que nos mesmos fizemos isso?
Não poderíamos também deixar de descartar as pessoas como se fossem copos plásticos ou resíduos infectantes?
O inverso do desprezo é consideração e respeito!
Queremos isso, mas estamos dando Isso ao nosso próximo?
Na minha singuralidade, como disse acima, cada um tem uma sensação singular de expressar como se sente num momento de desprezo, sinto esta sensação da seguinte forma:
È você perceber que esta morta, sim morta dentro de uma pessoa, estando você viva.
È terrível você se ver morto em alguém estando vivo, presenciando sua própria morte.
Não queremos a morte, principalmente quando estamos vivos e sentindo.

Walnei Arenque


O QUE VOCE SERIA CAPAZ DE FAZER PARA TER A TAL “FELICIDADE”?
Possivelmente tudo que pode e o pior o que não pode.
Um dos caminhos que nos prometem a felicidade é a ida a lojas.
Quanto mais caras, mais exclusivas, mais diferentes, tendemos a achar que seremos felizes com a tal aquisição.
A felicidade muitas vezes esta ligada a “ter mais que, melhor que, mais diferente que, mais cara que...
Não sei exatamente como, mas existem formulas já prontas para ela, a felicidade.
Fazendo aqui um amontoamento de frases e artigos midiáticos que li, chego à seguinte conclusão :
PARA SER FELIZ VOCE DEVE SER EXCLUSIVO, estar entre os poucos escolhidos.
Isso dá uma sensação de ser distinto do povão, isso povão, é dele que você quer se distanciar, afinal você se sente um dos poucos escolhidos.
ILUSAO!
Que idéia mais pobre sobre riqueza!
Aí vem a questão! .
Você lá pode isso?
Mas com certeza se não puder vai se sentir a pessoa mais INFELIZ do mundo e para chegar perto da TAL FELICIDADE, você saca, sim saca de sua carteira seu famoso cartão de crédito e parte para “Felicidade já, agora” e quando chegar em casa, talvez no dia do pagamento de sua fatura é que você percebera que não esta nada feliz e muito menos SACIADO na sua vaidade e a felicidade foi-se num instante.
Você já percebeu como aquela frase “ERA FELIZ E NÃO SABIA” esta sempre te rodeando? Possivelmente irá pensar: “Olha, até que eu era feliz sem aquela dívida que me arrumei e não tenho como pagar, tempos bons quando não tinha dividas!”
Portanto a FELICIDADE esta sempre no passado e ao mesmo tempo no momento de comprar, claro que tudo isso é uma ilusão “BEM VENDIDA”.
Você pode ir criando uma expectativa tão grande que fatalmente a frustração será tão malvada que não te poupara dos seus terríveis tormentos.
Por acaso eu estava folhando uma revista que tinha uma propaganda que dizia assim “compre tudo e não use nada” gente do céu, o que é isso??
Por tais motivos e, por outros logicamente, é que vamos ficando infelizes, pois como não podemos comprar “tudo” já nos sentimos excluídos e, se comprarmos tudo e não usarmos o “tudo”, só pode estar precisando de uma ajuda urgente, pois algum transtorno mental pode estar passando.
Um famoso jornal americano, uma vez por mês, traz um caderno com o seguinte titulo “COMO GASTA-LO”, o “LO” aqui referido, é dinheiro.
E quem acredita que comprar traz a felicidade, quando abrir o tal caderno vai se sentir a pessoa mais infeliz do mundo, porque os preços aqui são com certeza exorbitante, onde uma garrafa de vinho pode custar cem mil reais.
Aí sim você vai lá pra baixo se você entra nesse papo de FELIZ SÓ QUEM COMPRA.
O “estado de felicidade” foi substituído pela “busca da felicidade”.
Você vai pensando um pouco nesta frase e no próximo artigo vou falar um pouco sobre “estado e busca”, se é que preciso escrever sobre isso.
Acho que você já entendeu, né?

Walnei Arenque
segunda-feira, 14 de junho de 2010


O assunto pode ser dramático ou engraçado, tão humano e tão difícil de entender.
A mim, sempre buscando explicações e significados porque tão pouco entendo, me ocorre falar ou escrever exatamente sobre aquilo que menos sei.
Trabalho interminável, espécie de suplício de Tântalo: o pobre todo dia empurrando montanha acima uma grande pedra que voltava a rolar pela encosta, a fim de que o torturado recomeçasse mais uma vez.
Querer alcançar o significado das coisas, da vida, das gentes, de seus relacionamentos e desencontros, é um pouco assim.
Seguidamente me indagam – ou tento imaginar – o que seria um relacionamento perfeito.
Eu ia escrever “casamento”, mas preferi a outra palavra, porque ela não tem nada a ver com cartório e burocracia, opressão ou coerção social e familiar: tem a ver com querer se ligar a alguém, e querer continuar ligado.
Cada dia, ao acordar, fazer de novo a escolha: eu quero mesmo é você comigo.
Mas “perfeito” é uma palavra tola: perfeição, só no céu de todas as utopias.
Aqui, nesta nossa terra nada utópica, perfeição me pareceria um pouco entediante: como, nada a reclamar,
tudo assim direitinho?
Olho pela janela e bocejo: muito sem graça, a tal perfeição.
O céu com anjos tocando harpa pelo tempo sem tempo me deixava pasmada já na infância.
Nada mais?
Nem uma brincadeira proibida, um escorregão nas nuvens, uma risada na hora do sagrado silêncio... nem uma transgressãozinha na ordem celestial?
Minha alma indisciplinada não encontraria alimento nem estímulo, e ia-se desfazer em fiapo de nuvem embaixo de algum armário onde se guardassem os relâmpagos e os trovões, e todas as duras sentenças.
Então, relacionamento perfeito, nem pensar.
Mas uma ligação de cumplicidade e ternura, de sensualidade e mistério, ah, essa eu acho que pode existir. Como todos os contratos (não falo dos de papel mas de corpo, coração e mente), esse precisa ser renovado de vez em quando: a gente tira o contrato da gaveta da alma, e discute.
Briga talvez, chora, reclama, mas ainda ama, ainda deseja.
Ainda quer o abraço, o passo no corredor, o corpo na cama, o olhar atento por cima da xícara de café... quer até a desorganização e a ruptura, para depois de novo o que é bom se reconstruir.
Que seja vital: isso me parece uma boa parceria.
Que seja dinâmica, seja lá o que isso significa em cada caso.
Pelo menos, não acomodada; mas muito aconchegante.
Que seja sensual e amiga, essa ligação: se não gosto do outro como ser humano, com seus defeitos, sua generosidade e egoísmo, força e fragilidade, se não o quereria como amigo... como então, mesmo com tempero do desejo, posso me relacionar com ele para uma vida a dois?
O tema é quase infinito: pois cada caso é um caso, assim como cada casal é um casal, e cada fase da vida do indivíduo ou dos dois é diferente.
O bom é quando essa constante transformação se faz para maior cumplicidade, e não mais distanciamento.
Que um relacionamento não seja prisão; que não seja enfermaria nem muleta; mas que seja vida, crescimento (turbulências eventuais incluídas).
Que seja libertação e ajuda mútua; não fiscalização e condenação, a sentença pronunciada numa frase gélida ou num olhar acusador, ar de reprovação ou lamúria explícita.
Que seja cumplicidade, porque a vida já é difícil sem afetos.
O som dos passos no corredor pode ser um conforto inacreditável, o corpo ao lado na cama uma âncora para a alma aflita.
O entendimento recíproco é um oásis no isolamento desta nossa vida pressionada por tempo, dinheiro, regras, mil solicitações de família, trabalho, grupo social, realidade do mundo.
Que seja presença e companhia, o relacionamento bom: pois a solidão é um campo demasiado vasto para ser atravessado a sós.

Lya Luft

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“As palavras são a voz do coração. Onde quer que você vá,vá com todo o coração. Por muito longe que o espírito alcance,nunca irá tão longe como o coração.”(Confúcio)

Quem sou eu

Sou uma pessoa de bem com a vida e dificilmente você me verá de mau humor.Tento levar a risca o ditado "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você". Procuro me rodear de pessoas alegres e que me olham nos olhos quando eu falo. Acredito que energia positiva atrai energia positiva.

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